A BAGAGEM - Sergio Dalla Vecchia

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A BAGAGEM
Sergio Dalla Vecchia

Mais um dia de rotina no aeroporto internacional.

Voos chegando e partindo em precisos intervalos de tempo.

Com a evolução da tecnologia aeronáutica, os procedimentos para aterrissagem e decolagem solicitam cada vez menos comprimento de pistas e menos tempo de operação em solo.

Entretanto, essa eficiência logística não acontece com as pobres malas, maltratadas, empilhadas aleatoriamente sem nenhum cuidado.

Por falta de uma identificação precisa, compatível com o nível tecnológico atual, malas são extraviadas e comumente trocadas por outras parecidas.

Os passageiros mais desatentos e estressados, recém-chegados de longa viagem internacional, são as maiores vítimas.

Foi o que aconteceu com a mala de Manolo, passageiro turista espanhol vindo de Madri.

Ele retirou às pressas da esteira rolante uma mala semelhante a dele.

Passou tranquilamente pela imigração e logo entrou num táxi, rumo ao Hotel.

Pelo trajeto fechava os olhos, imaginando as visitas aos pontos turísticos, da cidade do Rio de Janeiro. Transbordavam expectativas!

No fim do dia seguinte, soube-se pela mídia, que um turista espanhol de nome Manolo, não chegou a hospedar-se no Hotel, e que a polícia já o considerava desaparecido.

Aconteceu que durante o trajeto Aeroporto-Hotel, o táxi foi seguido e numa rua transversal fechado abruptamente, pelo carro que o seguia.

Dele saíram dois homens encapuzados, armados de revólveres e violentamente retiraram Manolo com sua bagagem do táxi. Puseram-no no carro e saíram em disparada.

Vendaram-lhe os olhos e viajaram por cerca de uma hora.

O carro parou!

Manolo notou a ausência dos ruídos da cidade. Ouvia apenas o cochicho dos sequestradores e o som de folhas esfregando-se ao vento. Já era noite!

Foi levado ainda com os olhos vendados para dentro de uma casa.

Mesmo no desconforto daquela situação, percebeu um ambiente agradável e perfumado. O aroma de incenso floral era sutil.

Puseram-no sentado na cadeira de madeira, daquelas antigas, reforçadas, disposta no centro da sala.

Ainda vendado, ouviu uma voz típica de um gangster sofisticado:

Para quem você trabalha? Por que roubou minha mala? Fale homem!

Manolo não entendeu nada, mas respondeu convicto:

— Você é maluco. Essa mala é minha, não sua.

Mal acabou de responder, levou um violento tapa no rosto, estalado como uma faísca no ouvido e produzindo zumbido característico.

— Retirem a venda dos olhos desse infeliz. Quero ver se mente olhando nos meus olhos.

Assim que Manolo começou a enxergar, viu a figura de um homem oriental longilíneo, muito bem vestido e com um gato angorá branco nos braços.

Com olhar forte e raivoso o homem arguiu novamente:

Por que roubou nossa mala?

— Já disse, ela é minha. - Respondeu Manolo.

 — Se não acredita, abra-a e encontrará apenas roupas necessárias para uma viagem curta de turismo.

— Ah, é! Então vou abri-la já.

A mala foi colocada sobre a mesa e logo aberta.

Havia realmente roupas, mas não as do espanhol.

O oriental com muita convicção enfiou as mãos em meio as roupas chegando a um fundo falso como que já soubesse dele.

— Estas roupas são suas? – Indagou o homem mostrando um punhado de roupas nas mãos.

Manolo logo percebeu que não eram, e abismado bradou:

— Não pode ser! É idêntica a minha. Devo tê-la retirado da esteira por engano.

— Ora vá mentir para outro! Eu não acredito em você. – E mais um tapa ardido foi desferido sem dó no rosto do Manolo.

— Vamos, me dê o código de voz para o fundo falso abrir-se.

— Que código? Eu não sei de código algum, acabei de concordar que essa mala não é minha.

Assim, por ambos desconhecerem o código, o oriental entrou noite adentro torturando o desafortunado espanhol.

Acontece que a polícia estava com a investigação bem adiantada. Conseguiu a descrição dos sequestradores pelo taxista, daí através dos informantes localizou o cativeiro.

Com muita eficiência a polícia cercou e invadiu a casa em minutos.

Estranhamente, encontram dois homens mortos no jardim e um oriental também morto, caído na sala com um gato branco lambendo o sangue que escorria da boca. Manolo ainda estava lá amarrado na mesma cadeira, inconsciente com o rosto todo machucado.

Após reanimarem-no, ele ainda saindo do choque narrou detalhadamente todo o ocorrido.

O delegado o ouviu com toda a atenção e no fim disse:


Está tudo bem agora sr. Manolo, mas diga-me sem mentir, cadê a mala?

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