A LUA BRANCA - M.Luiza de C.Malina


A LUA BRANCA
M.Luiza de C.Malina

Ela abriu a porta da noite. Agigantou-se no secular vestido branco de gaze.  Mariposas silenciosas, na dança ondular da luz que as provoca, desfalecem exauridas.

O mar se acalmou, para apreciar o êxtase da luz, no quebrar das borbulhas espumantes sobre as marolas, deliciando-se embriagado.

Ela o hipnotizou. Não percebeu o quanto se distanciava da amada que, no clarear do dia ainda o mantinha preso. Não percebeu o quanto e rapidamente recuou. Não percebeu que no dia seguinte, atordoado lá estava o mar de olhar fixo na boca da lua que o engolia.

Esquecido tal qual um copo vazio deixado na varanda. Assim estava.

O arroxeado céu matinal deu seu sinal mais cedo. Aos poucos, o murmurinho e o silêncio da maré baixa, chamou atenção dos caminhantes. Casos estranhos aconteceram na noite, igualados a um torpor, uma ausência de pensamentos, uma calmaria.

No preguiçoso café da manhã os comentários se colidiam:

- Curioso - comentou Úrsula - não ouvi os cães à noite.

- Tampouco eu, que implico com as buzinas dos carros – riu-se Rolf, acordei cedo.

- Bem, como sempre me transformei em koala. Dormi profundamente. Mas olhem que estranho, o jardim amanheceu florido, a grama me parece mais verde!

- Vou tirar isto a limpo, vou espiar o pomar – Debora levanta-se, surpresa olha pela janela as árvores sazonais repletas de frutos - soltou a voz surpresa:

- Vocês não vão acreditar! Com certeza foi o efeito da Lua Branca, o pomar está repleto de frutas.

- Ótimo teremos limão para a caipirinha.

- É cedo para isso, vamos caminhar – incentivou Erico – vejam isso lá adiante!
As pessoas chegavam à ilha com água pelos pés.

- Inacreditável! - Rolf reclamava que estava difícil pisar na areia, que seu ondulado mais se parecia às incômodas caixas de ovos. Naquele trecho, as águas, na pressa do recuo, deixaram suas marcas para trás.

- Trezentos e quarenta e cinco passos, para ter água nos pés! Registrou Erico.

Assim caminharam até a ilha admirando com certa curiosidade melancólica, as mornas águas translúcidas que os acarinhavam no lento vai e vem ao calcanhar. O vento sul batia  trazendo o aroma calmo do denso mato amanhecido,  o cheiro das algas e conchas desusadas.

 - O mundo podia ser assim, sem poluição – alguém comentou entre o burburinho abafado dos turistas.

Nenhuma necessidade de resposta.  Até mesmo os insetos estavam ausentes. Onde teria ido parar aquelas insuportáveis baratas d´água e os minúsculos peixes entra as pedras?

O branco da ausência predominava sobre os sentidos.

A Lua Branca insensível escondia-se  entre nuvens translúcidas que nada sombreavam.  Esquecera-se dormitando entre o mar azul e o azul do céu.
Dois meses se passaram. Úrsula encontra-se com Debora:

- Tenho uma surpresa para você!

- Eu também, e que surpresa Amiga, diga você primeiro.

- Estou gravidíssima!

- Hahaha... Eu também!

Será que foi o efeito da Lua Branca?

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