O CAOS E A ESPERANÇA - Carlos Cedano


O CAOS E A ESPERANÇA
Carlos Cedano


Senti que o ambiente tornava-se estranho invadido por uma nevoa densa com o vento aos poucos deixando ouvir seus uivos preenchidos de ameaças tudo pressagiava algo que não conseguia explicar. Esperava com meu marido e minha filha no meio de uma pequena multidão que abrissem as portas da antiga igreja a fúria do vento se acentuou esparramando medo entre as pessoas que aguardavam, achei que meus olhos me traiam quando incrédula vi os prédios a minha frente dançarem e o terror instalando-se quando começaram a cair blocos de pedra sobre as pessoas muitas com crianças o tempo demorou uma eternidade atravessado pelos gritos das pessoas num coro que misturava diferentes formas de dor procuro minha família cadê meu marido cadê minha filha gritei com enorme desespero e com tristeza me deparo com o corpo já inerte de Marc, mas nada se comparava ao sofrimento que senti ao ver minha filha Marie morta agarrada a sua boneca como foi triste descobrir brutalmente um sofrimento que nunca imaginei pudesse existir demorei a recobrar o folego e comece a cobrir com pedras meus mortos, subitamente aconteceu o pior ensurdecedoras explosões que fizeram cair os prédios como pinos derrubados numa pista de boliche o ambiente encheu-se de espessa poeira misturada com fumaça foi um caos que cobriu como um manto fúnebre a pequena cidade mas que não me impediu enxergar no horizonte o voo fugitivo dos aviões parecendo um bando de abutres que tinha saciado sem misericórdia sua fome de cadáveres estava só no mundo as vitimas que vi rastejando já todas tinham dado seus últimos suspiros e o silêncio era absoluto, não sei quanto tempo permaneci nesse estado catatônico depois um choro apenas perceptível atraiu minha atenção paro e  ouvi atentamente logo segui o rasto do som até enxergar uma menina suja e apavorada protegida miraculosamente pelo vão formado por duas enormes rochas e que chamava a mãe que a seu lado agora já não podia escutar seus pedidos de socorro e quando a pequena me viu estendeu seus pequenos braços gritando sempre mãe, mãe, agarrou-se fortemente a mim e soltando um choro lancinante aos poucos se acalmou e dormiu no meu colo e foi nesse momento de ternura que senti que se abria uma fresta de esperança para recobrar o amor pela vida sim pensei o caos e a esperança podem vir juntos. 

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