AMOR
DE PRAIA NÃO SOBRE A SERRA
M.Luiza de C.Malina
As férias tinham um
destino certeiro – a praia. A nossa sorte é que podíamos levar amigas e amigos,
o que tornava mais alegre os anos que seguiam.
O grande dia chegara. Na
véspera a checagem dos detalhes da festa estava impecável. Familiares reunidos
relembravam a casa de praia sempre cheia, era um espaço muito vivo. Nas bainhas de conversa de
comadres, surgiam perguntas corriqueiras como: o que foi feito de fulano,
beltrano etc. e as notícias doces e salgadas fomentavam as bocas com pitada de
veneno, até que chegou ao ponto fatídico:
- Vejam só! Quem disse que
“amor de praia não sobre a serra”?
Amanhã ele subirá a serra
definitivamente. E que belo rapaz!
- Pois é – responde a mãe
– quanta aflição com este namoro de verão, mas pelo menos consegui segurar
minha menina!
- Que antiquada!
- Sim. Fiz isto, porque
certa vez ouvi o sogro, que diga-se de passagem um tanto garanhão, se referir
ao candidato a genro “segurem suas cabras porque meu bode está solto”.
Não sabia se a gargalhada
era pelo pai ou pelo filho. Mas rimos muito e completei:
- Que coisa para se falar
de um filho!
O dia seguinte seria o da
famigerada comunhão.
Na igreja, posto no altar,
o “filho do bode” brilhava imponente em seu bronzeado de manso bon-vivant.
Cochichos das casadoiras, ao pé de ouvidos com olhos faiscantes em direção do
noivo, eram percebidos a olho nu. Ele, contudo, ostentava
a bela dentadura.
Os minutos se passam a
passos largos, o noivo inquietou-se, as madrinhas em sapatos apertados trocavam
a perna de descanso, as daminhas do lado de fora, brincavam de pega-pega,
desmanchando o penteado. A moça da harpa já repetia as músicas.
Todos nervosos. O padre
intervém. Celulares são acionados à procura da noiva. Nada. O carro da noiva se
aproxima. Mais um alvoroço. A porta da igreja é fechada. No silêncio reina a expectativa.
O noivo se endireita. Violinistas a postos.
O motorista desce
calmamente em direção do pai, cochicha ao seu ouvido. O pai, com um tapinha no
ombro agradece. O carro segue.
O comunicado seria
difícil. Resolveu ser breve e prático, sem muito nhenhém. Apega-se a frase que tanto ouviu,
enquanto caminha, pelo tapete vermelho.
- Amigos, “amor de praia
não sobe a serra”. A noiva desistiu, mas a festa acontecerá, fiquem à vontade.
Um OHHH! Uníssono entre
olhares trocados selou a notícia.
Dirige-se à esposa
oferecendo o braço e, se retiram pelo tapete vermelho.
Na festa, enquanto o noivo
passava de mão em mão, a noiva envia uma mensagem de texto aos pais: “Desculpe
a batata quente que deixei, espero que tenham descascado bem o abacaxi. Amo
vocês, Paris me espera.”
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