Caprichos da Vida
José
Vicente J. de Camargo
Vida!
Existência curta de tortuosos caminhos.
Cria
fatos que quando revelados desmoronam e remodelam destinos traçados.
Foi assim
comigo:
Iniciou-se
num ato simples e cotidiano de comprar o pãozinho na padaria da esquina. Um dia
esbarei num novelo que, ao desenrolar-se aos pouquinhos, despiu-me da incógnita
depressiva da minha existência, levando-me daquele aroma cheiroso e quente ao
grito libertário de ter uma identidade reconhecida.
Justo
ele, aquele senhor simpático, meu vizinho, que em dias frios se revestia todo
de lã merecendo dos meus filhos o apelido de novelo aconchegante.
Desse
primeiro esbarro sucederam-se vários encontros, não mais casuais, que
resultaram num constante desfiar-se, formando uma meada de lã que aos poucos foi
esculpindo a face oculta de meu pai ausente. Essa descoberta bombástica esmagou
em mim a incógnita reprimida da paternidade, deixando desabafar o grito
retumbante de ser enfim alguém com ponto e vírgula.
Dispensamos,
novelo e eu, explicações dos porquês, passados que não apagam nem recompõem as perdas
ocorridas. Nossos destinos se adaptaram a nova situação, atando-nos com nó de
amor perdoado.
Vida!
Por que usastes caminhos tão angustiantes para enfim terminar em gestos
corriqueiros de pãezinhos quentes e fios de lã? Quantos por quês e quantas noites
embaladas na insônia do “quem sou eu” tive que sofrer?
Recuso-me
a procurar a resposta. Não a encontrarei nesta galáxia. Prefiro deixar-me convencer
pelo dito popular sempre sábio na sua humildade:
“Mais vale um pássaro na mão do que dois
voando”. Completando:
Curte o presente que o futuro logo
chegará...
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