TRISTEZA NA DATA MARCADA
Oswaldo
U. Lopes
(SEGUNDO colocado no I CONCURSO LITERÁRIO
DO ESCREVIVER – 2017)
Triste destino, triste vida, tristes
trópicos, Trindade. Pois é, ali estava ele, depois de longa viagem, em vez de
ir para o condomínio de luxo de Laranjeiras, estava pegando a estradinha para
Trindade.
Precisava dar às crianças algum arremedo
de férias. Desempregado há seis meses, trabalhando de freelance, mal ganhava
para pagar as contas. A sensação de ladeira abaixo não o largava fazia tempo.
Tinha brios ainda, mas também uma vontade louca de desaparecer, sumir, apagar.
Como entrara nesse beco da vida? Vai
saber! As coisas foram somando, um foi despedido aqui, outro acolá, os negócios
da firma desaparecendo, foi sentindo que chagaria sua vez, chegou.
Agora estava a caminho de uma casa na
praia, num vilarejo, no inverno, alugada apenas por uma semana, mas só valendo
os dias uteis, sem feriado no meio, chegando na segunda no fim da tarde e
saindo na sexta depois do almoço. Era o que dava para pagar. Juntava a vontade
de não ver ninguém; do jeito que estava arranjado não ia mesmo ver ninguém,
pelo menos ninguém conhecido. O circulo de amigos não frequentava Trindade nas
férias de inverno.
Esse era mais um triste da lista, só que
ele respirava aliviado, a ultima coisa que queria era topar com algum amigo
nessa situação.
A má conservação da estrada e a
buraqueira, trouxeram-no de volta ao mundo dos vivos. Ainda estava claro, mas
as árvores da beira faziam sombras e, por vezes, sentia-se meio que cego,
sobretudo quando passava do mais claro para o mais escuro.
Foi num destes claro-escuros que o vulto
cruzou sua frente vindo dentre as arvores da beira. Nem pensou em frear e
quando o fez bateu em cheio no tal vulto. O carro derrapou na poeira e ele
conseguiu frear mais adiante. Desceu do carro assustado e correu para trás na
direção onde devia estar o vulto morto ou agonizante.
E ai começou o entra no mundo do acredite
se quiser. Não tinha corpo, cadáver ou coisa que se assemelhasse. Foi olhar a
frente do carro e não encontrou nenhum risco, nada. Olhou sua mulher que estava
no banco do carona, mas ela estivera dormindo e só acordara com a freada. As
crianças no banco de traz do mesmo jeito aparentavam um susto e tanto.
Repassou mentalmente os acontecimentos.
Vira um vulto não tinha dúvida, pela agilidade parecia de um homem. Ele saíra
de entre as arvores da beira e correra para o outro lado da estrada, como que
querendo atravessar, mas visivelmente procurando o carro. Ficou pasmado, mas
resolveu seguir em frente e comentou com a família que fora um bicho, não
identificado que cruzara o caminho.
A tal casa que alugara era afastada do
vilarejo e ficava num terreno bem grande, dando frente para o mar. Era cercada,
cerca viva, menos na parte que dava para a areia. Guardara bem a descrição
porque era tudo que queria. Solidão para misógino nenhum botar defeito. Se
fosse só ele estaria ótimo, com um livro e com um caderno, não tendo esquecido
a caneta, ia ser um paraíso.
Mas, havia ela e ela não achava o
programa uma maravilha, os filhos menos ainda. Iam fazer o que? Banho de mar
gelado? E ainda por cima a história do vento. Na tal casa ventava o ano todo e
no inverno era ainda pior.
Chegaram ao vilarejo. Tudo fechado e
deserto. Apesar de terem trazido a maior parte do que precisariam, resolveram
entrar no prédio que era armazém, venda, minimercado, padaria, tudo junto.
Aproximaram-se do balcão e puxaram conversa com o dono:
─Alugou a casa do Seu Tulio? Bonita,
toda de madeira, um pouco fria e retirada. De ouvir falar sei de gente que
sumiu lá dentro.
Voltaram todos para o carro. Acharam a
casa, a porta de tela bate ritmicamente, uma janela também. Parece bem cuidada,
é de madeira, tem floreiras nas janelas que estão, porém, secas.
Sobe o alpendre com as chaves e entra na
casa, demora a voltar.
A mulher hesitante e temerosa resolve ir
atrás. Aquela tela batendo da nos nervos. A casa é térrea e bem dividida,
vestíbulo, sala grande, copa e cozinha de um lado, três quartos do outro.
Vasculha tudo e nada encontra. Nem sinal
dele. Sai de costas tentando ver algo que deixara escapar. Nada!
Vai para perto do carro. Sente-se melhor
na claridade e próxima do automóvel. Espera meia hora e nada, tudo quieto e a
maldita porta continua com sua toada rítmica.
Sente a angustia que cresce, entra no
carro, senta na direção, olha as crianças sentadas quietas. Da a partida e sai,
com os pneus cantando sem olhar para traz. Custa a crer no que esta fazendo,
mas faz e o faz como se deixasse sair de si um terror imenso e afasta-se desse
lugar lúgubre e sombrio como quem empurra a dor e fecha a porta.
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