POR TRÁS DA CACHOEIRA - Sérgio Dalla Vecchia

Resultado de imagem para filhotes de passarinho aprendendo a voar

POR TRÁS DA CACHOEIRA
Sérgio Dalla Vecchia

Havia um ninho muito bem tramado por trás de uma volumosa queda d`água, nos sertões do Piaui. Um casal das conhecidas andorinhas do penhasco, o construíra em um pequeno nicho da parede rochosa.

Após algum tempo os ovinhos eclodiram e deles nasceram dois esfomeados filhotes. Os pais não se cansavam das idas e vindas, atravessando com destreza e malabarismos, a cortina d`água para alimentar os pequenos, que aguardavam com bicos escancarados.

Logo já estavam empenados e tentavam arriscar os primeiros voos.

Assim a natureza os lançou ao ar! Voavam ainda com a insegurança de principiantes até que, após algumas aterrissagens desajeitadas, conseguiram evoluir na qualidade dos voos.

Certo dia o par de filhotes, empolgado em novas manobras perderam-se dentro da névoa, para desespero do casal de andorinhas.

Procura daqui, acolá e nada!

Em mais uma busca o casal encontrou uma fenda bem disfarçada, na parede, escondida atrás da cortina d`água.

Com uma manobra radical à direita, penetraram velozmente fenda adentro.

Descortinaram um portal maravilhoso, feito em mármore, envolvido com trepadeiras, mostrando uma diversidade imensa de flores. Por trás apresentava-se um arco íris muito bem definido complementando as boas-vindas para o visitante encantado.

Mais uma manobra rápida e vupt, portal adentro.  Ouviram uns pios de socorro. 
Reconheceram ser os filhotes, logo os encontraram empoleirados juntinhos, em um arbusto, tremendo de medo.

A família encontrou-se com estrepolias, carinhos e pios de alegria.

Acontece que embaixo do arbusto havia um lindo tapete vermelho, trabalhado com desenhos coloridos em diversos formatos.

A família encantada pela beleza e movida pela curiosidade, pousou sobre o convidativo tapete.

Instantaneamente ele enrolou-se, envolvendo os pássaros arrancando em alta velocidade.

Algum tempo depois aterrissaram.

O lugar era composto por uma vegetação exuberante com imensas folhagens, chifres de veado, singônios, imbés, curculigos e outras tantas espécies.

O clima era úmido envolto em uma suave névoa.

A família ainda sem entender onde estavam, foi pega por uma rede fina e nela se emaranharam.

Indefesos, foram carregados por um homem muito alto. Parecia o gigante do pé de feijão.  

Após algum tempo de caminhada o gigante entrou em um castelo no alto de uma colina. Lá chegando, transferiu os pássaros para um enorme viveiro.

Qual foi o espanto, quando perceberam que dentro daquele viveiro existiam outros tantos pássaros. Canários da terra, bem-te-vis, sabiás, coleirinhas, pica-paus e outros pulavam de galho em galho alvoroçados pela chegada dos novatos.

Foram se conhecendo e logo estavam ambientados.

Pela conversa, descobriam que o filho do gigante é quem gostava de passarinhos, e todos estavam aprisionados para alegrá-lo. Ele sofria de uma doença rara que o impedia de sorrir. Era só tristeza.

A andorinha mãe não se conformou pela situação de sua família e com a doença do pequeno gigante.

Reuniu as outras mães e após confabularem arquitetaram o seguinte plano para curar o meninão.

Assim com uma linguagem mista de mímica, piruetas e pios, convenceram o gigante a solta-los para que fizessem cócegas no gigantinho.

Foi um sucesso, os passarinhos bicavam levemente e roçavam as garrinhas nos braços, na barriga, nos cabelos, acariciando todo o corpo. O meninão não se aguentava de tanto rir.

Foram repetindo a dose por dias seguidos.

Quando perceberam que tinham liberdade total no Castelo e o gigantinho feliz da vida, executaram a segunda etapa do plano. Fuga em massa!

Na hora marcada, a passarada se preparou, e Zaz!

Debandaram todos sem olhar para trás.

Da janela, o gigante junto ao filho, apreciava aquela revoada colorida.

Ele tinha poderes para aniquilar todos os fujões, mas olhando para o filho, recebeu um largo sorriso que mudou seu pensamento.

O menino estava curado!  

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