O congresso em Juazeiro
Fernando
Braga
Esta é uma outra história que nos contou
Zé Osvaldo, um médico amigo, bom coração, mas um gozador de primeira, que adora
aprontar com os incautos.
Há
alguns anos, fomos convidados para participar de uma reunião científica, o
congresso nordestino da especialidade, no sertão pernambucano. A bela e
progressista cidade está à beira do Rio São Francisco, tendo em frente, do
outro lado do rio, a cidade de Petrolina, no sertão baiano. O congresso foi realizado
em um magnífico hotel, no qual todos ficaram hospedados. Tudo decorria dentro
do melhor ambiente, não somente científico, como social. Nos intervalos, íamos
para um grande salão onde havia stands onde era feita exposição de materiais
cirúrgicos, aparelhagem, livros da especialidade, enfim propaganda científica das
firmas, que na realidade haviam patrocinado o congresso.
Zé
Osvaldo presente, era muito querido, amigo de todos e um dos convidados para
dar algumas aulas nos assuntos que tinha mais experiência. Colegas de quase
todos os estados do Brasil vieram prestigiar o evento e dentre eles, Happio, cirurgião
gaúcho, um bom colega, mas como muitos já haviam notado, era um conquistador,
que corria atrás de rabo de saia. Por isto,
dificilmente, convidava sua mulher para
acompanha-lo. Aqueles que já o conheciam, sabiam que ele era como uma harpia, um
falcão, uma águia que analisava tudo, sondava o ambiente, vendo
onde poderia pousar e aprisionar a sua vítima.
No salão de exposição das firmas
patrocinadoras, mulheres faziam parte
das firmas e lá estavam para darem as
devidas explicações, propagarem os seus produtos. Mas, em um determinado stand
havia uma dessas garotas, que era chilena, diferente das demais, porque era
simplesmente linda, simpática e corpo de chamar a atenção. Ninguém sabia se era
casada ou comprometida, mas o fato é que todos adoravam irem visitar aquele
stand. Ela era bem discreta e mantinha sua compostura, sabendo, é claro, que se
desse alguma bola, ficaria em maus lençóis. Seu sorriso, sua simpatia, eram
cativantes!
Zé Osvaldo, durante uma das sessões
científicas da tarde saiu um pouco para ir ao banheiro e ao observou que neste stand, onde estava a linda
representante, junto com outras colegas, estava em sua frente, conversando, jogando
seu charme, precisamente quem? O Dr. Happio, a harpia. Observando bem, percebeu
que ele não estava obtendo sucesso. Seria pelo fato de haverem outras pessoas?
As sessões da tarde se encerraram e logo
mais à noite haveria um jantar, com comemorações, discursos, prêmios, e até uma
pequena orquestra para todos dançarem, alegrar bastante o ambiente de fim de
congresso.
Todos se retiraram para seus aposentos, para
o banho, barba e vestirem-se adequadamente.
Foi então que Zé Osvaldo, com certa
maldade, planejou algo em sua cabeça. Foi até a portaria perguntar o número do
quarto do Dr. Happio. Era no andar acima do seu. Pegou uma folha em branco e
escreveu o seguinte:
Simpático e afetuoso Dr. Happio.
Realmente, usted me impressionou deveras. Tienes uma bela
charla, és listo, monito e pienso que podemos hacer uno programa mui particular
despues del baile desta noche. Será maravillosa, se tu
quieras. Bejos muchos. Silencio e muito segredo. Non hable com ninguma persona.
Solo nos dos! NHJ.
Colocou a carta dobrada por baixo da
porta do quarto de Happio, tocou a campainha e saiu em disparada, procurando
pela escada.
A noite estava linda e a temperatura
excelente. A festa foi ao ar livre e a lua já despontava no céu. Zé Osvaldo
pegou uma mesa com outros três amigos, a uns 15 metros de onde já estava
sentada a garota em questão, que já tinha a seu lado um médico, certamente
também interessado na boneca e ainda, duas outras colegas.
Zé Osvaldo contou tudo a seus amigos e
todos ficaram ansiosamente esperando pela chegada do garanhão, para ver o comportamento.
O que estaria passando pela cabeça de
Happio? Devia estar a mil! Esperando pela melhor noite de sua vida. Noite não,
Noche. Nem ele próprio, acreditava que podia ser tão charmoso, irresistível
para ter conseguido seu intuito. Nesta altura, muita gente de olho nele. Diziam:
— Safado, por isso nunca traz sua mulher.
Eis que chega o Dr Happio, todo
empinadinho, cheiroso, barba feira, com camisa azul e logo vendo a sua prenda,
foi sentar-se na mesma mesa, mas ao lado de suas colegas. O outro médico não
desgrudava de Nenli, o nome desta preciosidade.
Na mesa de oito lugares, logo vagou um
lugar do lado direto de Nenli e Happio vapt-
vupt. Todos aqueles que sabiam do caso estavam para ver o que ia acontecer.
Logo após sentar-se ao lado, procurou
chamar sua atenção passando a mão por seu braço. Ela virou-se e dirigiu algumas
palavras a ele. Após alguns instante, os
dois médicos, um de cada lado, queriam a atenção de Nenli, que se viu no meio
de um fogo cruzado. A torcida dos observadores era grande e torciam para Happio
se ferrar. Devia ele pensar:
“Ela
vai ser minha, já se declarou. Tenho que esperar apenas ela dar o fora neste
neguinho do lado.”
Quando mais uma vez passava sua mão pelo
braço da garota, o rapaz tirou-a para dançar. Saíram, deixando Happio desesperado, que se levantou
e foi à procura de uma bebida.
Zé Osvaldo vendo ele se levantar, pediu
licença aos colegas e foi em direção.
— Oi, grande Happio, gostando do
congresso? Da festa? Vamos tomar um uísque.
—Vamos, mas tenho que voltar logo para a
mesa, estou tratando de um assunto sério com o Mario Sergio, o colega que saíra
para dançar com Nenli. Não falou qual
era o assunto e saiu.
De longe todos observavam e morriam de
rir, inclusive algumas mulheres de colegas que já tinham tido conhecimento da brincadeira.
Happio voltou para a mesa e ficou
aguardando a volta dos dois, que dançaram mais de cinco músicas. Quando se
sentaram, Nenli pediu um suco e dizia-se cansada. Happio não tirava os olhos
dela, pois queria era captar uma mensagem. Afinal, ela o havia procurado e se
oferecido.
Ela conversava muito mais com Mario
Sergio. Aproximou sua perna esquerda da bela coxa de Nenli, a qual percebendo certa má intenção, retirou-a delicadamente. Nesta
altura Happio não aguentava mais e não conseguia entender. Parou com a conversa
dos dois e pediu a ela que fossem dançar. Muito delicada, ela levantou-se e
dirigiu-se ao meio do salão.
Ele já a abraçou fortemente e colocou
seu rosto no dela. Delicadamente, afastou seu rosto e disse algumas palavras a
ele como:
—Vamos devagar!
Ele,
entorpecido entendia que ela não podia naquele momento demonstrar afeição, pois
havia muita gente. Todos continuavam acompanhando de longe.
Certo momento, Happio a conduziu para um
local mais distante da pista, agarrou-a e tacou-lhe um beijo na boca. Ela
meteu-lhe um bofetão na cara e disse:
—Seu cretino, quem você pensa que sou? Só
porque você é médico, pensa que pode fazer o que quer?
Happio ficou desconcertado, parado, boquiaberto,
enquanto ela se afastava. Ficou ridículo para
ele, quando percebeu que todos haviam parado de dançar e olhavam em sua
direção!
Uma senhora, também gaúcha disse: — Vou
contar para sua mulher, seu safado. Para aquela santa, que você sempre deixa em
casa.
O caso correu de boca em boca. Aos poucos
ficaram sabendo que fora Zé Osvaldo que preparara o embuste. Happio nunca mais
falou com Zé Osvaldo, mas consta que logo após um tempo, lá estava ele sozinho
nos congressos, pronto para dar o seu bote. Não tem cura!!
Logo
vocês ouvirão outras do Zé Osvaldo....