O
PORTA JOIAS
Sérgio Dalla Vecchia
Tão pequenina, usava como
único adorno uma simples fitinha vermelha, era a toda poderosa.
A princesa a guardava
junto aos delicados seios e não a abandonava nunca.
Todo esse poder era digno
de sua importância. Ela era a chave da caixa de joias da princesa. Enquanto todas
as outras que a realeza lhe ofertava, eram guardadas em cofre especifico, com
sentinelas a porta.
A caixa não continha apenas
as joias materiais, mas sim algo muito maior que o peso em ouro, as lembranças
e sentimentos de fatos marcantes.
Assim a chave percebia, que
a princesa estava carente e triste, quando era retirada do aconchego dos seios.
Ela pegava delicadamente a
caixa da gaveta e a pousava sobre a penteadeira. Com olhos melancólicos admirava-a
por minutos, e com coragem abria-a, usando a pequena chave para abrir os
segredos do passado.
Lá estavam vários tipos de
joias. A princesa tateava uma a uma. Parava por segundos com uma peça nas mãos,
enquanto esboçava um sorriso. Com outra os olhos brilhavam e assim as sensações
eram assimiladas junto com flashes de bons momentos.
O humor já era outro,
sorria, por vezes soltava até gritinhos.
O manuseio corria alegre
até que ela encontrou uma pulseira de ouro escovado, formada pela união de
pequenas meias esferas com um sutil detalhe em vermelho na parte convexa.
Agora a emoção era
diferente, testemunhou a chavinha.
A princesa vestiu a joia
no punho esquerdo, enquanto levava o braço ao peito e com um suspiro sussurrou:
- Que saudades!
A lembrança do baile dos
quinze anos veio imediatamente à memória. O salão principal iluminado, a valsa
era Danúbio Azul de Johann Strauss.
Ela girava nos braços do
jovem oficial da marinha, valsando sem parar pelos quatro cantos do salão.
O deleite era imenso.
Enquanto rodopiava, inclinava a cabeça para trás e observava a passagem dos
grandes lustres de cristal e os lindos afrescos do teto, como se fosse um
caleidoscópio. Tudo era encantador.
Foi o dia mais feliz de
sua vida. Estava enamorada. Acreditava ser ele o príncipe encantado.
E para marcar mais ainda
essa afinidade ele a presenteou com a tão rica pulseira, ora em seu punho.
Lágrimas escorriam pelo
alvo rosto da princesa.
Infelizmente seu grande
quer, transportou-se em grande perda.
O amor pelo herói, morto
prematuramente em batalha, a mantinha insípida à inúmeros pretendentes.
Assim o tempo passou e não
houve mais nenhum príncipe encantado.
A princesa foi coroada
Rainha e ficou conhecida na corte, como a Rainha Virgem.
Reinou brilhantemente
durante muito tempo e com a chavinha junto aos seios ainda buscava consolo na
inseparável caixa de joias.
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