Pau-a-Pique
Infantil
O que é pau-a- pique?
José
Vicente J. Camargo
−
Pai, o que é casa de pau-a-pique? - Pergunta o filho
−
É a que nossos tataravôs construíam quando não existia tijolo nem cimento. As
paredes eram de pau de árvores ou de taquaras de bambu entrelaçadas,
preenchidas com barro amassado. Ainda existem construções desse tipo. Uma delas
é a “Casa dos Bandeirantes”, um dia vou te levar pra conhecer. - diz o pai.
−
Mas a professora disse que é perigoso. Tem o bicho barbeiro que transmite doença.
- retruca o filho.
−
É verdade, precisa cuidado. - completa o pai.
−
Oba! Então não vou mais cortar cabelo pra não pegar doença. Não gosto daquela
maquininha me deixando careca. - grita o
menino.
−
Não, senhor! Emenda o pai. Chama barbeiro por que o inseto gosta de picar o
rosto das pessoas, no local da barba. E por falar em maquininha, to vendo que
amanhã vou te buscar na saída da escola pra irmos cortar essa juba...
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Pau-a-Pique Ecológico
José
Vicente J. de Camargo
Ele
era fã de tudo que era ecológico. Suas roupas, cama e mesa eram de fibras
naturais, confeccionadas em teares rústicos numa cooperativa dos trabalhadores
sem-terra. Nos móveis e utensílios da casa, o máximo possível de materiais
recicláveis. Alimentação só as ecológicas, nada de industrializadas ou
congeladas. Tampouco, era adepto da eletrônica de comunicação e
consequentemente das redes sociais. Carro, só usava nos fins de semana, repartido
com caronistas, nas viagens ao litoral, onde “filava” a casa de um amigo numa
praia de pescadores paradisíaca, na base da luz de lamparina, lenha pra cozinhar,
rede pra dormir e água cristalina da fonte descendo a mata fechada. Mínimo
vestígio possível de civilização.
Num
desses fins de semana, num lual na praia, à luz da fogueira aconchegante, embalado
pelos chorinhos do violeiro Tião, conhece Verinha, levada para a roda por um amigo
do amigo dele. Assim que a viu deslumbrou-se. Seu sorriso luminoso disputava
com o brilho da fogueira; seu corpo de curvas bem torneadas, com o perfil das
montanhas; seus cabelos esvoaçantes, com
as ondas crispadas ao vento. Depois de aquecer-se com uma branquinha especial, destilada
no alambique do Zé Cascudo e curtida com fruta Cambuci, aproximou-se dela e
quando ia iniciar o “nunca vi um sorriso igual, etc, etc”, ela o corta
rispidamente dizendo:
−
Já vou avisando que estou aqui por engano. Comi “gato por lebre” com esse
convite de mirar as estrelas em alto mar! Pensei que fosse de uma lancha de
dois decks e não da praia sentada na areia fria. Sou patricinha, adoro ir ao
shopping comprar roupas de grife, comer em restaurante francês e frequentar
baladas dos famosos. Detesto mato e insetos, que são coisas de índio, e tudo
que seja “pau-a-pique”, que vocês ecologistas, adoram.
Mediante
tal desconsideração pelas coisas naturais, sua paixão platônica esfriou na hora
e cedeu lugar a uma vontade de dar uma resposta à altura:
−
Que pena! De pau-a-pique gosto sim, mas agora, ao seu lado, estou é de bordão
em riste! Chega mais! Periguete das
passarelas...
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Amor em Pau-a-Pique
José
Vicente J de Camargo
Tudo
silêncio! O escuro reinava entrecortado pelo brilho faiscante dos vaga-lumes e
das estrelas cintilantes entre os buracos das telhas e dos vãos das paredes de
pau-a-pique do casebre abandonado.
−
João, aqui é perigoso! Pode ter barbeiro e a gente pegá doença de chagas que
arrebenta o coração.
−
Maria! Não sou barbeiro, portanto não sou perigoso. O coração tá arrebentando
sim, igualzinho a barriga de prenha de nove meses. Mas não é de doença não! É
de vontade mesmo...
Agarra
mais mué...
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