A BOLSA OU A VIDA.
Sergio Dalla
Vecchia
— Perdeu, perdeu! - Gritou o bandido para a
desprotegida moça, enquanto arrancava a sua bolsa saindo em disparada pela bela
Avenida Paulista.
Mônica era o nome de mais uma vítima de assalto a
mão armada na avenida considerada cartão postal da maior cidade do Brasil.
Foi à delegacia, prestou queixa, e ainda abalada
pelo ocorrido voltou para a avenida, onde em um dos lindos arranha céus,
trabalhava como analista financeira em um grande banco.
Chegando ao seu andar, logo foi contando a novidade
aos seus colegas começando pela recepcionista, a copeira, seus colegas mais
próximos até chegar ao chefe.
— Oi chefe! Nem conto o que me aconteceu. Fui
assaltada a uma quadra daqui e levaram minha bolsa com todos os meus pertences.
Desculpe pelo atraso, mas estou arrasada. Fico pensando nos meus documentos e
principalmente no celular. Nele tenho fotos, contatos e até alguns segredos.
Como irei reaver tudo isso?
— Acalme-se querida, - disse o amável chefe
- Infelizmente a vida é cruel em uma grande cidade.
Existem muitos tipos de assaltantes, eles fazem parte da sobrevivência!
— Não se
preocupe, eu a libero. Vá ao poupa tempo com o boletim de ocorrência e faça
novos documentos. Quanto ao celular, aproveite uma boa promoção que saiu hoje
nos jornais. Assunto resolvido, vá cuidar da sua vida!
Mônica aproveitou o resto do dia, providenciou
novos documentos e comprou um moderno celular na promoção sugerida.
No dia seguinte indo a pé para o trabalho, começou
a reparar no povo propriamente dito. Os ambulantes com muambas expostas sem
nenhum receio, os imigrantes clandestinos mostrando seus artesanatos, os
executivos engravatados com a pressa do progresso, os policiais conversando
despreocupadamente, o vendedor de bilhetes de loteria, as moças de variadas
etnias e pudores até a madame com seu importado ocupando a faixa exclusiva dos ônibus.
Tudo isso ela não via, pois não tinha tempo. O Banco não podia esperar Time is Money.
Ela começou a questionar o seu trabalho, as
operações na Bolsa de Valores, as cotações, as taxas impostas pelo Banco e a
ganancia da ciranda financeira! Começou a perceber que o ocorrido com ela não
foi nada mediante o que se passa com tanta gente. - Mas por que ela?
A resposta ficou no ar, foi um aviso que perder
a bolsa é viver, ou ao contrário, ter a bolsa é não viver?
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