O mistério da Rua do Frade - Carlos Cedano



O MISTÉRIO DA RUA DO FRADE
Carlos Cedano

Seu Mário, Chefe de Investigações Criminais, desligou o telefone e permaneceu em silencio alguns minutos, depois chamou seu assistente de confiança e lhe disse: Raul! Acharam vários cadáveres na Rua do Frade. Eles estão num galpão abandonado que é abrigo de mendigos. Vai lá investigar e me mantenha informado.

No local do crime o assistente conversou com a pessoa que tinha ligado para a delegacia. Ele disse que nos dois últimos dias sentia um cheiro muito desagradável vindo do galpão. Quando Raul entrou contou oito cadáveres, ligou para o chefe e pediu a presença urgente de um legista e da equipe de pericias.

Procurando mais informações na vizinhança Raul soube que ao lado do galpão havia uma pequena igreja demolida após  o padre Manolo, o pároco, ter largado a batina. A maioria das poucas pessoas que assistiam à missa dominical eram mulheres, mais interessadas pelo padre Manolo que por devoção e onde se destacava uma que tinha uma tatuagem de ancora no braço esquerdo! Disse uma mulher.

Seu Mariano o antigo sacristão disse que o padre Manolo dava aos mendigos assistência material e espiritual. Quando partiu a única pessoa que os ajudava era uma misteriosa dama que uma vez por semana trazia mantimentos e remédios, deixava as coisas na calada da noite e logo ia embora. Ninguém a conhecia, ninguém nunca a viu de perto e sempre vestia de preto fechado e tinha um enorme chapéu preto, era como uma aparição!

Em relato preliminar de Raul disse para o Chefe que todas as vítimas eram da terceira idade e sem documentos.  As mortes parecem ter sido causadas por intoxicação aguda devido à ingestão de peixe em conserva com data vencida e outros alimentos estragados. Estamos esperando confirmação dos resultados dos exames toxicológicos e análise dos poucos objetos encontrados, ah! Estava esquecendo, também visitei a sede da ordem onde falei com o Padre Superior.

  — E dai? Perguntou o chefe.

  — O último que soube dele é que viajou para Porto Alegre, seu nome completo é Manolo Murilo Martines de trinta e cinco anos de idade! O Padre Superior me deu algumas fotos dele.
— Acho que o eixo de nossa investigação passa pelo padre Manolo e pela misteriosa mulher e ver se existe conexão entre eles, mas antes devemos saber mais do padre Manolo. Amanhã cedo vamos para Porto Alegre! Disse seu Mario pra seu colega.

A conversa com o Diretor Geral da Policia de Porto Alegre foi intensa e promissora, acordaram distribuir cartazes com fotos do padre Manolo em todas as delegacias do Estado junto com suas características físicas.

Dois messes depois.

Seu Mário chegou à sua delegacia e Raul o informou que tinha noticias do padre Manolo. Um investigador gaúcho de férias em Florianópolis, viu na praia da Solidão um rosto que reconheceu. Após visitar muitos hotéis, num deles sua foto foi reconhecida pela recepcionista, estava registrado com o nome de Paulo Roberto Linhares.

Chefe e assistente voaram até Florianópolis e no hotel, quando os investigadores ficaram frente a um casal, seu Mário dirigindo-se ao homem disse:

  — Bom dia padre Manolo, faz tempo estamos procurando pelo senhor e sua esposa ou devo dizer sua cumplice?

O casal ficou estupefato e sem reação, seu Mario aproveitou para separar o casal. A estratégia era jogar um contra o outro comunicando a cada um deles que o outro o acusava de ser o único responsável pelos crimes!

Foram todos para São Paulo onde o Investigador Chefe recebeu o relatório final da pericia! Ele o leu calmamente e decidiu interrogar primeiro o padre Manolo. Com habilidade  conseguiu respostas para as perguntas que lhe fez e logo foi a interrogar a mulher em outra sala. Entrou e foi logo perguntando:

— Com certeza seu verdadeiro nome não é Maria Ramos né, Dona Julia?

         — Não!  Sou Julia Barbieri e vejo que o padre já abriu o bico né?

A estratégia funcionou e o que era uma dúvida passou a ser uma certeza, agora só faltava confirmar o motivo. Sem dar-se o trabalho de responder à indagação da mulher seu Mário continuou com outra pergunta:

  — Qual era o “tamanho” do motivo que os levou a matar oito idosos?

 — O Velho Piero, que era o mecenas do grupo, falava pra todos que possuía muito dinheiro em títulos ao portador e valiosas joias no cofre de um banco, mas que como não tinha família deixaria a grana par uma instituição de caridade. Foi por isso que Manolo pensou que alguém podia dar com a língua nos dentes e logo me disse que todos deveriam morrer!

 — Você o conhecia o padre muito tempo?

— Nos já éramos amantes há quase dois anos, planejamos tudo, mas faltava saber o nome da agencia do banco, o código do cofre e ter a posse da chave.

  — E como conseguiram essas informações?

  — Foi um trabalho de paciência do Manolo. Como os mendigos se confessavam semanalmente aos poucos conseguiu saber do próprio líder o tamanho da fortuna: era grande, muito grande! Juntando as informações do Piero com os comentários dos outros mendigos, soubemos que os dados bancários e a chave estavam sempre com o próprio.

Enquanto a mulher falava, o Chefe se abaixou e pegou um pacote que foi desembrulhando sob o olhar ansioso da interrogada! Seu Mario tirou uma sólida bengala, um velho cachimbo e um estojo de óculos, objetos encontrados junto a um cadáver.

Acho que agora posso responder a suas indagações, disse seu Mário. Nossos peritos acharam os dados bancários e o código do cofre num rolinho de papel colocado com cuidado no cachimbo; quando tiramos a empunhadura da bengala ficamos surpresos de não achar a chave do cofre! Como se explica isto dona Julia?  Não, não precisa me responder disse seu Mario! Eu vou explicar e me corrija se estiver errado!

Copiar os dados da conta e do cofre e depois recolocar o rolinho no cachimbo foi fácil; já para abrir o cofre vocês precisavam da chave de segurança. Quando você voltou ao galpão nossa equipe já estava trabalhando na cena do crime e você não teve como recoloca-la na bengala!  Hoje nos confirmaram seus saldos bancários, ambos com vultosos saldos decorrentes da venda dos títulos. Agora falta saber onde estão as joias! Mas você vai no dizer né dona Julia?

 — Eu falei pra o Manolo que não era necessário recolocar o rolinho no cachimbo nem a chave na bengala, mas ele insistiu tanto em fazer de seu jeito que veja no que deu! Achava que isso despistaria a investigação noutro sentido!

 — Obrigado dona Julia, escutando sua confissão o padre Manolo confessará rapidamente, caso contrario temos as impressões digitais que vocês deixaram com generosidade em toda a bengala! Ah! A senhora tem uma tatuagem de ancora no braço esquerdo? Dona Julia respondeu sim e desabou! Chorou tão intensamente que as secretárias não conseguiram deixar de sentir dó dessa moça tão bonita.


O Chefe Mario disse, falando com sua secretária, foi um trabalho de amadores! E saiu da sala.

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