O Mínimo e o Máximo
Ises
A. Abrahamsohn.
Quando vi a bolsa dela ali na minha frente sem ninguém
por perto não resisti. Enfiei a mão bem fundo até achar a carteira. Rapidamente
meti na cintura. Ainda bem que estava com uma camiseta larga. O vestiário
estava vazio. Saí antes que a turma do vôlei chegasse do treino. Só fui olhar a
carteira mais tarde quando terminou o turno da lanchonete. Era carteira chique
de couro macio marrom. Não me interessava, era uma pena, jogaria em alguma
lixeira. Eu estava mesmo precisada da grana.
Tive sorte dessa vez. Quatrocentos e mais uns trocados. Se tenho
vergonha? Nadinha! Nenhuma! Roubo porque preciso. Só de quem tem sobrando. Até
sei o nome da dona da bolsa, Lenita. É assim que as colegas a chamam. Para essa
aí não vai fazer falta. Imagine que estava botando banca para as amigas
contando que pagou só oito mil por uma bolsa linda..a..a...a... na liquidação. Meu! É meu salário de oito
meses! Com oito mil eu faço a reforma da minha casinha lá em Paraisópolis. Os
quatrocentos de hoje já tem destino certo. Remédio para o Carlinhos que tem
asma. O remédio bom mesmo, esse não tem
no posto, só na farmácia. Já compro pra dois meses. Só aí já vão uns
duzentos. O resto vai ser pra um colchão
novo que o dele já tá meio podre e pra rum tênis que o pé cresceu. Vou fazer um joguinho na sena esta semana. Se
Deus me ajudar, um dia ganho algum, melhoro de vida e não preciso mais me
arriscar.
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