Desejo do Alguém Ausente - José Vicente J. de Camargo




Desejo do Alguém Ausente
José Vicente J. de Camargo


Escrever uma história de alguém que deveria estar entre nós, nos leva a pensar inicialmente nos entes queridos que se foram, como muitos dizem “para um outro mundo”. Principalmente naqueles que se foram cedo demais, cujas companhias poderíamos ter desfrutado por mais tempo, gozado de mais alegrias, conhecimentos, amores prolongados...

Mas, querer trazê-los de volta é bater numa tecla sem sentido, renegar os princípios da própria existência.

Prefiro continuar a tê-los, vez ou outra, em meus sonhos, como a dizer que, com eles, tudo vai bem.

Fiquemos na realidade e busquemos este alguém.

Segue-se a pergunta se o mesmo deve estar presente num grupo ou só comigo?

Esta definição por si só, já abre um leque de opções, principalmente se preferir o caráter individual da visita. Neste caso, segredos podem ser desvendados do tipo: paixões ocultas, amores platônicos ou mesmo daqueles como “sair do armário”...
Levado pelo impulso, opto pelo coletivo.

Falta agora a definição do tempo de permanência do visitante, já assumindo de antemão o gênero masculino do mesmo:

-Algumas horas para um bate-papo ou vários dias de convivência tal como jornada, feira, work-shop?

Novamente o impulso intervém e um encontro mais light é o preferível: um happy-hour!

A memória busca nos labirintos possíveis nomes, perfis profissão...

Em paralelo os sentimentos procuram definir qual seria o objetivo da reunião: simples conhecer, matar a curiosidade, saudades, entretenimento ou adquirir cultura? Até mesmo a luxuria, a vingança afloram como possibilidades...  

Mas enfim a razão prevalece e já que estou à procura de aprimorar o conhecimento da arte caprichosa, complexa do escrever, por que não desejar a presença de alguém com muita experiência e, com certeza, com muitas dicas a revelar nesse sentido?

Um nome logo me surge como seu fiel leitor.

Seus contos, meus preferidos, relatam fatos corriqueiros do dia a dia, são curtos, objetivos e sobre tudo revestidos de um humor e de uma ironia sutil e refinada.
Um happy-hour com ele, com certeza enriqueceria a todos que dele participassem.
Refiro-me ao escritor Luis Fernando Veríssimo, sem dúvida já conhecido de todos nós.

Mas, precavido, teria no bolso do colete, em caso da impossibilidade de comparecimento por força maior, os nomes dos também não menos interessantes contistas João Ubaldo e Inácio de Loyola Brandão.


Como vêem, sou leitor assíduo do “Estadão”!

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