O viúvo, quem diria... - Oswaldo U. Lopes


O VIÚVO, QUEM DIRIA...
Oswaldo U. Lopes

José Eduardo, 50 anos incompletos, executivo bem sucedido, três filhos  já encaminhados na vida, enviuvou subitamente. Uma febre alta, manchas pelo corpo e Isabel morreu. Resultou uma dor que pareceu infinita, que não tinha remédio e nem o dolorido parecia querer livrar-se dela.

Mas, estimado leitor, muito do que vivemos e para os mas...O tempo encarregou-se de envolve-lo e tirá-lo das trevas e sombras da perda. Fez os cinqüenta anos que não comemorou e logo começou a pensar nela de outra maneira. Nas coisas que ela implicava ou tinha medo e não queria que ele fizesse.

Correr de moto, fazer rafting, pular do alto preso numa corda com elástico etc. E pensem, no Brasil, com exceção da moto, não há esportes radicais com características de colocar a vida em risco. Alguns hão de argumentar que nos vôos solitários tem havido situações graves e mortais, mas esse tipo de esporte José Eduardo evitava, dizendo que não tinha estrutura de pássaro.

Uma coisa que não se podia dizer de José Eduardo é que fosse culto, daquela cultura que se consome na Europa ocidental, ou meditativo e calado o que o levaria para o oriente distante. Gostava mesmo era dos desafios da natureza, corredeiras, montanhas, vales profundos e rios caudalosos, por essa e por outras é que embarcou para a Nova Zelândia. Arranjou um mês e se foi.

O rafting foi exatamente como ele queria e Isabel temia. Estavam em quatro no barco. Um guia experiente que acreditara que todos eram da categoria sênior, um jovem que mal passava dos vinte anos e uma bela moça que tinha aquela idade indefinida, tipo categoria Balzac, embora já tivesse deixado os trinta anos para traz. Sentiu os calafrios e a barriga gelada, sobretudo na corredeira inclinada,  e até pensou em Isabel e no fato de que poderia encontrá-la, logo, logo.

O body jumping  foi legal, começou pelos vinte metros e acabou nos oitenta metros, com direito a entrada na água antes que o elástico o puxasse de volta. Lamento informar aos mais românticos que já não pensava tanto em Isabel. Ah! Ia me esquecendo a jovem balzaquiana chamava-se Chris, conhecia o Rio e fez questão de acompanhá-lo em todos os saltos.


         Não é, como diriam os cínicos, quem morreu foi a mulher do viúvo, e não o viúvo?  Isabel compreenderia?

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