Aconteceu o pior - Oswado Romano

         

ACONTECEU O PIOR
Oswaldo Romano                                                                            T05

Meu telefone tocou. Atendi, e logo veio a pergunta:

         — É você Alaor?

         — Isso. Ia ligar para você, Juca. Sua voz não me engana.

         — Bom, liguei primeiro. Como foi a pescaria no Rio Araguaia?

         — Nem queira saber! Aconteceu o pior.

         — Opa! O que houve, fala logo?

         — Sabe o Tião que toma conta do Rancho?

         — Claro! Conversamos muito quando estive lá.

         — Ele foi picado por uma cobra venenosa, achamos ter sido Cascavel.

         — Vichiiiii.

         — Apavorado, correu pra beira do Araguaia. Lembro que esse grande rio se forma na serra do Caiapó, lá no Rio das Almas. Almas aqui são citadas como curandeiras quando se tem fé. Ele foi à beira d’água se lavar, pedir benção as almas protetoras.

         — Bem, vocês pescaram muitos? Mais do que quando eu fui?

         — Matamos bem, o permitido né. Choveu bastante. A agua estava turva e com muita correnteza. Perdemos muitas linhadas. O que não faltou ali foi peixe. A gente mata quando quer.

         — Alaor, estou entrando no Grupo de Pesca Santopéia, e protegido pela sua licença. Pretendo voltar logo no Rancho.

         — Juca, esta dando o famoso Pintado, no peso, e aqueles que você conhece: Dourada, Jau, Tucunaré e o falado Pirarucu. Muita, muita Piranha.

         — Mulheres?

         — Eh Juca, você não esquece... Peixe, claro. Tem acontecido de fisgar e se recolher só a carcaça.

         — Alaor, esse filme já vi antes. Elas são terríveis! Piores que as de saias. Bem, me conte do Tião. Não aprovo esse negócio de acreditar nesse tipo de água com alma protetora.

         — Juca, A notícia é triste.

         — Meu Deus! O que aconteceu?

         — O veneno da cobra fez efeito quando se molhava, lá chamam de benzeduras na margem do rio. Perdeu os sentidos,  caiu.

         — Machucou muito?

         — Que nada, morreu afogado.

         — Meu Deus! Alaor, por que não me contou logo?

         — Ia falar, mas não tive coragem. Tentei, comecei, disfarcei.

         — Que loucura! Tião, era um homem tão bom, bacana. Agora sofre esse mortal fim! Alaor estou pasmado, arrasado, embora saiba, ninguém do grupo é seu parente.

Alaor, amanhã nos falamos, tá? Fiquei muito amolado, muito aborrecido.

         — Tá  bom, fique frio. Depois conto detalhes.

         — Frio? Eu? Depois dessa, temos que pensar. Jogamos fora o antidoto por estar vencido, lembra? Ninguém se mexeu para repor.

         — Juca. O antidoto vencido pode matar...

         — Benzer no rio também, né? Pescador só pensa nos peixes...


         — Você tem razão. Vamos cuidar. Antes tarde do que nunca.

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