SE VOCÊ SE ESQUECER DE MIM
Maria
Luiza Malina.
Um
dia a saudade bateu de encontro com palavras amigas. Os devaneios aparentavam um baú escancarado. A velocidade dos
pensamentos, a partir de um aperto de mão!
No
aperto de mão, jamais esquecido, a amabilidade do olhar transformou-me num
turbilhão que se limitava a sorrir. Emudeci. Estava acontecendo naquele momento
a magia da transformação do sonho de menina moça, onde um simples olhar ou afago
era transformado em namorico, noivado, casamento, filhos e toda uma vida por
viver.
Um
segundo de sonho juvenil. Nada disso aconteceu. As mãos se soltaram. Os olhares
se perpetuarem em abraços de despedidas incompreendidas. Jamais o vi.
Engraçado.
As vidas correm em paralelo umas às outras; tão próximas e tão distantes; tão
ao alcance e o mago do tempo a ludibriar. As explicações chegam como velhos
fios desgastados pelo tempo impiedoso.
Quantos fatos ruins me foram afastados -
disse Anabella ao amigo Antonio – não sei se teria a serenidade igual a sua.
Antonio se limitou ao silêncio infinito.
Respeitei o momento observando os
transeuntes da varanda do bistrô onde acontecia a exposição de seus quadros. O
frescor do vinho branco acentuava o prazer de um final de tarde. Antonio
continua imóvel. Imaginei que toda uma segunda opção se recriava em si, dentro
do chavão de “e se não tivesse sido assim”. Desviei meu pensamento. Isso era só
dele, não meu. O tempo havia sido o dono do nosso destino.
Desviei
meu olhar sucinto às telas que, agora se mostravam desnudas. A delicadeza do
vinho ajudou-me a penetrar no alvoroço das cores. Antonio continuava imóvel. A taça vazia
acompanhava os pensamentos obsoletos. Apreciei e adquiri a coleção.
Antonio
continuava perdido no azul do horizonte, que anunciava o crepuscular, com a
taça cheia. O instante acromático de Antonio selava o pseudônimo da vida e das
obras.
Assim
como uma pessoa que, de passagem entra por curiosidade para uma mostra,
despedi-me de Antonio:
— Se você se esquecer de mim lembre-se de suas
telas – nada respondeu.
Acredito
que, também quisesse que fosse assim. Nunca mais soube de Antonio. O aperto de
mão se desvaneceu no espaço. Um ciclo que foi fechado.
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