UM MENINO QUE PREVIA O FUTURO
Mario Augusto Machado Pinto.
Não sei com que idade os bebês começam a enxergar e a distinguir o que
veem, mas meu irmão Lavan desde que nasceu e estando acordado e deitado no
berço ou no carrinho, só olhava para cima. Com Lavan acho que foi com três ou 4
meses porque apontava o dedinho indicador para o alto em direção ao sol, aos
pombos, aos aviões, tudo que estivesse lá no alto do céu. Outras vezes apontava
e algum tempo depois passavam pombos, helicópteros e tudo o mais. Admirava isso
apesar de não entender porque seus olhos não eram afetados pela luminosidade.
Quando foi para a escola sabia o que estudar para as provas e me dava
dicas; saindo com seu guarda-chuva, podia escrever: chovia. Às vezes dizia
coisas confirmadas futuramente, que papai seria promovido e mamãe operada.
Falei com ele sobre essa ‘’qualidade” e ele me fez jurar que não a contaria
para ninguém, muito menos para nossos pais. Interessante, nunca previa números
de sorteios, nem de bingos. Ajudava muita gente, mas não comentava.
Quando mocinhos, começando a namorar, sabia e dizia quais garotas
abordar para sair e quais ficariam à noite para um programa.
Formou-se em Física ‘’cum laudae’’ na USP e sempre obteve grande sucesso
na profissão e aceitou convite para fazer pesquisa e lecionar em Yale. Ao
embarcar, me disse que voltaria em cinco anos.
Voltou. Não mudou nada fisicamente; ficou com aparência circunspecta;
ainda fazia suas previsões, acertava todas.
Um dia pediu-me para ir com ele palpitar na compra de um terno. Escolheu um de risca de giz e eu palpitei que
não gostava. Respondeu que era para uma situação especial no sábado. Concordei e
achei que iria nos apresentar à sua namorada.
À noite de sexta-feira me disse querer descansar e dormir bastante, até
bem tarde e pediu para não ser acordado. Fazia sempre isso quando havia algo especial
no dia seguinte. Ouvi quando deu a descarga no banheiro e fechou a porta do
quarto.
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