Todos safados!
Fernando Braga
Irany era um funcionário do setor de
vendas de uma grande firma de construções. Seu diretor, Flavio, era terrível, muito
exigente, altivo, não deixava de criticar seus funcionários pela diminuição de vendas,
falta de projetos.
Marcava reuniões frequentes para mostrar
serviço a seus chefes e orientar aquelas¨ tartarugas¨ a serem mais ativas, mais
simpáticas, mais convincentes nas vendas, não podendo perder clientes em
nenhuma hipótese.
A situação estava difícil, as vendas
haviam caído muito no último ano devido a economia do país, desempenho fraco do
governo, falta de credibilidade. Dizia
ele:
—
Se vocês não venderem mais, vão acabar perdendo o emprego e vão me ferrar!
Claudio, este gerente, era simpático, mas
apenas com as mulheres, principalmente com
as bonitas, mas um casca dura com os seus dependentes no setor. Não era
apreciado, a não ser pelos puxa saco.
Certo dia pediu a Irany para ir a Santos
conversar com o dono de uma imobiliária, que sempre conseguia vender os
apartamentos desta construtora, mas que ultimamente vinha fracassando. Achou melhor dar uma chamada para ver se
acelerava as vendas.
Irany cumpriu sua função procurando o
melhor desempenho, mas sabia que ao voltar, seu chefe arranjaria algum ponto
para criticá-lo.
Já
eram três horas da tarde quando voltou e quando próximo ao Jabaquara, a
Imigrantes estava completamente parada por algum provável acidente. Ligou o
Wase de seu celular e por ele antes de ficar preso de uma de uma vez, entrou à
direita, vez, saiu do congestionamento, conseguiu pegar uma lateral que iria em
direção à Rua do Cursino e depois pela ponte atingir Vila Mariana. Atravessando
a ponte, também o trânsito estava congestionado, mas andava. Dirigido pelo GPS
foi pegando uma travessa aqui, outra ali para pegar um pedaço mais livre.
Por coincidência, ao pegar uma destas
transversais viu um Motel e dele saindo uma Mercedes preta e logo em seguida
reconheceu ser o carro do chefe. Estava dois carros atrás. Pegou seu celular e
tirou fotos do Motel, da Mercedes, do perfil do chefe, que também usava óculos
escuros. O transito parado, permitiu.
Era realmente ele e quem estaria ao seu
lado? Certamente não era sua mulher!
Decidiu segui-lo a certa distância. Com óculos
escuros, em seu carrinho, não seria reconhecido por ele. Após uns 10
quarteirões a Mercedes parou, desceu uma bela dama que após despedir-se com um
beijo foi em direção a um carro estacionado na frente. Irany estava parado 20
metros atrás e não foi percebido por eles.
Ele conseguiu fotos deles se despedindo,
ela atravessando a rua, entrando em seu carro. Não tinha dúvidas, era Cida, a desejada
mulher do diretor de produção, homem bem importante na empresa e que todos
sabiam, era muito, muito ciumento. Após ela sair, reviu suas fotos que estavam
ótimas. Resolveu não voltar ao trabalho.
Estava muito excitado e com um bom
material para se vingar daquele safado.
Em casa, chamou sua mulher e lhe contou
tudo. Ele sempre fora fofoqueiro, o que aprendera com ela. Ao receber os fatos,
ela delirou e disse:
—
Não vai fofocar, lembre-se que estamos duros e ele é riquinho. Chegou sua hora!
No dia seguinte, no trabalho, tudo corria
como antes. No tempo livre foi até o departamento de produção para conhecer
melhor a Cida e ao longe estava seu maridão, postado na sala especial, envidraçada,
em conversa com um cliente. Olhou aquela santa, que devia estar acostumada a
prevaricar, cumprimentou-a com a cabeça e viu que ela devia ter também uma
posição de destaque na firma.
Pensou: “Vou acabar com os dois! Com aquele jactancioso metido, impoluto e,
talvez com esta vigarista, desonesta! Estão em minhas mãos!”
Uns dias após, Claudio encontra sobre sua
mesa um envelope com seu nome. Sua secretária disse tê-lo apanhado do chão e
que alguém o havia empurrado por baixo da porta.
O envelope continha cinco fotos 10X15,que mostravam bem o seu
carro com a chapa exposta, a entrada do motel, um casal dentro do carro saindo
do mesmo, uma foto de seu perfil, ela começando a atravessar a rua e depois
entrando em seu carro, um Corolla prata.
Ao deparar com aquelas fotos por pouco
não caiu de sua cadeira, fez cara de horror e pegou um copo d’água. Disse a sua secretária que precisava ir embora
por estar com forte dor de cabeça. Saiu olhando para todos que estavam na
grande sala adjacente à sua, trabalhando.
Foi para um bar que costumava frequentar
onde tomou uísque duplo, duas doses e lá
ficou tentando descobrir quem teria feito isto com ele. Certamente não era um
amigo! Seria algum conhecido, que os vira por acaso? Seria um dos funcionários?
Mas naquela hora todos estavam
trabalhando. Seria algum detetive contratado pelo marido dela?
Meditava: “Meu Deus, a situação é séria. Se esta pessoa comunicar minha mulher, ao
marido de Cida, a encrenca é certa e das piores. Poderia até perder o emprego. Seria
conveniente falar com Cida? Mas para quê? Só iria deixá-la descompensada e daí...acabou!”.
Chegou à conclusão de que devia ser alguém
próximo, inclusive para colocar as fotos por baixo da porta.
Começou a analisar um a um de seus funcionários,
inclusive as mulheres. Sentia em seu íntimo que realmente era alguém de dentro.
“Pera aí, aquele dia, o único que não
estava presente era o Irany, que tinha enviado a Santos e que não voltara ao
trabalho”.
No dia seguinte, chamou Irany à sua sala. Perguntou como havia sido o
encontro em Santos, a que horas havia voltado e porque naquele dia não
retornara ao trabalho. Com a cara explicitada por Irany, disse em seguida:
— Foi você seu fofoqueiro, seu crápula que
colocou este envelope por baixo da minha porta?
Irany, sem receio disse:
—
Crápula é você seu safado, que anda saboreando a mulher do coitado do seu
Aristides, seu patrão. Ele não vai gostar de saber disto! E sabe que ele é
ciumento!
— São exatamente 200 mil para eu ficar
mudinho.
—
Você está me chantageando? Me achacando?
—
Estou sim! E, não gosto de você!
—
Você ganhou seu FDP! Vou te dar 100 mil e nada mais!
— Então 150 e estamos fechados!
—
OK 150, mas nunca, nunca mesmo conte isto para alguém, inclusive para sua
mulher.
—
Se você contar ou querer me achacar novamente, vou encomendar a sua morte e
você pode ter a certeza que eu cumpro.
— Me dá a gaita em notas de 100 e 50 e
fique sossegado!
Irany era homem de palavra, recebeu a
grana e nunca falou a ninguém, embora fofoqueiro. Deu um pouco para sua mulher
e mostrou a gravidade, caso ela contasse para alguma amiga.
Dois meses após, Claudio, seu chefe, comunicou
a todos que estava mudando para uma filial em um bairro distante. Todos ficaram
muito satisfeitos com a sua saída, exceto algumas, que o achavam sexy!
Com exceção de Irany, achavam que ele
havia sido promovido!
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