Calça Arreada - José Vicente Jardim de Camargo



Calça Arreada

José Vicente Jardim de Camargo


Jorge já localizara seu carro na garagem do aeroporto, de mãos abanando, aperta o botão de destrave da porta e ao abri-la, não  sabe de onde nem como, uma voz pelas costas lhe múrmura rente ao ouvido:

— Entre sem virar e passe para o banco do acompanhante!

Jorge tenta uma reação, mas logo sente, apertando sua costa, algo duro que sua imaginação logo define como o cano de um revolver.

Entra e, com alguma dificuldade, senta no banco do acompanhante já procurando distinguir algo ou alguém a quem recorrer.

A voz, desta vez em tom forte e incisivo, diz:

— Baixe as calças, rápido!

Jorge, não contendo a surpresa, mira o sujeito que o olha fixamente sem demonstrar nenhum sinal de brincadeira ou gozação. Pele morena, cabelo cortado rente, bigode grosso, feição de um todo normal, sem suspeita de drogas ou banditismo.

— Rápido! Já disse -  repete mais áspero e desta vez, mostrando o cano da arma saindo do bolso da jaqueta de brim.

Jorge, com a mão na fivela do cinto, reluta:

— Deve estar havendo algum engano, não sou..., mas antes de terminar a frase, o estranho começa a lhe apalpar, em movimentos bruscos, o colo, descendo pelo traseiro até a coxa.

— Cadê a grana? Onde escondeu? Fala senão lhe arrebento os miolos seu fdp. Estou te seguindo desde o banco, portanto não me tente enganar.

Para Jorge a ficha caiu...Tudo se tornou claro. Só a maneira de contar é que devia ter cuidado, para não piorar a situação de perigo em que se encontrava.

— Olha, tudo bem! Só que o dinheiro que tirei no banco não era para mim, mas para um amigo que foi para Buenos Aires. Pedi-lhe para comprar um Smartphone 4G. Lá, no câmbio paralelo, sai pela metade do preço. Tinha sim o dinheiro numa carteira presa ao cinto, dentro da calça, mas você deve ter visto quando fui ao banheiro. Lá entreguei ao meu amigo que me esperava dentro do toilete.

Jorge, temendo a reação nervosa do assaltante, lhe oferece seu celular 3G como recompensa e, notando que a frustração do outro não diminuía, completa:

— Bem! Também podemos terminar nossa conversa num outro local mais calmo, regado com uma cerveja gelada, uma boa branquinha, whisky?


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