São Paulo - 1946 - Ledice Pereira





São Paulo - 1946
Ledice Pereira

Naquele dia, Virginia, depois de muito relutar, aceitou acompanhar sua filha, Amélia, que queria comprar um corte de tecido para o vestido que usaria no casamento de Margarida. A cerimonia seria na Igreja da Consolação, às 17 h e a chegada próxima da primavera indicava que o tempo não ajudaria muito a escolher um modelo vaporoso.
Não gostava quando tinha que chamar o carro de aluguel para ir à cidade. Ficava louca para voltar para casa logo.
Amélia insistira com ela e prometera-lhe que tomariam um café da tarde na famosa Leiteria Pereira. Por gostar de uma famosa torrada que ali serviam,  Virginia cedeu aos apelos da única filha.
Amélia demorou-se um pouco a escolher o tecido, mas ficou  encantada com um modelo duas peças que o vendedor sugeriu. Achou prático e versátil   pois poderia usá-lo também em outras ocasiões. Tiraram as medidas para o cálculo da metragem e ela, satisfeita, mandou embrulhar. Virginia, ainda meio emburrada não deu palpite nem no modelo, nem no tecido.
Saíram da Tecelagem Francesa e foram caminhando pela Rua Direita até a confluência com a Rua São Bento. Ali, dirigiram-se à Leiteria Pereira onde se deliciaram com um chocolate quente acompanhado de torrada, geleia, queijo e frios.
Virginia até esqueceu que não gostava de sair. Sentiu-se bem, conversou muito com a filha e nem percebeu o tempo passar.
Na volta, foram até a Faculdade do Largo São Francisco onde Moacyr, seu marido, havia se formado. Entraram na Igreja de São Francisco onde havia a imagem de Santo Antônio de quem Amélia era devota.
E, após fazerem uma oração, resolveram pegar o caminho de volta.
Passaram pela Praça do Patriarca, dirigindo-se ao Largo de São Bento onde tomariam um carro de aluguel que as levaria para casa, em Santa Cecília.
Ao passar pelo Edifício Martinelli, Virginia olhou para cima. Aquele prédio sempre a impressionava. Era o mais alto que já tinha visto. E, sempre que ali passava não resistia em dar uma entradinha, ainda que pequena, para apreciar a arquitetura, o piso e os vitrais que ali existiam.
Virginia suspirou:
 ─ Acho que enquanto eu viver jamais vou ver um prédio tão alto!
Amélia sorriu.
─ Ah, mamãe, creio que ainda verá sim. Eles  estão construindo prédios cada vez com mais andares.
E ao chegar ao ponto de ônibus, Virginia, que não era de muitos afetos, depois de abraçar a filha e agradecer pela tarde maravilhosa que haviam passado, falou:
─ Você vai ser a mais bonita da festa de casamento da Margarida. Vai ofuscar até a noiva.
Para Amélia, vindo de sua mãe, esse era o maior elogio que poderia receber. E ela sorriu discretamente.




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