João
e Maria
Maria
verônica Azevedo
Toda manhã João saía de casa às 9 horas
em ponto. Antes de entrar no carro checava a caixa de cartas Naquele dia não foi diferente. Com vários
envelopes nas mãos, entrou no carro e fez uma separação rápida. Só queria ver
se tinha ali algo urgente, pois estava com pressa.
Ficou surpreso com um envelope amarelo.
Era pequeno, de cor bem viva, endereçado
para ele, João Alvarez. Estranhou a falta de selo e de qualquer carimbo.
Não veio pelo correio. Logo concluiu.
Apesar da afobação, não pode resistir, abriu-o.
Deu com um bilhete escrito numa caligrafia irregular:
“Vem
com urgência ao número 42 da Rua Sampaio Albuquerque. Espero até às 12 horas para
tratar de importante assunto do seu interesse.”
João logo achou que era um trote. Jogou
o envelope com o bilhete para o banco de trás. Estava com pressa. Seguiu a
caminho do escritório. Logo deu de cara com um congestionamento.
A irritação foi crescendo... Mas como
não tinha jeito de escapar teve que se conformar até mesmo com o som irritante
das buzinas impacientes.
João procurava distrair-se para vencer a
irritação. Com o carro parado, acabou voltando a pensar no envelope amarelo.
Rua Sampaio Albuquerque número 42... Até
que não ficava tão fora da sua rota. Poderia virar na próxima esquina e assim
cairia fora do congestionamento.
Consultou o relógio. Quase dez e meia. A
reunião já era... Aborrecido pensou em ir ver o que o aguardava naquele
endereço.
Enquanto isso, lá no escritório, Stella,
a secretária, estava atônita.
O telefone não parava de tocar. Ela já
não sabia que desculpa ou explicação dar.
Além disso, não conseguia entender
aquela desordem em que encontrara a sala do chefe. Parecia que alguém entrou
procurando algo. Tinham mexido nos armários e em todas as gavetas do chefe.
O jeito foi ela começar a dar um ordem naquela
confusão. Pegou os papéis do chão e fez uma pilha. Depois sentou à mesa ao lado
e foi tentando separar a papelada.
No meio de todos aqueles documentos
apareceu uma carta escrita à mão.
A caligrafia era regular e bem legível. Ela
estranhou. Não pretendia ler, pois logo calculou que era correspondência
particular. Não resistiu a olhar a assinatura. Aí veio o espanto: leu o nome
Maria.
Logo pensou:
¾ Aí tem coisa. A esposa dele se chama
Eulália!
Deixou a carta separada da pilha e continuou a arrumação.
Não teve jeito... Acabou lendo o
conteúdo.
Parecia uma resposta. Eles estavam
combinando algum encontro ou coisa parecida.
João decidiu enfrentar o desconhecido.
Saiu do congestionamento e rumou para o endereço indicado no bilhete amarelo.
O número 42 era uma casa antiga bem
machucada pelo tempo. Janelas mal conservadas, algumas com vidros quebrados. O
portão da frente estava enferrujado, mas com algum esforço conseguiu abri-lo.
Procurou uma campainha, mas não achou.
Então subiu os três degraus do terraço. Alcançou a porta. Bateu com força. Não
percebeu qualquer movimento. Tornou a bater com mais força.
Uma voz rouca falou lá de dentro:
¾ Entre!
João testou a maçaneta e a porta se
abriu.
De dentro vinha uma luz tênue. Demorou
um pouco para acomodar a visão na penumbra. O que conseguiu ver com dificuldade,
o espantou.
Ao lado da vela acesa, Maria, amarrada a
uma cadeira, amordaçada com uma tira de pano presa atrás da cabeça. Estava com
os olhos inchados e o rosto vermelho. As mãos, presas aos braços da cadeira, a
imobilizavam.
Na frente dela, uma velha senhora de
costas e um rapaz forte mal encarado. A senhora controlava a situação. Disse ao
João:
¾ Senta aí e não dá um pio!
Quando ela se levantou e abriu a janela
de trás, João reconheceu sua sogra. Abriu a boca para falar algo, mas foi
interrompido pelo grito dela:
¾ Cala a boca! Você aqui só ouve.
¾ Preste a atenção! A menina aqui vai
sumir. Você vai fazer ai um cheque para pagar uma passagem para ela ir para a
Índia. Vai embarcar hoje mesmo.
Já tenho aqui um passaporte e a reserva feita.
E não tem passagem de volta. Se você for atrás dela será um homem morto.
¾ Daqui, você volta para a sua casa,
depois de comprar uma bela joia para minha filha.
¾ O meu amigo aqui garantirá que tudo
saia a contento. A partir de hoje estará vigiando você dia e noite.
João, mudo de susto, faz o cheque e
entrega à sogra. Ele sempre achara que ela parecia uma bruxa.
¾ Como a senhora descobriu?
¾ Oh! Imbecil... Meu amigo aqui
vasculhou seu escritório, esta madrugada e achou uma carta dessa coitada. Até o
endereço dela estava no remetente do envelope. Inacreditável tanta burrice!
Depois de pegar o cheque, a velha puxou
Maria e foi saindo pela porta de trás. Entrou no carro que a esperava e sumiu
levando a menina para o aeroporto.
O
capanga segurou João por algum tempo e depois saiu junto. Entrando no carro de
João foi dizendo bem ríspido?
¾ Pode seguir para a joalheria. Eu dou
cobertura!
Quando Eulália recebeu a preciosa
pulseira, não entendeu nada. Não conseguia se lembrar de nenhuma data especial
por aqueles dias.
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