UM DESFECHO TEMIDO
Carlos Cedano
Dona Jacinta, viúva
de meia idade, sem filhos, chegou à mesma
cidadezinha onde tinha passado suas férias na última década, hospedou-se no
pequeno e aconchegante hotelzinho onde sempre era bem recebida. Nele sentia-se em
casa, até pensava algum dia radicar-se na
cidade, mas mantinha seu desejo em segredo.
Nas férias sua vida
era simples: levantava-se às nove horas da manhã, sem presa se arrumava, depois
descia para o café-da-manhã que era sua refeição preferida. A rotina continuava
assim dia após dia, até que numa noite
seu sono foi interrompido pelo toque do celular.
Ela deixou tocar, achava um absurdo alguém ligar de madrugada para os outros,
mas preocupada que pudesse ser um amigo ou parente querendo comunicar algo
importante, atendeu.
Porém, do outro
lado da linha uma voz assustada e nervosa, que não conseguiu reconhecer de
imediato, lhe disse: “Madalena, considere-se
uma mulher morta! Você esta escutando Madalena? Morta” A ligação cai. Passou a noite pensando nas pessoas que
pudessem ter motivo para querer matá-la!
Desceu para o café
da manhã, estava com cara de noite mal dormida e muito pálida. Dona Clara, a
dona do hotel, indagou:
— O que aconteceu
com a senhora Dona Jacinta, não conseguiu dormir bem essa noite ou não esta se
sentindo bem?
Ela conta rapidamente sobre a ligação que a deixou
preocupada, e disse:
— Hoje liguei várias
vezes para minha casa, mas ninguém respondeu. Lembrei que minha empregada também
estava de férias, e lembrei também que...
— E o guarda
noturno? Perguntou Dona Clara interrompendo os pensamentos de sua hóspede.
— Deveria estar cuidando
da casa! Responde ela.
Dona Jacinta decide
então voltar para a capital imediatamente, temia pelo pior e agora tinha
motivos para pensar dessa maneira. Arrumou sua mala rapidamente, falou com Dona
Clara brevemente e se despediu dela. Daria notícias, ainda disse. E foi para
Estação Rodoviária. Seriam quatro horas
de viagem angustiantes!
Chegou à capital ao
anoitecer, pegou um táxi e foi para casa. Foi prudente, não entrou
imediatamente, esperou para perceber algum movimento, mas nada se ouvia, nada
se via com as luzes apagadas. Telefonou ainda várias vezes e como antes, sem
respostas, foi então que decidiu chamar a polícia. No interior da casa os
detetives descobriram um cadáver com sinais de tortura. O Chefe da investigação,
Inspetor Ramiro, perguntou para a dona da casa:
— Dona Jacinta, a
senhora reconhece esta pessoa?
— Sim com certeza,
é Rodrigo meu guarda noturno, ele morou nesta casa nos últimos vinte e cinco anos,
era pessoa de minha absoluta confiança, respondeu chorando inconsolável.
Os investigadores
continuaram a examinar todos os cómodos da casa em total bagunça, os ladrões
tinham roubado algumas joias, mas não conseguiram abrir o cofre forte nem levá-lo
como parecia ter sido a intenção deles. A polícia também levantou muitas impressões
digitais e identificaram como e quando foi rendido o guarda, tinha sido na hora
que chegou para dormir.
— A senhora disse
que na noite da invasão da casa recebeu uma ligação estranha no seu celular,
conte para mim com detalhes Dona Jacinta.
— Sim inspetor, a
frase que me ficou marcada foi: “Madalena,
considere-se uma mulher morta, ouviu”. Era a voz do meu guarda noturno. Num primeiro momento me desconcertei
até que a ficha caiu. É o nosso código!
Madalena era um nome combinado que Rodrigo me chamaria em caso de perigo. A
palavra morte inserida na frase caracterizaria o grau de risco. Como pode ver o senhor, eles o torturaram e assassinaram!
— Tudo indica Dona
Jacinta que os delinquentes queriam atrai-la a voltar para casa onde seria
pressionada para entregar a combinação
do cofre forte. Rodrigo queria poupa-la
desse perigo, e os convenceu de que conseguiria
atrai-la para a capital! Ele sabia que a senhora entenderia o código, como
assim foi. Ele salvou sua vida e pagou com a dele! Cara legal.
Ela tinha entendido
tudo desde que saiu da cidadezinha. Tinha acontecido o que mais temia, e agora
esperava que a polícia pegasse os delinquentes, pistas não faltavam!
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