VALE
A PENA?
Silvia De Ávila
A criatura é uma pena,
coitada!
Pena é linda, leve, muito
colorida, mas é uma pena!
Tem vários olhos, não é
muito grande e no lugar dos pés tem raízes, uma pena!
Por causa dos pés
estranhos ela às vezes se enrosca toda, é de dar pena!
Enfim, Pena é uma criatura muito estranha, vive
solta pelo mundo. Morre de medo de água e muda de humor conforme o vento, por
isso detesta tempestades. Sempre que pode foge do zoológico onde mora, pousa na
roupa de alguém, nas mochilas, nas motos. sai por aí.
Outro dia, deu até pena!
Vinha uma mulher empurrando um mini buguinho com uma criança dentro. Pena,
muito curiosa, queria a todo custo ver a criança e brincar com ela. Entrava e
saía do buguinho sem parar. No começo mãe e filha ficaram encantadas com a leveza, a beleza das cores, com o colorido lindo que formava olhos estampados na penugem. Mas a criança
começou a se coçar e Pena, dissimuladamente, insistia na brincadeira.
A mãe, a duras
penas, conseguiu tirar a menina do
carrinho e tentou pegar a pena na mão. Não conseguiu, então encheu o peito com
todo o ar que conseguiu e soprou-a com toda força. A coitada, leve como uma
pena, foi parar bem longe, caindo estatelada no chão. Fingindo-se de morta,
assim ficou por instantes, tempo suficiente para a mãe ajeitar a criança no
buguinho e continuarem o passeio.
Com a brisa fresca da
tarde, Pena levantou-se, voou de novo e conseguiu alcançar o carrinho. Voava
bem pertinho, ora encostava no rosto da menina, ora roçava seu nariz, a ponto
de fazê-la espirrar seguidas vezes. A mãe abanou as mãos para que Pena voasse,
mas ela se deitou de novo, de pura pirraça. Nesta hora, já irritada com a
situação bizarra em que se encontravam e com pena da criança, a mãe , pegou
Pena pelo pé e a enfiou depressa no
bolso lateral da mochila que usava.
Seus pés se enraizaram na
telinha do bolso e Pena ficou presa. Começou então a soltar suas peninhas, foi
desmanchando-se propositadamente para chamar a atenção. Deu certo! Os outros
visitantes do zoológico logo vieram avisar a dona da mochila.
Que pena! Que judiação
que esta linda peninha está se desmantelando.
— Arrume-a, guarde-a direito,
sugeriram.
A mulher sentiu-se
ridícula, ao explicar ao pequeno grupo,
que tinha feito de propósito, que a pena era terrível, que não deixava sua
filha em paz. Tratou logo de tirá-la da mochila e dar de presente ao visitante,
que sem saber de nada, ingenuamente, saiu exibindo todo orgulhoso a linda pena
que havia ganhado.
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