Soberba
Vera Lambiasi
Carola não era a Deusa da
Beleza, mas também não precisava fazer todas aquelas intervenções cirúrgicas.
Bonitona em seus quarenta e
poucos anos, queria mais.
Puxa daqui, estica dali, e
nunca chegava à estética de sua mãe, esta sim, pura Afrodite.
Um lar harmonioso, vida
confortável, marido carinhoso, filhas estudiosas, nada faltava à Carola.
Aparentemente.
Sua vaidade, a tornava
gananciosa, de toda admiração da sociedade carioca.
Invejava as lindas garotas de
praia, despojadas de orgulho, mas nunca conseguia igualar-se à elas.
Carola sofria em lipos, dietas
de sucos verdes, e exercícios enérgicos.
Foi ficando cada vez mais
escultural, a seus olhos, e, cadavérica, aos da família.
O companheiro açucarado enchia-a
de prazeres, para fazê-la esquecer a aparência.
As meninas, eram doces com a
mãe, apesar de um pouco esquecidas às empregadas.
Aquilo caminhava para um fim
trágico.
Até que Marina, a filha mais
velha, entrou na Universidade de Harvard, para cursar economia, e a família
toda mudou-se para os Estados Unidos. Roberto, que já trabalhava em uma
multinacional de alimentos, foi transferido com satisfação pela empresa.
Flavinha, fluente em inglês, continuou seus estudos na high school de
Cambridge.
Carola inscreveu-se num MBA,
começou a dar consultorias em moda, sua formação inicial no Brasil. Canalizou
seu bom gosto para o trabalho, e parou de olhar tanto para o espelho.
Tornou-se uma profissional
gabaritada.
Teve que enfrentar o serviço
doméstico, ajudada por Roberto e as filhotas.
Refizeram a vida, de outra
maneira, longe do sol.
E engordou um pouquinho.
Mas não se importa mais com
isso.
Tem mais o que fazer.
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