Artigo 9 de julho de 1932
Sob a emoção da “revolução”,
recordando depois de
85 anos, a de 1932.
AS ARMAS
Oswaldo Romano
Sob o toque de caixa e o clamor das
cornetas, no ano de 1932, o povo paulistano empunhou os fuzis e crentes no pensamento
de liberdade, militares, operários e patrões, irmanados, marcharam rumo ao
combate.
Era grande a apreensão e, enquanto o
corpo ia avante, o pensamento permanecia no lar. Passavam-se dias longos e
indefinidos. O sol pouco acalentava e, escondido, também compartilhava da
expectativa, mantendo um clima acinzentado e invernoso.
Prevalecia aparente entusiasmo. Era
efêmero. Sabiam que distante, deixaram uma mãe, uma esposa aos prantos; e o
porquê da briga, elas não puderam entender. Era briga de irmãos. Passaram-se 85
anos; hoje vocês, operários da pátria, empunham um outro artefato muito mais
forte, muito mais nobre. Manejando suas ferramentas, têm as mais disciplinadas
armas para o combate. Combate à fome e à miséria. Com essas, podem realmente ganhar
a nova revolução industrial que vencida a crise se aproxima. Vocês lutam, quer
queiram os generais ou não, e vencedores, dedicam às glórias do seu trabalho,
suas conquistas, à família.
O grande exército de trabalhadores de
hoje deve reverenciar aqueles que, em julho de 1932, mostraram suas garras em
defesa da liberdade e muitos tombaram lutando contra a provocação e desacato,
tudo para que vocês hoje possam caminhar como uns bravos e, de cabeça erguida,
empunhar suas importantes armas.
Os paulistanos contavam com muita
vontade, mas carentes de recursos bélicos.
Não importava, a moral estava ofendida.
Houve a convocação. Eram poucas as armas. O governo requisitou do povo,
revolveres, espingardas, bazucas, de qualquer origem e tamanho
Anunciou a compra dos Estados Unidos de
dois aviões usados, forma de entusiasmar o povo.
Um coronel do exército, sensibilizado,
prometeu grande ajuda. Levaria soldados munidos de possantes metralhadoras. A
oferta entusiasmou o general Dias Lopes que, de imediato ofereceu todo suporte.
O coronel, cujo nome ficou em segredo,
juntou voluntários, todos profissionais e puseram-se ao trabalho da
organização.
Enquanto o exercito recolhia armas,
estes fabricavam enormes e barulhentas matracas.
Foram entregues no front, seu pipocar não só assustava o inimigo, como incentivava os
verdadeiros atiradores.
Na volta dos militares, no desfile pelas
ruas, os soldados foram tomados pelo avanço de mulheres alucinadas que
embaralhando palavreado aos gritos, pediam um abraço, um beijo.
Nascia o aforismo: — Falam que nem matracas.
Malandragens semelhantes aconteceram na Segunda Guerra
Mundial com criações altamente sofisticadas, como as infláveis Super Fortalezas
Voadoras, pousadas em aeroportos militares.
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