Alô, pessoal!
Essa nova empreitada de literatura fantástica leva-nos a cavocar esse mundo para melhor entendermos suas facetas.
Para começar eu sugiro essa leitura. Ela é considerada fantástica não apenas pelo emprego do fantástico em sua narrativa, mas fantástica também pelo estilo, pelo uso de metáforas que precisam ser descobertas no decorrer da história.
Na internet há muitas visões deste obra, e aqui vou mostrar para vocês uma das tantas análises postadas nesse mundo virtual:
Boa leitura.
O GIGANTE ENTERRADO - do Prêmio Nobel 2017 - KAZUO ISHIGURO)
CRÍTICA E ANÁLISE
PUBLICADO EM LITERATURA POR PEDRO
ZUCCOLOTTO
Uma humilde crítica e análise sobre
um livro que me encantou.
Análise pré-leitura (sem spoilers)
Kazuo Ishiguro se mostrou um escritor
fantástico na obra O Gigante Enterrado – a primeira que eu li deste autor –
onde, com maestria, escreveu uma história envolvente que toca em temas
delicados como amor, esquecimento, tempo e perdão.
A história toma lugar em uma
Grã-Bretanha medieval, marcada por conflitos entre bretões e saxões e pela
queda do respeitável Rei Arthur. A população sofre com a exposição a diversas
ameaças – como ataques de ogros, presença de dragões e outras criaturas
fantásticas – e a uma névoa misteriosa que paira sobre toda a terra e faz as
pessoas esquecerem gradualmente as suas memórias. No meio disso tudo, há um
casal de velhinhos, Axl e Beatrice, que estão determinados a viajar para a
aldeia do filho. Porém, devido à névoa, não se lembram do rosto do filho, e
muito menos do caminho que devem tomar. Com isso, o casal acabará se envolvendo
em uma aventura muito maior do que eles poderiam imaginar.
A edição que eu li – da Companhia das
Letras – foi bem traduzida e bem confeccionada, com uma arte de capa impecável
e uma tradução fluída e confortável.
São muitas lições que podem ser
aprendidas com este livro – lições que passam longe de serem clichês que
estamos cansados de ver. Às vezes, esquecer é bom. Às vezes, tudo o que
precisamos fazer é aceitar e deixar ir, pois certas coisas são inevitáveis. E
muitas vezes, devemos deixar nosso orgulho de lado e perdoar. Certas coisas não
são importantes e não merecem ganhar tanta importância em nossas vidas. É
necessário colocar na balança na hora de brigar, de discordar, de cortar ou
manter laços, ou seja, existem coisas pelas quais simplesmente não vale a pena
se desgastar.
No final das contas, O Gigante
Enterrado é uma obra literária que pode ensinar muitas coisas aos seus
leitores. Cheio de metáforas - que não são facilmente perceptíveis -, com uma
ambientação incrível, personagens carismáticos e uma história que prende o
leitor, eu diria que é uma obra obrigatória para a formação – tanto intelectual
quanto espiritual – das pessoas.
Análise pós-leitura
Essa análise é para as pessoas que já
leram o livro. Aqui, farei algumas observações e explicarei algumas metáforas
da obra. Se você não leu, recomendo que primeiro o faça, mas sinta-se livre
para continuar.
Durante a narrativa, Ishiguro consegue
tocar em assuntos que nos fazem refletir muito sobre a visão que possuímos da
vida. Um dos conflitos existentes é o quanto o amor pode se desgastar com o
tempo. Axl e Beatrice são uma imagem perfeita desse desgaste temporal. Não
conseguem se lembrar de toda a sua trajetória juntos, e têm medo do que podem
se lembrar. Porém, ao mesmo tempo creem que, se durou tanto tempo nada poderá
destruir isso.
O cavaleiro solitário do falecido Rei
Arthur, Sir Gawain, diz ter uma missão: proteger a dragoa que produz a névoa.
Por quê? Prestando atenção aos fatos citados, é visível que a terra em que a
história se passa foi fortemente marcada pela guerra, logo, a vingança e o
revanchismo estão no coração de todos. E o pior, esses sentimentos são passados
ao longo das gerações. Arthur não queria reinar sobre tudo e todos. Ele não
almejava riqueza ou poder – como muitos de nós fazemos -, mas sim a paz. E para
conseguir isso, fez com que as pessoas se esquecessem dos fatos que as levam a
querer vingança. Será que isso não mostra que se esquecêssemos certos
acontecimentos em nossas vidas, poderíamos viver mais pacificamente? Ao mesmo
tempo é levantada a questão sobre isso ser moralmente correto ou não – afinal,
a população vive em uma ilusão -, e um conflito é travado entre Sir Gawain e
Wistan, cuja missão é eliminar essa dragoa.
Então, o barqueiro é apresentado.
Contando sua história, diz que é o responsável por selecionar através de um
questionário os casais que podem ir para uma certa ilha juntos, separando
aqueles cujo amor não é forte o suficiente. Com ele, aparece uma personagem que
o culpa por ter se separado do marido - a senhora - dizendo que o barqueiro é
um ser cruel e ardiloso. É essa mesma figura do barqueiro – não necessariamente
a mesma pessoa, mas sim outro com a mesma tarefa – que no final das contas
separa Beatrice de Axl. O curioso é que, ao longo da narrativa, o que é passado
para o leitor é que os barqueiros levavam sempre os maridos, e deixavam as
esposas para trás. Então por que o caso dos nossos protagonistas é diferente?
Beatrice passa o livro se queixando de
dores, e, quando se consulta com uma médica, percebe que está doente, embora
diga ao marido que está tudo bem. Nesse momento, fica claro que ela está
chegando ao fim de sua vida e o barqueiro é o encarregado de levá-la. O
barqueiro é a morte, que antes abandonava as esposas pois os homens iam à
guerra e, consequentemente, muitos não retornavam.
É ao mesmo tempo bonita e triste essa
trajetória. Por um lado, viveram uma vida feliz juntos – embora não consigam se
lembrar de tudo, gerando certos conflitos às vezes – mas por outro, o fim
inevitável alcançou Beatrice primeiro, deixando Axl sozinho para trás.
Simultaneamente, é uma metáfora bonita pois algum dia Axl a encontrara na ilha.
É só uma questão de tempo.
Outro detalhe que pode passar
despercebido é o título da obra. Kazuo não a nomeou desta forma à toa. No final
do livro, depois de matarem a dragoa, Wistan diz “O gigante, que antes estava
bem enterrado, agora se remexe”. O gigante enterrado em questão é justamente
tudo o que se encontrava adormecido no esquecimento: a vingança, o revanchismo,
o ódio, e por consequência, a guerra. Nunca - apesar de o mundo do livro ser
recheado de criaturas fantásticas - se tratou de um ser místico gigante, e sim
de uma metáfora.
Por fim, fica fácil concluir que O
Gigante Enterrado, além de uma bela história, é uma obra que passa um
ensinamento para a vida, transmitindo valores importantes.
Trechos que valem a pena serem citados:
“ Não é fácil sair de um lugar que você
conhece há tanto tempo. ”
“ Será que não é melhor que algumas
coisas permaneçam encobertas? “
“ Os efeitos do tempo podem ser um
grande disfarce. ”
“ Quando já não há mais tempo para
salvar, ainda há bastante tempo para se vingar. “
Nascimento: 8 de novembro de 1954 (63 anos), Nagasaki, Nagasaki (prefeitura), Japão
Cônjuge: Lorna MacDougall (desde 1986)
Outras importantes obras do autor:
Os Vestígios do Dia
Neste romance vencedor do Man Booker Prize, de 1989, e estrelado no cinema por Anthony Hopkins, o narrador-protagonista reflete sobre o papel dos mordomos na história da Inglaterra. Depois de trabalhar durante anos na mansão de um lord, ele sai em viagem relembrando momentos da trajetória do ex-patrão, que simpatizava com o nazismo, e rememora suas próprias paixões.
Neste romance vencedor do Man Booker Prize, de 1989, e estrelado no cinema por Anthony Hopkins, o narrador-protagonista reflete sobre o papel dos mordomos na história da Inglaterra. Depois de trabalhar durante anos na mansão de um lord, ele sai em viagem relembrando momentos da trajetória do ex-patrão, que simpatizava com o nazismo, e rememora suas próprias paixões.
Não me Abandone Jamais
Nesta ficção científica sutil e melancólica, Kathy relembra os anos em que viveu em um orfanato no qual todos os "alunos" eram clones, produzidos para servir como peças de reposição. Em 2010, a obra ganhou uma adaptação homônima para o cinema, que conta com Carey Mulligan e Andrew Garfield, em um de seus primeiros papeis de destaque.
Nesta ficção científica sutil e melancólica, Kathy relembra os anos em que viveu em um orfanato no qual todos os "alunos" eram clones, produzidos para servir como peças de reposição. Em 2010, a obra ganhou uma adaptação homônima para o cinema, que conta com Carey Mulligan e Andrew Garfield, em um de seus primeiros papeis de destaque.
Quando Éramos Órfãos
Usando um humor fino, o autor narra a história de um garoto inglês nascido em Xangai à procura de respostas para o sumiço dos pais, que desapareceram quando ele tinha nove anos. Em uma China que vive uma guerra sangrenta com o Japão, Christopher Banks acaba perseguindo também uma ordem para o mundo em que vive.
Usando um humor fino, o autor narra a história de um garoto inglês nascido em Xangai à procura de respostas para o sumiço dos pais, que desapareceram quando ele tinha nove anos. Em uma China que vive uma guerra sangrenta com o Japão, Christopher Banks acaba perseguindo também uma ordem para o mundo em que vive.
O Gigante Enterrado
Uma das justificativas usadas pela comissão do Nobel para a escolha de Ishiguro foi sua capacidade de se reinventar. Evenderedando pelo lado da fantasia e se aproximando de autores como George R. R. Martin e Tolkien, o romance é prova disso. Na história, os personagens precisam lidar com as indefinições do amor e uma misteriosa névoa do esquecimento.
Uma das justificativas usadas pela comissão do Nobel para a escolha de Ishiguro foi sua capacidade de se reinventar. Evenderedando pelo lado da fantasia e se aproximando de autores como George R. R. Martin e Tolkien, o romance é prova disso. Na história, os personagens precisam lidar com as indefinições do amor e uma misteriosa névoa do esquecimento.
Norturnos: Histórias de Música e Anoitecer
Afastando-se dos romances, na coleção de contos, Ishiguro se rende a narrativas leves e bem humoradas sobre instrumentistas e amantes da música, de diversas partes do mundo. E traz histórias como as do saxofonista que decide fazer uma plástica para ganhar mais reconhecimento.
Afastando-se dos romances, na coleção de contos, Ishiguro se rende a narrativas leves e bem humoradas sobre instrumentistas e amantes da música, de diversas partes do mundo. E traz histórias como as do saxofonista que decide fazer uma plástica para ganhar mais reconhecimento.
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