O LUTO DE ANTONIETA - Sérgio Dalla Vecchia

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O LUTO DE ANTONIETA
Sérgio Dalla Vecchia

Antonieta acordou decidida. Desceu para o escritório no andar térreo. Abriu a porta com ímpeto. As pernas bambearam, o coração disparou, quando avistou o porta-retratos sobre a sofisticada escrivaninha de ébano.

Foram casados por trinta anos e o destino os separou. Otávio falecera há apenas duas semanas.

Ela ainda frágil, pegou o porta-retratos, apertou-o junto ao peito e caiu de joelhos sobre o tapete Kilim chorando copiosamente.

Assim ficou por instantes. Reuniu forças, levantou-se, beijou a foto do casamento e a recolocou com carinho no mesmo lugar.

Sentou-se na poltrona giratória e começou a abrir as gavetas, dispostas três de cada lado da escrivaninha.

A expectativa era grande sobre o que haveria dentro de cada uma. Retirou aleatoriamente uma chave do molhe e abriu a primeira.

Nada de importante, lápis, canetas e almofada de carimbo.

Na segunda, papéis, régua, lápis coloridos e borrachas.

Assim abriu uma a uma, sempre na expectativa de encontrar algo relevante. Nada!

Faltava apenas uma gaveta.

Virou a chave, puxou devagarinho como se fosse a esperada quarta carta da quadra no pôquer.

Abriu por completo e o impacto foi grande.

Um revolver carregado, um bilhete:  

Minha querida, se o destino me levar primeiro, esse é o caminho para nos encontrarmos. Te amo!”

Antonieta perplexa pegou a arma, encostou na cabeça e um grito de desespero ecoou pelo escritório;


— Egoísta, isso jamais. Viverei por nós dois como nunca vivi!

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