O ÚLTIMO
DIA
Sergio Dalla Vecchia
Era um homem de brios. Conservador, cartesiano e um
pouco metódico também.
Esses adjetivos se uniam para designar Rubens como
um trabalhador responsável, dedicado ao extremo, um bom pai de família,
investidor de sucesso e um exemplo de homem a se seguir.
Ele curtia um momento muito feliz na sua relação
familiar. Já fazia cinco anos que havia concedido o divórcio a pedido da sua
esposa. Eram
inúmeras as brigas que tinham como motivo
o seu perfil de homem sério e conservador.
Rubens já se libertara do trauma e estava iniciando
um namoro com uma bela mulher. Eram velhos conhecidos na empresa em que
trabalhavam e tinham uma respeitosa afinidade. Daí surgiu a oportunidade para o
início do romance.
No seu casamento tivera dois filhos, um adolescente
e outro mais velho já cursando a
Faculdade de Direito da USP. Portanto não havia com o que se preocupar.
Apenas o adolescente era um pouco contestador, mas
nessa fase quem não é! Portanto normal.
Tudo ia bem até que num exame médico de rotina foi
detectado um tumor maligno de alta agressividade.
O médico após análise dos inúmeros exames fez um diagnóstico terrível para todos. Previu
uma sobrevida de três meses, tamanha a evolução da doença.
Rubens recebeu a notícia como uma bomba, mas não o
suficiente para derrubá-lo. Reuniu toda a família e com muita serenidade contou
o que o esperava pelos próximos meses.
Houve uma comoção total, incluindo a ex-mulher que
tanto o desprezara.
Nada mudou na vida de Rubens, continuaria
trabalhando e fazendo tudo que sempre fez até quando aguentasse.
Entretanto, passada a primeira semana ocorreu uma
revolução na cabeça do pacato Rubens. Ele se deu conta de que não tinha mais
medo de morrer! A morte já tinha data, coisa que o preocupou a vida inteira!
Por conta desse desconhecimento ele passara a vida economizando dinheiro,
prazeres, vontades e superações, apenas porque não sabia o dia do amanhã.
Com essa nova perspectiva de vida ele chamou a
ex-mulher para seu quarto, reuniu todas as suas forças, deu-lhe um ardente
beijo como início de uma transa, que acabou acontecendo para o espanto
acalorado dela.
Rubens quase desfalecido pelo esforço disse:
— Passei minha vida pensando nos outros, troquei o
prazer de seu corpo pelo incerto dia do amanhã. De que adiantou! Você me
abandonou, pois eu não pensava no presente, mas apenas no futuro. Não curti a
vida e agora sou presenteado com essa doença. Vocês continuarão consumindo o
suor do meu corpo através da herança dos meus valores materiais e exemplos e isso será minha única recompensa.
E assim, Rubens com sua nova mulher curtiram os
últimos dias de saúde, fazendo tudo o que queriam, sem pudores, sem medos,
apenas com um verdadeiro amor!
Valeu a
pena?
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