VOVÓ é QUEM SABE
(Uma grande mentira)
Suzana da Cunha Lima
- Soube de uma
história que vocês não vão acreditar, disse Flávio, sentando-se à mesa do
jantar, onde estavam sua mulher e filha lhe esperando para começar a refeição.
- Vocês lembram que
vovó sempre dizia que éramos descendentes de Pedro I? E a gente não dava
atenção, achando que era mais uma fantasia da vovó. . Pois bem, hoje ela
nos chamou para tomar chá juntos, todos seus netos, porque queria nos fazer uma
grande revelação. E ainda disse que ia apresentar documentos e tudo mais que
estava guardado naquele baú no quarto dela, a sete chaves. Ia provar nossa
nobre ascendência.
- E por que não nos
chamou também, quis saber a mulher dele, já invocada com a velhinha que,
apesar de oitenta e muitos, ainda era, indiscutivelmente, a chefe da família.
- Não sei e não vem
ao caso – respondeu o marido – Bom, ela nos mostrou uma foto de um homem,
garboso, certamente um nobre da corte, pelas vestimentas suntuosas, capa
de arminho, dourados e galões, estas coisas. E nos disse que era D.Gastão, um
filho ilegítimo de D.Pedro com uma nobre da corte, D.Maria Pia.
Todos sabemos que
nosso Imperador era homem fogoso e mulherengo e deve ter plantado muito
filho por aí, sem distinção de classe social. O caso da Marquesa de Santos é
célebre, porém Maria Pia era descendente de nobres, culta e viajada, e
pertencia à nobreza. Este, caso, particularmente, chama atenção porque
foi na festa de seu casamento com D.Amélia, princesa da Baviera e segunda
Imperatriz do Brasil, isso em 1829, que ele viu e se encantou com D.Maria Pia.
Vinte anos mais jovem que ele, bela e altiva, porém já casada há uns três anos
e não havia filhos nesse casamento. Foi paixão instantânea, de ambas as partes.
E dessa paixão nasceu um menino, que chamaram de D.Gastão. Maria Pia
fez seu marido acreditar que era dele, evitando o escândalo e a
separação. Tem um monte de cartas contando este caso de amor, algumas com
detalhes picantes, que D.Pedro não era homem de muitas finuras.
Bom, nosso Imperador
não podia legitimar este filho, porque seria a desgraça de Maria Pia, e mais um
motivo da oposição se voltar contra ele. Então ele concedeu a d. Ernesto,
marido de Maria Pia, o título de Conde de Batatais, vitalício e
hereditário, assegurando assim a seu filho bastardo, um título e uma renda
vitalícia também. Há documentos no baú sobre este título e também as
cartas de despedidas dos dois, pois Maria Pia, marido e o pequeno Gastão foram
tomar posse de suas terras em Batatais. E os amantes nunca mais se encontraram.
Aliás, logo depois
disso, por volta de 1931, D.Pedro resolveu abdicar em favor de seu filho, o
futuro D.Pedro II, e retornou a Portugal, para reaver o trono português, que
seu irmão Miguel tinha se apossado, o que só aconteceu em 1934 e foi o ano que
ele veio a falecer também.
Mas isso tudo é
história, o que nos interessa é seguir a trajetória de Maria Pia em Batatais.
Pelos registros da Igreja e da Maçonaria, que mantém dados muito organizados e
verídicos, alguém de nossa família (será que foi vovó?) organizou árvore genealógica
desta família até 1960. Verificou que atualmente há três ramos diretos ainda
vivos: um morando no Rio, outro em Santo André e outro em Batatais. Este último
é muito rico, fizeram dinheiro com as terras herdadas. O nosso ramo deve
derivar deste de Santo André e isso vai requerer algumas consultas aos
registros existentes. Vovó acredita que, as cartas falam por si desta
história de amor e do nascimento de Gastão, são muito reais. Além disso,
mediante os documentos todos que ela possui, cartas, certidões, escritura da
terra de Batatais etc., a gente possa requerer, ao menos, uma parte das terras,
que dizem ser muito férteis, ou o direito de usar o título. Não sei não, mas
foi bom saber que aquelas histórias da vovó são reais. A velhinha continua
porreta!
E aqui termina a
história
De Pedro e Maria Pia
E seu filho adorado
Quem quiser conteste
o fato
Que até saiu no
jornal
D. Gastão, mancebo
guapo
Foi quem se deu bem,
no final.
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