A MALA ERRADA
Carlos Cedano
Aquele dia o voo
que vinha de Nova Iorque estava superlotado. Como era o fim das férias os
viajantes tinham caprichado nas compras e por isso retirar as malas foi um
enorme sufoco. Armando identificou aquelas que acreditou serem as suas, eram
três iguais, colocou-as no carrinho e rumou para a saída, passando pelo
controle de bagagens entregou os tíquetes e saiu sem problemas.
Na área de
desembarque já o esperava Lucia sua namorida,
com a alegria impregnada no rosto, trocaram rápidos abraços e beijos e sem mais
delongas foram para casa, estavam separados há quase um mês! Amaram-se, e
descansaram. Duas horas depois acordaram, tomaram banho e agora, disse Armando,
tá na hora de seus presentes, meu amor.
Ele abriu a
primeira usando o segredo numérico, ela só continha roupa e coisas masculinas, abriu
a segunda e estava em parte com documentos e relatórios de trabalho e o
restante com roupas usadas do próprio Armando. Lucia estava bastante ansiosa,
queria ver já os perfumes, as roupas de grife e, o mais importante, o anel de
noivado que Armando tinha mandado fazer numa famosa joalheria de Nova Iorque!
A terceira mala lhe
parecia estranha. Tão estranha que o código numérico não funcionava. Armando
olhou-a mais atentamente, girou-a para direita e para esquerda em busca da etiqueta de identificação, ele
jamais deixara de identificar sua bagagem, mas esta não continha nenhuma
etiqueta. Desconfiado, de estar com uma
mala que não lhe pertencia, ainda assim, achava que se parecia com a sua.
Talvez a etiqueta tenha se perdido, isso acontece com frequência.
Enquanto estava nesse
jogo de reconhecimento da bagagem, soou
o telefone da casa, Armando atendeu ainda com o pensamento num suposto erro de
malas na esteira:
— É o senhor Armando Costa?
— Sim, sou eu.
- respondeu.
— Muito bem seu Armando, o senhor por engano
retirou uma mala no aeroporto que pertence a minha esposa, e nós estamos com uma que deve ser do senhor,
estou correto?
— Sim,
ainda não me certifiquei disso, mas já desconfiei. - respondeu Armando.
— Muito bem, a meia noite o senhor
deverá colocar à porta de sua casa a
mala que levou por engano. Importante:
Não tente abri-la. Sua mala estará à sua porta para realizar a troca. Depois
você entrará em casa e somente poderá sair de seu domicilio a partir das seis
horas da manhã. Estaremos observando que o senhor siga nossas ordens, caso
contrário as consequências serão graves para os ambos. Estamos entendidos?
Perante a resposta afirmativa de Armando o
cara desligou.
E assim procederam.
Esperaram ansiosos pela meia noite com as luzes apagadas, temiam que tivessem
esquecido algum detalhe. Armando até tinha mexido com o segredo da mala que
entregaria para apagar o seu. Armando, muito cansado e sonolento resistiu até a hora
da troca das malas. A meia noite ele olhou pela janela e sua mala já estava no
lugar indicado. Armando saiu temeroso e procedeu rapidamente e a troca exigida,
logo entrou em casa e, apavorado trancou a porta, estava em pânico!
O casal exausto dormiu
na sala aos sobressaltos. Às cinco da
manhã. Acordou, ligou a TV, onde notícia
do dia era a enorme explosão acontecida na casa de um conhecido empresário
ligado às máfias orientais. Tudo indica, disse o investigador encarregado do
inquérito, que abriram uma mala com o um código errado o que ativou um
mecanismo eletrônico detonando uma massa de plástico de quinhentas gramas que
matou o empresário, sua esposa e dois assistentes, além de destruir documentos
e incendiar parcialmente a casa. Armando percebeu então que fora o telefonema
do cara que salvou sua vida, tinha renascido, essa explosão poderia ter
acontecido com ele!
Deitaram e dormiram
até sentir que estavam bem dispostos. Já calmos, mas ainda com um pouco de medo,
decidiram ver os presentes de Lucia. Estava tudo lá. Armando abriu a pequena
caixinha pegou o anel adornado de um belo brilhante e disse:
— Lucia meu amor você que casar comigo, assim como
eu desejo casar com você?
— Com certeza, meu amor, com certeza e para
sempre!
— Foi duro esperar por esse anel, né meu amor?
Disse Armando com um leve tom de gozação.
Mas que sufoco!
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