A
festa do caqui
Suzana da Cunha Lima
- Sabe o que aconteceu com
o Pacheco?
Neguei com a cabeça, pois
estava muito atarefada em fritar os bolinhos de queijo para o coquetel. Mariette não se fez de achada: o serviço dela
era colocar petiscos nas petisqueiras, o que não exigia muito de seu cérebro, a
meu ver, do tamanho de uma azeitona..
- Ele enfiou o pé na jaca,
querida. Diante de todo mundo, naquele dia da reunião que você não veio. - anunciou
triunfante como se a desgraça daquele cabeça de chuchu, que era o Pacheco,
fosse desconhecida por nós que trabalhávamos há anos naquela cozinha do hotel.
- Mas o Pacheco só fala
abobrinhas mesmo! – disse eu com
relutância – Outro dia ele viajou na maionese quando quis convencer nosso chefe
de cozinha que o azeite simples era melhor do que o extra-virgem.
- Mas eu já ouvi falar
disso também, Eunice. Quem me disse foi
aquele garçom novo e bonito que se acha o rei da cocada preta.
- Vocês e o Pacheco são farinha do mesmo saco,
isso sim – completei - Mas o Pacheco,
coitado, nem tem culpa, ele é fraco das ideias. Ouve o galo cantar sem saber
onde, e acaba deixando a batata quente em nossas mãos. Acho que foi trauma de infância, mas aqui
ninguém quer despedi-lo.
- Por quê? Tem cota também
para deficientes nos restaurantes?
- Depois que você chegou,
começo a desconfiar que tem, porque no fim, sobra para nós cada pepino para
descascar que você nem imagina....
- Mas o que azeite, batata
e pepino tem a ver com o Pacheco? Acho que você está misturando alhos com
bugalhos e fazendo uma salada de frutas.
- Não vamos discutir mais,
Mariette. O Pacheco vai ficar porque o
patrão, com toda aquela cara de bravo, é uma manteiga derretida. Sorte do
Pacheco. OK? Mas não dê muita sopa por
aí, emitindo estas opiniões. O mar não
está para peixe. Veja o restaurante do
tio Pepe. Era sempre cheio e está quase
sempre vazio. E tio Pepe não tem papas na língua, o que tem a dizer, diz ali,
na bucha, não fica enchendo linguiça nem mandando recado.
- Vai ver que é por isso
que está fechando. A gente tem que ter consideração com os outros, Eunice. Este garçom novo está me chamando de docinho
de coco, já pensou?
- Já pensei foi no seu
serviço que está atrasado. Já colocou os
vasinhos de flores nas mesas? Está quase na hora de abrir. Vamos menina, este serviço é mamão com açúcar, não tem
outro mais fácil.
- Já vou, já vou, Eunice. Mas que casamento é este que nem tem bolo?
Parece mais a festa do caqui de minha cidade, se eu te contar...
Mariette! Se afia, menina,
o chefe já avisou que isso aqui não é reunião de político que acaba em pizza...
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