NADA INSPIRA MAIS CORAGEM AO MEDROSO DO QUE O MEDO ALHEIO - Oswaldo Romano




NADA INSPIRA MAIS CORAGEM AO MEDROSO DO QUE O MEDO ALHEIO

Oswaldo Romano                                                                      


        Como podemos vencer na vida sem tentar? Veja que somente esta lógica já nos mostra apreensão e  medo.

        O medo nos acompanha muito mais do que pensamos. Só de pensar nele já nos preparamos para uma defesa.

        Quando temos conhecimento de que nosso interlocutor, qualquer que seja ele, é inferior a nossa apreensão, nosso medo se impõe e inspira força, inspira coragem que no momento eleva nosso desempenho.

      Certa vez um grupo de empresários foi convocado por ordem de um Ministro. Eram cartas registradas “Urgência-Urgentíssima”, deviam comparecer na Diretoria Executiva de Exportação do Ministério do Exterior.

        Eram doze. Os trambiques aplicados nas portarias 13/14AB e 17M foram os motivos que os deixavam assustados. Reuniram-se, discutiram esse assunto, procurando qual a melhor saída, a melhor defesa. Um deles, o Jasmann, mal sustentava a caneta na reunião. Estava com muito medo. — As multas, gente. As multas... Dizia. O mesmo acontecia com outros que apoiavam a mão na mesa, resistindo a tremedeira.

        — O Ministério descobriu nosso lobby. Sujou - disse Jasmann.

        Encerrando a reunião, tensos, combinaram o traje para comparecer. Afinal não é qualquer hora que se conversa com um Ministro. Tinham que se apresentar a altura, mostrar categoria, atrair confiança.

        Na manhã seguinte encontraram-se no Aeroporto. Não estava frio, mas vários mantinham as mãos nos bolsos. O fato chamou a atenção do que presidiu a reunião e questionando um mais chegado, ouviu dele estar tremulo. Exagerou dizendo que poderia voltar escondendo não as mãos, mas algemas.

        Chegaram no horário e apreensivos deram entrada à sala de espera. Foram trinta minutos de sofrimento. Olhando as paredes, pouco conversaram.

        Chamados, entraram na imponente sala do Ministro. Este, sisudo, ofereceu as cadeiras postadas na mesa oval. Até então se mantinha quieto, dando rápidas miradas nos presentes.

        A maioria não sabia como se portar. Ajeitavam-se nas cadeiras, aguardavam.
        — Senhores, sejam bem-vindos, - Disse o Ministro quebrando o silêncio.
Sem exceção todos se mexeram, - Alguns uma limpadinha na garganta.

        — Tenho aqui a relação dos senhores, mas como não os conhecia pessoalmente, minha assistente vai cita-los. A medida da chamada, por favor, dê-me um sinal.

Mal começava a apresentação, foi interrompida com a entrada de três militares regiamente fardados. Um deles, certamente o comandante, foi até o Ministro que sentava na cabeceira. Deu-lhe um cumprimento militar, e sussurrou no ouvido algumas palavras. O Ministro confirmando com gesto, mostrou que sim. Novo cumprimento, - retiraram-se.

        Desconfiados, trocaram olhares, aquilo agitou cada pensamento.

        A assistente recebendo ordem do Ministro continuou a apresentação. Cada nome era seguido da empresa e da posição que exerciam junto aos Sindicatos. No fim das apresentações, ouve um momento de relax quando o Ministro disse:

        — Bem, senhores. Peço desculpas de movimentá-los até aqui, mas não fosse assim, dificilmente conseguiria dar todas minhas explicações.

        — Sem problemas Senhor Ministro, acho que ninguém aqui vai se incomodar. Foi uma tranquila viagem, disse o líder.

        — Nossa balança comercial como sabem, está com um elevado déficit. Esta convocação tem por fim fazer com que, se reverta este resultado, ou pelo menos paliativa. Unidos e com garra poderão fazer isso. A  maioria dos senhores dirigem Associações e a poderosa FIEST. Dou-lhes liberdade de sugerir qualquer medida, que amenize esta situação. Precisamos aumentar nossa exportação.  

        Tenho um resumo de cada um e das suas empresas. E tenho também suas dificuldades junto a receita. Sabem certamente do que estou falando.

        — Nesse momento deu um nó no ambiente. Lembrava O Silêncio do Tumulo. Ai ele continuou:

        — Estou sendo pressionado pela Presidência e carrego um grande receio, na verdade um grande medo, de ser substituído neste semestre. Com apoio dos senhores é possível reverter esta situação. Ficaria bom para ambos. Os senhores têm alguma sugestão?
        — Uma questão de estudo Sr. Ministro. Pode dar-nos vinte minutos em sala reservada para trocarmos ideias? O Senhor terá nossa resposta.  

Chamando a assistente, esta providenciou a mudança. Mal fecharam a porta,  surpresos, o líder falou:

        — Ufa! Que sorte! Menos mal. Abra a janela, deixe sair toda nossa pressão.
A solução é fácil. Vamos embarcar todas as exportações que aquelas portarias impediram, desde que ele anule-as. Perderemos um pouco, mas ficaremos livres até dos processos. Acho que ninguém vai discordar. Estamos com o rabo preso.

        — Ainda bem que por enquanto é só o rabo - Disse um deles. Mas, agora estamos com a “faca e o queijo na mão”. Vamos tirar partido, nos livrar! Vamos cortar esse queijo!

        —Amigos já foram os vinte minutos. Domar a fera com cuidado será nosso próximo passo. Pelo jeito ele está encurralado pela Presidência.  -   Vamos voltar?

Assim que entraram na sala, o Ministro não se conteve: — Então? Arguiu ansioso.
        — Sr. Ministro. Podemos ajuda-lo. Se for esse o motivo jamais perdera seu cargo. Envidaremos todas as forças que possuímos e peço-lhe noventa dias para reverter esta situação. Todavia, ela depende totalmente de V. Excia. Para  nosso sucesso deve anular as portarias 13/14AB e 17M que nos crava junto a Receita. Essa medida é sine qua non. Assim que V.Excia. - publique, garantiremos o início dos embarques.


         — Senhores, este é um acordo de cavalheiros. Já esperava isso. Vou atendê-los. Sei que ela, recorrendo, os livrá-la das antigas multas. Ficarei atento, enquanto aguardo os resultados. O assunto é delicado. Se vier a público, já sabem, será uma faca de dois gumes. Estamos combinados? Tenham um bom retorno.  

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