Encontros do acaso
DOM ARTURO
Carlos Cedano
Aquele senhor parecia
ter uns setenta e poucos anos de idade e rosto sisudo, mas religiosamente, às
sete e meia da manhã entrava na lanchonete e pedia uma média e pão com manteiga
na chapa.
Eu sou um cara sociável
sempre disposto a conhecer novas pessoas e já tinha feito muitas amizades na
lanchonete, mas ficava somente meia hora, o serviço me esperava e me despedia
do dono e dos fregueses com um sonoro bom dia para todos.
Durante quase um
ano o velho senhor continuou com a mesma
rotina, até que um dia entrou um individuo desconhecido e de gestos bruscos que,
na hora de fazer o pedido, atropelou, literalmente, o velho senhor levando-o a derramar
o café. O velho senhor increpou o cara atraindo a atenção dos outros fregueses.
Aproveitei esse incidente para me aproximar do velho freguês, e o fiz sentir minha solidariedade, e a dos outro assíduos clientes matinais.
Daí para frente sua
expressão mudou e surgiu um sorriso que se fez permanente, parecia que agora se
sentia como em família. Disse-me seu nome, era meu xará! E nosso dialogo ficava
mais amigável a cada dia. Ele era engenheiro, como eu, dono de excelente
formação e experiência, agora aposentado viajava com frequência, conhecia o
Brasil todo e muitos países.
Em pouco tempo
nossa amizade transformou-se numa simpatia mutua e em alguns momentos me
transmitia afetos emanados de um pai ou que poderiam ser iguais aos do pai que
nunca tive!
Lentamente as conversas
invadiram nossas próprias histórias de vida, de minha parte com certa cautela e
resistência interna, confessei-lhe que nunca conheci meu pai porque ele foi
embora sem saber que minha mãe estava grávida. Ele ficou em silêncio por um
tempo e me perguntou:
— De onde é você xará? Em que cidade nasceu?
— Em Sertãozinho, perto de Ribeirão Preto, na Rua
Santo Antônio, uma rua muito conhecida.
Novamente ele ficou
um tempo em silêncio, levantou-se e disse:
—Xará, preciso sair para atender um assunto
imprevisto. Amanhã é sábado, mas você tomaria café da manhã comigo?
— Ok. Respondi.
No dia seguinte
cheguei na hora de sempre, havia pouca gente, mas o velho senhor já estava ali sorridente
e um pouco ansioso.
— Vamos sentar. Convidou-me ele. E, começamos
a nos servir. De repente com voz tranquila e firme o velho senhor disse:
— Ontem quando perguntei onde você tinha
nascido você me disse na Rua Santo Antônio em Sertãozinho, quase lhe perguntei
se era no número quarenta e sete.
— Eu teria respondid sim, número quarenta e
sete, Arturo.
Ambos nos
levantamos e fomos um para o outro e com os olhares fixos. O velho Arturo tirou
uma foto do bolso:
— Esta senhora é sua mãe?
— Sim! É ela mesma! Disse lhe com voz
firme. Ao tempo que lhe entreguei um envelope escrito apenas: Para Arturo. Minha mãe me pediu para entregar-lhe caso o
destino permitisse este momento.
O pai abriu o
envelope, leu e releu, chorou:
— Arturo meu filho, você é mesmo meu filho!
Todo feliz. Enquanto
eu repetia:
— Sim, meu pai! Sim, meu pai!
Ambos choramos
abraçados. As pessoas não sabiam o porquê, mas sentiram que se tratava de um
especial momento nosso. Logo eufóricos comunicamos a todos o motivo de nossa
felicidade e ambiente virou uma alegria só.
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