UMA MEGERA
NA ROÇA
Carlos
Cedano
Ivanilde voltou da cidade onde trabalhou como
arrumadeira durante quatro anos, com vinte anos agora voltou por que estava com
saudades da roça e queria casar, poderia ser com um dos dois rapazes que tinha
namorado antes, Marcio ou Juvêncio. Estava indecisa e pensou:
Vou
casar com aquele que fizer nossa casa de pau-a-pique moderna e mais bonita no
prazo de dois meses. Vou falar com eles e vão aceitar, eles gostam de desafios
e eu escolherei a melhor!
Os rapazes toparam o desafio e ambos confiavam na
vitória. A novidade da disputa circulou na roça e na pequena colônia,
formaram-se dois grupos com amigos e parentes em cada lado e o clima se
assemelhava a um pleito eleitoral!
O inicio da contenda agitou a vida da vila e nos dois
grupos houve reuniões de preparação e trabalhos de mutirão para limpar o
terreno, preparar madeira para as ripas verticais e o bambu para as horizontais
e concluiriam esta fase elaborando a trama.
Ao tempo que a construção avançava a vizinhança ficava
mais envolvida e tomava partido. Vai ganhar Marcio diziam uns, vai ganhar Juvêncio
diziam outros e até formaram uma pequena
bolsa de apostas que excitou ainda mais os habitantes.
A construção continuava e agora faltava apenas aplicar
o barro e colocar janelas e portas e ainda teriam dez dias para os acabamentos
e pintura! Após o que, Ivanilde decidiria!
Num banco da praça da pequena vila dois idosos
comentavam:
—
Então Salustiano, quem acha que vai ganhar o desafio, Marcio ou Juvêncio?
— Não sei dizer
Renato, mas espero que ambos. Mas me diga, a noiva Ivanilde é a filha de seu
Teodoro da venda?
— É
ela mesma, Salustiano!
— Hum....Essa
moça sempre foi muito enjoada e pouco responsável, será que ela mudou?
Agora só faltavam dois
dias para Ivanilde visitar as casas pau-a-pique.
No dia final, num domingo,
partiu uma caravana e a primeira casa visitada foi a de Juvêncio. Ivanilde adentrou
na casa, a percorreu e sem nenhum comentário retirou-se deixando os presentes
frustrados e preocupados. Na casa de Marcio aconteceu o mesmo, as pessoas
ficaram chocadas e bravas e quando questionada Ivanilde simplesmente respondeu:
— Nenhuma das duas casas tinha banheiro nem
quarto de hospedes, onde já se viu isso? E se retirou ofendida e sem dar
explicações!
Na mesma
praça e no mesmo banco da vila, Renato perguntou:
— O que achou do que fez a Ivanilde,
Salustiano?
— Não estou surpreso, ela não mudou!
Mas estou feliz pelos rapazes.
— Não entendi.... Disse Renato.
— Você imaginou meu amigo um dos
dois casado com essa megera enjoada, a vida dele ia ser um inferno! Deus
escreve certo por linhas tortas!
Ambos
ficaram em eloquente silêncio!
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