RAPIDINHO
Carlos
A. Cedano
Marcos, a quem o povo
chamava de Rapidinho, estava sempre correndo para cumprir suas obrigações, seja
entregando pedidos dos clientes da padaria onde trabalhava, ou correndo para ir
e voltar da escola noturna.
Sempre apressado e não
poucas vezes afobado. Nem sempre conseguia fazer as coisas corretamente,
confundindo clientes e pedidos. Mas, seu desejo era continuar trabalhando, concluir
este ano o ensino médio e logo depois, tentar fazer um curso técnico. A mecânica
de motores de carros era sua opção mais forte.
Não seria fácil superar
todas essas etapas, faltavam somente oito meses para o vestibular e o que
particularmente o preocupava era a preparação em matemáticas que tinham um peso
alto nas provas. Sem dinheiro para pagar um professor e sem muito tempo, para
inserir novas atividades no seu dia-a-dia.
Conversando com pároco, Rapidinho
soube que seu Raimundo, professor aposentado, poderia ser uma solução. Era só
pedir com jeitinho, ponderou o pároco. Não perdeu tempo e lá foi ele direto
para casa de seu Raimundo.
Enquanto esperava na sala, o tic-tac do
relógio o deixava mais ansioso. Por fim, apareceu seu Raimundo, senhor de cabeça
prateada, postura ereta e rosto benevolente. Conversaram por quase uma hora, Rapidinho
explicou sua situação ao professor que limitou-se a escuta-lo com atenção, no
fim, concordou em ajuda-lo com as matemáticas e começariam no próximo fim de
semana. Quando Rapidinho indagou sobre o pagamento o professor respondeu que
seu melhor pagamento seria seu sucesso no vestibular.
Marcos saiu exultante e
agradecido, agora compreendia o que as pessoas queriam dizer quando falavam que
o seu Raimundo tinha chegado à idade da sabedoria.
Os oito meses seguintes
foram os mais duros para o jovem estava feliz e esperançoso, as aulas com o
professor durante os fins de semana foram duras, intensas e muito proveitosas.
O grande dia do vestibular
chegou.
Rapidinho tinha preparado
tudo, documentação, dinheiro para passagens, estojo de canetas etc.
A prova não foi difícil
para ele. Acabou antes e teve tempo de copiar suas respostas reafirmando sua
certeza de sucesso. Retirou-se quando lhe foi permitido e voltou logo para sua
pequena cidade.
Chegando foi imediatamente
visitar seu Raimundo para dar-lhe a boa noticia. Para sua tristeza, seu
Raimundo estava deitado passando mal. Seu estado de saúde era muito grave. Pelo
seu rosto posso adivinhar que você se saiu bem no vestibular lhe disse seu
Raimundo. Sim, respondeu Rapidinho podendo a duras penas conter um misto de
alegria e tristeza. Enquanto o professor dava seu último suspiro, o rosto de Marcos
se inundou de lagrimas e lhe pareceu perceber um leve sorriso no rosto
iluminado de seu Raimundo.
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