Qual
o seu número?
Vera Lambiasi
Nelson começou bem cedo seu negócio
de sapatos em Altinópolis.
Com olho bom para modelos,
escolhia-os em Franca, na própria fábrica, encomendava-os, e recebia um
caminhão cheio em sua loja, na avenida Central.
Tinha o estoque todinho memorizado,
e adivinhava cada venda.
De uns tempos pra cá começaram a
sumir muitos pares de número 41, masculino, preto.
Depois do 6º par roubado, a polícia
foi chamada.
Vitrines, prateleiras e sofás
revistados, nenhuma evidência encontrada.
Nelson soube de uma experiência
extracorpórea de visitar lugares sem ser visto.
O mago em questão garantia que o
tornaria invisível.
Nelson queria correr a loja e xeretar
o que faziam seus funcionários em sua ausência.
Marcado o dia, vestiu-se de branco,
entrou em meditação com seu guru, sentados em calmaria no seu templo.
Sentindo-se sonolento, saiu de seu
corpo. Parecia dormir, mas voava sobre a cidade.
Avistando sua loja, desceu, e entrou
pela porta da frente.
Incrível, ninguém o via.
Vilminha, no caixa, fazia uma
cobrança.
Oswaldo, seu melhor vendedor,
equilibrava umas caixas empilhadas em direção à uma senhora que com nada se
contentava.
Ambos empregados de confiança
entretidos, Nelson flanou até o depósito.
Em um canto escuro, sua esposa fazia
experimentar um calçado preto no pé direito do Sargento Molina.
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