Histórias do Zé Osvaldo
Fernando
Braga
De todos os amigos que tenho, nenhum se
equipara, mesmo de longe a este médico, grande companheiro de jornadas, que ao
lado de suas boas características, é um sacana de primeira, que não perde as ocasiões
para gozar os outros, pelo menos os mais incautos. Gostaria de contar algumas das suas e, para
começar vou iniciar por esta, que ocorreu há cerca de dois anos.
O casamento
Ele e sua mulher foram convidados para o
casamento de Lurdinha, a filha mais velha de um casal de
amigos, em São José do Rio Preto, que ia esposar um rapaz de uma cidade próxima,
precisamente, José Bonifácio.
A festa de casamento foi realizada em
uma mansão grandiosa, apropriada para estes tipos de eventos. Os noivos, agora
já casados, foram muito ovacionados quando adentraram ao salão e daí para frente só alegria, bebidas e música. Troca de
cumprimentos entre os amigos, todos aqueles que há algum tempo não se viam,
coquetéis com canapés bem preparados, deliciosos, enfim um ambiente de
primeira, oferecido pelos pais da noiva.
Muito observador, Zé Osvaldo notou que
todos os convidados por parte do noivo, que eram de Bonifácio, sentavam-se em
uma mesa enorme, colocada próxima ao centro do salão e interessante, nenhum
usava terno e gravata, apenas camisas de manga comprida. Observou ainda que,
sentado bem no centro desta mesa estava um casal mais idoso, ele, o único com traje
completo. Pensou: “Deve ser o chefe, certamente a pessoa mais importante do
grupo”.
Não
eram os pais do noivo.
Chegou a ocasião de todos irem se servir
do buffet exposto e logo uma grande fila se formou. Zé Osvaldo se aproximou
apenas quando a fila estava menor. Na fila, ficou na frente de dois rapazes que
percebeu serem de Bonifácio, por não portarem terno.
—
Vocês são de Bonifácio, não é? - Entabulando um diálogo.
— Conheceram
lá, o Silão?
—
É claro, quem não conheceu? Era um cara ótimo! - Retrucaram.
— Me digam uma coisa, quem é aquele senhor de
gravata, sentado bem no meio da mesa grande, no centro?
—
É o Sr. Raposo, um grande fazendeiro e que já foi até prefeito, há muitos anos.
É muito querido!
Zé Osvaldo havia sido amigo de Silão, o qual
havia falecido há cerca de um ano. Nos últimos anos de sua vida tornara-se
membro atuante de uma dessas igrejas adventistas e pensava muito em fazer
caridade, ajudar o próximo. Tornou-se tão conhecido que certa ocasião recebeu
um cartão postal da Alemanha onde estava escrito no endereço - Silão - José Bonifácio, Estado de São Paulo-
Brasil. Nem o CEP constava, e... o cartão chegou em suas mãos. Isto só
acontecia com o Pelé.
Continuando. Após terminar a refeição,
olhou em direção à mesa central e lá viu sentado apenas o Raposo e sua senhora,
que apreciavam as pessoas dançando.
O que fez então o Zé Osvaldo.
Aproximou-se da mesa, sentou-se do lado esquerdo do Raposo, colocou a mão em
seu ombro e disse:
—
Você é o Raposo?
—
Sou sim, por quê?
Zé Osvaldo elevou os olhos para cima, como
agradecendo a um ente superior e concentrado, disse calmamente:
— Bem seu Raposo, o senhor não me
conhece. Sou de São Paulo e amigo dos pais da noiva.
Quero dizer que sou do centro espírita
Rodrigo Lobato, que frequento semanalmente e
sempre recebo comunicações do
além, sou um médium. Não sei se o senhor acredita nisto que vou falar, procure
entender.
— Há uns 15 dias, em uma de nossas sessões
recebi um recado de um tal de Silão, dizendo que dentro de pouco tempo eu estaria
ao lado de um senhor de Bonifácio, de nome Raposo. Nunca estive em Bonifácio e
ninguém conheço de lá. Quando cheguei a esta festa é que fiquei sabendo que o
noivo era daquela cidade. Depois vi todos vocês sentados nesta mesa. Na fila da
comida, perguntei a dois rapazes se conheciam alguém, cujo nome era Raposo e
logo me apontaram o senhor.
— Pois
bem seu Raposo, o Silão, que o senhor deve ter conhecido, disse para eu procurá-lo
e quando o encontrasse, lhe dar um abraço bem apertado e depois um beijo na testa,
representando um ato de estima e amizade. Tive contato com o Silão em uma de
nossas sessões espíritas, um encontro com o seu ectoplasma. Pena que desta vez
não psicogravou!
O homem se levantou solenemente, foi
abraçado fortemente e depois beijado na testa. Nesta altura, sua mulher ao lado, que tudo ouvira,
estava pálida, assustada, com falta de ar, se abanando fortemente.
Missão cumprida, Zé Osvaldo rapidamente se
retirou, sem olhar para trás dava voltas
pelo salão para chegar à sua mesa. Não
queria ser localizado.
Após meia hora despediu-se de todos e se
retirou, antes olhando para a mesa central onde viu o seu Raposo e sua mulher
de pé, falando, gesticulando para umas dez pessoas, que atentamente os
escutavam.
Será
que falavam sobre a mensagem espiritual?
Esta foi uma das pegadinhas do Zé
Osvaldo. Querem ouvir outras? Apenas aguardar!
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