Conto de amor – o
motorista
Fernando Braga
A Abelardo, nascera
no seio de uma família humilde, pai um metalúrgico e mãe, uma empregada
doméstica. Embora pobres, os pais eram dedicados ao menino, procurando cria-lo
bem, longe das ruas, não descuidando de suas amizades, companhias e de seus
estudos. Frequentava escola pública, tendo feito o primeiro grau e ,até a
quarta série do segundo. Era muito esforçado, interessado em estudar, aprender,
bom esportista e muito querido entre
seus colegas. Nesta ocasião, perdeu o pai e ficou só com sua mãe. A
situação econômica que já não era muito boa, piorou, ficando tudo por conta de
sua mãe. Foi quando resolveu parar de estudar e arrumar um emprego. Tinha então
17 anos, era um moço bem constituído, de boa altura, simpático, comunicativo e
notava que as meninas sempre procuravam sua companhia, achavam-no bonito. Trabalhou,
inicialmente em uma banca de jornais e revistas, depois como office-boy, como
ajudante em uma padaria e outros mais.....Com o salário de ambos, conseguiam
sobreviver, uma vez que tinham uma casa própria, uma meia agua. Com 24 anos, tirou carteira de
motorista e de moto, tendo comprado a prestações, uma moto de segunda mão. Não
faltava serviço como motoqueiro, entregando comidas, documentos, pequenas mercadorias.
Após 4 anos, vendeu sua motoca, pois sempre achou o serviço arriscado,
perigoso, passando em velocidade entre os veículos, sempre arriscando a vida.
Alguém lhe disse que a sobrevida em média de um motoqueiro, não ultrapassava os
sete anos.
Trabalhou
depois como motorista em uma firma de entregas, passando a ter prática na
direção e a conhecer melhor os bairros e ruas da cidade.
Abelardo tinha
30 anos quando conseguiu um emprego de motorista particular na casa de uma
família, residente em um dos melhores bairros da capital. O seu salário
melhorou, tinha comida e um belo
uniforme azul, dormindo no quarto de empregados, levantando cedo e ficando `a
disposição a família todo o tempo. Ia para a casa da mãe, apenas aos domingos e
lhe entregava a maior parte de seu salário. Sua mãe arrumou um companheiro, bom
homem, trabalhador, que passou a viver junto em sua casa.
Quem mais
utilizava o seu serviço, como motorista
era Adriana, filha do casal que era odontologista, trabalhava no período
da tarde até às sete horas. Também o usava para ir ao cinema, teatro, festas, shoppings.
Os pais faziam uso do motorista para passear, fazer compras, irem a
restaurantes, em pequenas viagens ao litoral, interior do estado, etc, ocasiões
em que Abelardo recebia alguma quantia
extra.
Em algumas horas, que estava livre, fazia algum serviço de
jardinagem, consertava aparelhos, e mantinha o carro sempre em estado
impecável. Após uns 2 anos, todos o consideravam como um membro da família, achando-o
correto, confiável, solícito, sempre alegre e disposto a empreender o seu
serviço. Desde que conheceu Adriana, sentiu grande simpatia por ela, achando-a
bonita, gentil, com um sorriso cativante. Muitas vezes, Adriana, comentava com
sua família a contratação de Abelardo, o homem certo para o cargo certo. Todos
os familiares que conheciam o motorista, comentavam sua finura e beleza e
comentavam, jocosamente, que Adriana deveria tomar cuidado, lembrando o que
havia acontecido com a Ana Maria, da TV. Adriana, no seu íntimo, também o
achava bonitão, mas de longe aceitaria uma aproximação maior com o motorista. Sempre
que Adriana lhe pedia algo para fazer, ele se desdobrava para deixa-la bem
feliz, contente.
Algum tempo após, Adriana começou a namorar um rapaz, que
havia se formado em Artes Plásticas pela USP, o que deixou Abelardo
desconcertado, mas nada podendo exteriorizar, que percebessem a sua desilusão. Casaram-se
e foram morar em um apartamento nos jardins. Após 3 anos ainda não tinham
filhos. Frequentemente, Adriana utilizava os serviços de Abelardo para leva-la
ao trabalho, busca-la e outras atividades, como anteriormente. O marido de
Adriana, prestou um concurso e foi aprovado como professor em artes plásticas, mas
em uma faculdade em Uberaba. Permanecia a semana trabalhando naquela cidade e
vinha para São Paulo nos fins de semana. Em várias ocasiões, deixou de vir a
São Paulo, alegando muito trabalho e Adriana notou que ambos estavam esfriando
em seus sentimentos. Na realidade, uma mineirinha havia entrado na vida de seu
ausente marido. Separaram-se, sem qualquer transtorno psicológico e Adriana
voltou a morar com os pais, o que deixou Abelardo radiante de felicidade, e ele
demonstrava isto pelo seu sorriso, bom humor, energia no trabalho, o que foi
observado pelos outros empregados e mesmo pelos pais de Adriana. Abelardo
acreditava que, embora sendo humilde, era atraente e que poderia ter alguma
chance com a Adriana. Olhava-a mais intensamente pelo retrovisor, ela percebia e
às vezes, encontrava seu olhar com o dele e sorria. Uma tarde, ele foi leva-la
ao cinema e quando abriu sua porta, ela convidou-o para que, fizesse companhia
a ela. Ele ficou desconsertado, mas encostou o carro no estacionamento, deixou
seu boné e foi acompanha-la. No cinema sentaram-se lado a lado, tocavam seus
braços e suas mãos, mas nada mais. Na volta para casa, perguntou a ela, porque
o havia convidado e se aquilo não era uma gozação. Ela respondeu que não, que
ele era uma boa companhia e que outras ocasiões não iriam faltar. Abelardo viu
uma boa chance de iniciar o que sempre desejara. Alguns dias se passaram, e ela
renovou o convite, para leva-la ao cinema, mas sem o uniforme. No cinema, agora
mais arrojado, pegou em sua mão, beijou-a e ela correspondeu Foram parar em um
motel, onde permaneceram por horas. Despediram-se felizes, firmando um
compromisso!!!.
No mês seguinte, Adriana resolveu passar um mês nos USA e
convidou-o para acompanha-la. Aceitou, pois ela prometeu pagar a viagem e todas
as despesas. Pediu a seus patrões um mês de férias, que estavam muito atrasadas
e seguiu Adriana. Viajaram pela América, com grandes programas. No mês seguinte
à viajem, ela lhe anunciou, que estava grávida. Juntos, foram conversar com os
pais dela, e contaram todo o ocorrido, incluindo a gravidez Pela reação dos pais,
parecia não haver surpresa, pois já haviam observado a movimentação!! Casaram-se,
em cerimônia singular, e todos comentavam que eles formavam um belo casal. Nasceu
uma bela menina, o maior acontecimento, a maior felicidade para os avós. O sogro, pessoa bem
esclarecida, pediu a Abelardo, que fizesse um esforço para continuar os
estudos. Abelardo aceitou a ideia, terminou o segundo grau, fez uma Faculdade
de Direito em Mogi, graduou-se, passou no exame da OAB, e conseguiu um bom
emprego, em uma firma de advogados, graças a interferência do sogro.
Abelardo
viu sua vida transformar-se. Tinha uma
bela família, a mulher que amava e era correspondido, e trabalho como advogado.
Ocasionalmente ainda faz o serviço de chofer para todos e ama lavar os carros nos fins de
semana. Ajudou muito sua mãe, que não precisou mais trabalhar.
Nesta vida as coisas boas também acontecem, principalmente
quando existe amor verdadeiro, que aparece quando menos se espera. Hoje, quando
falam do casal, referem-se a eles como o casal exemplar e a ela, como esposa de
um grande advogado!!!
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