O CÉU E SEUS MISTÉRIOS
Ledice Pereira
O grupo costumava sair sempre junto. Eram jovens, de
catorze a dezessete anos, entre meninos e meninas que, acompanhados por uma das
mães, atravessavam o centro da cidade para
pegar um ônibus que os levaria para uma festinha junina na casa de um amigo,
que se mudara para o outro lado da cidade.
Eram alegres e iam dando risada e contando casos
enquanto ganhavam as ruas.
Aos sábados tudo ficava mais vazio. Apenas pessoas
mais simples se deslocavam daqui pra acolá.
Flávio e Leonardo, os mais engraçados da turma, em
dado momento, pararam no meio de uma praça e começaram a olhar para o céu. O
resto do bando compactuou com a brincadeira e, num instante, todos levantaram a
cabeça com olhar atento .
Pessoas foram aos poucos parando, procurando o que levava
aquele grupo a olhar para o alto.
Alguns até achavam que tinham encontrado o motivo.
Poucos perceberam tratar-se de uma pilhéria. O
bando foi-se embora rindo e ainda assim algumas pessoas insistiam em permanecer
ali, tentando decifrar os mistérios incrustados nas nuvens que povoavam o
início daquela noite fria do início daquele mês de junho.
A
MISSA E O CELULAR
Ledice Pereira
Na igreja
lotada, devotos procuram concentrar-se em suas orações.
O
sacerdote ajeita o microfone e inicia o sermão do Evangelho com voz grave.
Eis que se
ouve uma marcha tocada em alto e bom som.
Todos se
entreolham procurando identificar a origem da ensurdecedora melodia.
── Alô! –
diz a jovem loira sem se importar com os olhares que a fuzilam – Agora não
posso falar, estou na missa de um ano da vovó.
Monsenhor
Guilherme, sem perder o fio da meada, com sorriso condescendente volta a fazer
a pregação enaltecendo os dons de Dona Erminda, avó de Paula, a jovem
personagem responsável pela ira dos beatos e impacientes senhores e senhoras.
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