O QUINTO ANDAR - M.Luiza de Camargo Malina



O QUINTO ANDAR
M.Luiza de Camargo Malina

Uma vaga para cineasta, Gregório em seus 34, recém-chegado de Atenas, boa fluência em três idiomas e o razoável português, idioma de sua mãe portuguesa, boa aparência de jovem idealista, simplório, motivado a mudar o mundo, traz na mochila a esperança do sonho a se realizar.

Aluga, via internet um studio, com lazer e serviços inclusos no condomínio, na região da badalada avenida Paulista. Bastava-lhe roupas tropicais.

Ambientado em São Paulo, entra em contato com a “vaga” que não seria bem dele e, sim um treinamento em que, aprovado após os seis meses poderá escolher entre Nova Yorque ou os estúdio de Bolliwood.

Dedicado, foca sua vida na futura profissão. Seis meses concorrem com os sonhos. Com os pés no chão opta pelo horizonte de Bolliwood. Carismático, zeloso consigo mantém-se na reserva quanto ao agrupamento de novos amigos e sua possível opção de escolha.

 Após a conclusão do curso é anunciada a decisão pelos estúdios indianos e o seu retorno na noite seguinte para a Grécia.

Um Happy hour é oferecido no apartamento do amigo que mora no mesmo prédio.

“Nada melhor do que estar no mesmo prédio, afinal quando se está de malas prontas, surpresas nos aparecem” - disse a si mesmo.

Em conversas e projetos, um black-out rápido e, tarda-se até às quatro da manhã, em que ele sempre muito atento, dado à poucas bebidas alcoólicas, despede-se dos amigos.

Gira a chave na porta de modernas fechaduras, ao toque de música, após uma senha especial. Entra sem qualquer dificuldade, junto ao automático acendimento das luzes. Sente um odor estranho. Dá-se frente a frente com uma garota em trajes de odalisca, com corte na garganta, caída ao chão de bruços.

Branco, branco, branco em sua cabeça. Nada lhe ocorre, olha para a porta, está perfeita, nunca deu a chave ou convidou alguém para seu espaço. Sai em disparada, pede ajuda aos poucos amigos que continuavam no happy hour. Os amigos apavorados, em nada tocam e percebem que tudo está intacto na sala. Um deles, duvidando do que presencia, diz em pilhéria:

- Isso aí é pegadinha de grego! 

Gregório não lhe dá ouvidos, percebe que o cofre foi violado, o abre com a ajuda de um lenço e percebe que boa soma de dinheiro está desaparecida.

Polícia, delegacia, bafômetro, perguntas, passaporte, check-in da viagem, remexo em seus pertences particulares, dinheiro. Apavorou-se com o exame de corpo delito, que indicava sua prisão temporária para investigação e, consequente mudança de planos e da passagem, o que acarretaria maiores despesas, incluindo o aluguel do studio. A vida se tornou um nó.

A perícia percebe que, embora a jovem esteja com sangue escorrido, ressequido, no chão não há vestígio de sangue e, detectam que o caso ocorreu entre quatorze e trinta e dezoito horas. Em seu estômago não havia qualquer vestígio de alimento.

O susto entre os amigos foi geral, afirmaram que Gregório esteve desde, às oito horas da manhã em apresentação de finalização de curso e, após dirigiram-se direto ao 18º. andar, com muitas testemunhas a seu favor.

Gregório, num lance de memória incrível, descreve sobre a segurança da porta e seu acionamento de abertura, no entanto, na noite entre a madrugada houve um rápido black-out, de uns dez minutos no máximo, em que o gerador demorou a entrar em ação e, ainda assustado revela:

- A porta se destrava. Percebi isto nas constantes quedas de luz.

Com esta informação os peritos retornam ao local, constatando os incidentes, vistoriando as planilhas de visitas, câmeras de vigia, etc. sem conclusão. Gregório lembra-se: “vê-se em frente ao corretor e, que este lhe telefonou para confirmar a entrega do studio, deixando a chave na portaria. Simples - pensou. Relata o fato.

O corretor, a polícia descobre ele mantinha um studio no mesmo prédio, não o habitava. Recebia frequentes visitas. Foi chamado a depor.

Dois dias antes do ocorrido, uma jovem entra no prédio com uma pequena bagagem. Dirige-se ao último andar, entrou em seu studio e não foi vista sair. Ele transitou rapidamente entre a garagem e o andar, várias vezes, em uma das quais com sacolas.

Ao ser pressionado, após a perícia vasculhar o local em que, pertences relacionados a  vestimenta exótica, drogas, manchas de sangue ocultadas no chão do banheiro e absorventes higiênicos no lixo,  foi constatada a presença de uma mulher, o corretor apenas respondeu:

- Foi suicídio. Eu não sabia o que fazer com o corpo. Cobri a câmera do meu andar, do quinto andar e do elevador. Deixei o corpo na parte de serviço e causei o black-out. Calculei o tempo entre o gerador. Como sabia que as portas se destravam no momento do black-out, usei este studio. Errei quanto a data, pensei que ele já tivesse saído no dia anterior.

- Mas quanto ao dinheiro? Quem o levou? Pergunta o delegado.

- Fui eu. Está aqui. Desculpe. Estou arrependido, diz devolvendo a quantia exata.


Gregório segue para Atenas, com uma nova aventura para seu primeiro filme a ser rodado em Bolliwood.

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