Viagem
Sinistra
Vera Lambiasi
Maria Quitéria foi se meter a
passar o Carnaval com a mãe, em uma pousada de Brotas.
Somavam 150 anos, mas ainda
entornavam várias taças de vinho por noite.
Numa dessas noitadas, houve
um bailinho com marchinhas do passado :
“Eu, fui às touradas de
Madri, para tim bum bum bum ...”
E as duas se jogaram na
pista, enquanto os outros hóspedes riam à boca pequena.
Alheias a tudo, divertiam-se
em confetes e serpentinas.
No final da semana de momo,
ficaram todos amigos, e, a mais venenosa das turistas, colocou as manguinhas de
fora :
—
É
casada, Maria Quitéria?
—
Divorciada,
Querida!
—
Falei
para o meu marido. Com aquela alegria toda, só podia ser separada, ou, viúva.
Pobre companheiro daquela
cobra, queria vê-lo pelas costas, e entreter-se também.
O último passeio da temporada
seria um bem radical, e Maria Quitéria insistiu em levar a pobre mãe. Na
verdade, dona Almerinda era uma rica viúva, bem da maluca, e topou, sem pestanejar, a aventura.
Trilhas perigosas, entrando e
saindo de botes em rios nervosos. Boias precárias de pneu de caminhão, entre
pedras pontudas. Voo em cordas amarradas em árvores. Içadas cachoeira acima,
tomando água na cara.
Façanha sinistra aos olhos do
povo.
Recreio infantil para as duas
birutas.
E o feitiço, virou contra a
feiticeira, àquela invejosa.
O marido encantou-se, não por
Maria Quitéria, A Desquitada, mas por sua mãe, que ainda dava seus pulinhos:
Pim pam pum ...
Foi cair nos braços do
mancebo, e dali não queria mais sair.
O homem renasceu, ao sentir o
perfume fino da mulher madura.
Dançarina, esportista,
chique, e dando mole?
Encanto vai-e-vem, não
largaram-se mais.
E foi ao som de: “Menina,
você é um docinho de coco, tá me deixando louco, tá me deixando louco ...”
Que a esposa chata dançou.
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