HOMEM
QUE É HOMEM
Mario Tibiriçá
Quando entrou na
minha sala pela primeira vez para a entrevista inicial desde
logo fiquei encantado. Era linda
a moça Lucy, corpo escultural, alta, tez amorenada, lindos cabelos negros e expressivos olhos
verdes investigativos,ainda com um sorriso absolutamente devastador.
Além dessas qualidades estéticas maravilhosas, destra
em datilografia, mostrou-se inteligente, com a indispensável cultura necessária
para o cargo que pleiteava. Atenciosa e
educada, foi contratada para ser a minha
secretária executiva, eis
que como diretor e sócio majoritário da empresa eu
estava totalmente comprometido
com os assuntos comerciais.
No claustro do
meu isolamento, pela recente viuvez, entorpecido pela avalanche de serviços, sem duvida a
jovem seria o indispensável
pilar para o desenvolvimento do meu trabalho e sucesso da empresa. Além do trabalho
desenvolvemos forte amizade, fui conhecer sua família, sem chefe mas com
a mãe e irmãs trabalhadoras.
Sem duvida, evidentemente aconteceu o interesse pela moça, e a justa pressão por momentos
felizes e despreocupados
tornaran-se inadiáveis. Mantendo uma
postura educada, as palavras com
eventuais ressonâncias íntimas e sentidos divergentes, tinham o
sabor do nada. Meu
desejo me enlouquecia, mas
mantive a educação e a cordialidade.
Até que em determinado feriado ´prolongado, a
família da jovem resolveu viajar
e Lucy pediu-me dois dias de
folga, que infelizmente não poderia conceder,
face a entrega de serviços urgentes com
receitas fundamentais para a Empresa.
No
dia seguinte veio á mim, para
dizer que não tinha condições de ficar sozinha na sua casa, receios e medos a
intranquilizavam, não descansaria, não dormiria nem viria trabalhar. Quase desmaiei de susto quando minhas pernas
tremeram face a pergunta surpresa : “
Posso dormir no seu apartamento ? Antevendo
dias felizes e emocionantes, acentí, informando-a que seria recebida como uma princesa, embora ela
tenha deixado claro e alertado-me que
não tivesse outras ideias e interpretações.
Preparei-me para o dia, levei-a para
jantar, até dançamos um pouco e finalmente fomos para meu apartamento.
— Então Décio, chamando-me pela primeira vez
sem o
Dr. onde é o meu quarto? Mostrei-lhe
todo o apartamento e ela
verificou que havia apenas um quarto.
— Deixe,
vou dormir naquele bonito sofá da sala, apenas quero um cobertor.
— Vai sentir muito frio além de ser muito
desconfortável, não permitirei seu
desconforto e sentenciei: DORMIRÁ
COMIGO !
— Não ouse
ter ideias Decio - pegando a bolsa
disse - vou para a rua.....
— Calma
menina, afinal sou um cavalheiro, não um estuprador, só teremos algo mais, se quizer.
— Bem ! sei
que é um homem sério e educado e que não trairá suas palavras, mesmo porque se
ousar, sairei correndo, mesmo de camisola, afim de provocar um escândalo.
Embora enlouquecido de desejo represado há tempos,
aceito a condição.
Nervoso, deitei-me na cama de casal espaçosa sempre esperando que pudesse haver uma
reviravolta e noite dos sonhos. A
linda jovem vestindo uma camisola sem transparência,
deitou-se ao meu lado, desejou-me uma boa noite, virou-se
e apagou sua luz de cabeceira.
Viúvo há alguns anos, muitíssimo excitado, nervoso,
com o cérebro a ponto de explodir, os dilemas poluíam minha cabeça. Avanço? Na marra, será o que
ela espera, ela vai gostar? É tudo um joguinho? Sou um bobo da corte,
idiota, conseguiria a gloria noturna não sendo nada? As dúvidas que me assaltavam enlouqueciam,
e as horas passavam lentas e vazias, fui
encontrar a personalidade com a perda dela,
tinha os olhos cansados
do choro que não tivera, mas a fraternidade tem sutilezas. Ou bem sou um
homem, mesmo tolo, enfrentando
possível joguinho, ou um crápula aproveitador.........
Esta jovem está enganada, sou um homem, enfiei minha cabeça no fofo
travesseiro, enterrei minhas unhas nos braços para me segurar e
adormeci.
Quando acordei-me pela manhã, Lucy já estava no
chuveiro e o pequeno banheiro trancado.
Fui para meu banheiro
barbear-me, tomei uma ducha fria e ainda de chambre apresentei-me na sala. A
mesa do café posta, suco pronto, o leite fervido, e no meu pratinho um papel que apenas dizia:
— É mesmo um homem, obrigado. Agora somos realmente
amigos, tem a sua vida e eu a minha.
— Mas, estou
apaixonado - disse eu.
— Paciência - respondeu ela. O tempo será o melhor remédio.
Na semana seguinte
entregou-me o pedido de demissão.
— Serei eternamente sua
amiga para qualquer coisa, a qualquer hora estarei á sua disposição, porque sei que é um homem
com agá maiúsculo. Passados cinco
anos, nos falamos quase sempre,
tornou-se amiga fiel e preciosa, além de
compadres, pois sou padrinho de um de seus
filhos.
Sempre penso que valeu
ser homem com agá maiúsculo, fiquei enriquecido com o episódio.
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