HISTÓRIA DE VENDEDOR AMBULANTE...
Oswaldo Romano
Viagens dos Caixeiros Viajantes pesam
no folclore do interior. São tantas
histórias e muitas reais que até jumentos eram valorizados depois de prestarem
serviços aos Salehs e Salins. Os seresteiros criaram contos e cantos
populares sobre eles, tornou-se raro um violeiro não compor mais de uma toada. Umas
alegres, outras tristes como a história do Georginho que precisou ficar uma
noite na cidade. George durante
o dia completou suas vendas. Alguns produtos ele tinha para pronta entrega,
outros traria na próxima estada. Foi-lhe dito que aproveitasse a noite, pois
haveria um baile ali no sítio próximo. Arrumou-se, e lá chegando postou-se de
pé junto à pista de dança, inibido, pois não conhecia ninguém.
O arrasta pé corria solto ao som da
sanfona oito-baixos, violas tinindo no brilho e no som, violões vibravam. Ele,
um vendedor ambulante, era um bom papo, mas ali sentiu-se um rejeitado. Preparava-se
para ir embora, quando entra uma bonita e perfumada mulher que lhe esbarrando
deixou cair seu molho de chaves. Gentilmente George apanhou-o e ao lhe
entregar, ficou impressionado com seus lindos traços. Mudo, os olhares se
cruzaram. Dançaram a noite toda. Inebriado, marcou um próximo encontro frente à
matriz. Quis leva-la para casa, ela não permitiu, mas aceitou sua capa porque
estava frio e garoando.
No dia marcado, nosso vendedor
ambulante esquecendo outros compromissos, lá estava ansioso esperando-a. Mas,
ela não veio! Louco, saiu a sua procura junto às lojas conhecidas, nada sabiam,
a não ser um velho que surgiu do nada e disse: — Venha comigo. Levou-o por um
caminho arenoso até o cemitério e antes de retirar-se apontou um tumulo
dizendo: Lá tem uma foto no totem com os traços da mulher que procura. George vacilou,
desconfiou, mas foi. Era ela! Ficou estático, pasmado! Olhou para o céu, cerrou
os olhos, questionou Deus! Abriu os
olhos, olhou para a cruz fixa no alto do totem, e nela viu a capa pendurada.
Coitado, depois dessa evitou voltar das vendas a noite, mesmo a cavalo.
Na
verdade o que eu queria era contar a minha
experiência como vendedor ambulante.
Quando estudante noturno aprendi
fazer perfumes com uma mulher. Ela vendia frascos desse produto próximo
do colégio. Não me lembro às claras de como consegui
“a receita”... Mas, lembro-me que descemos até o bar do Quincas, onde lhe
paguei um sanduíche e lhe ofereci um disco do irmão do Quincas, Nelson
Gonçalves. Quincas, o dono, gravava fados, Nelson... Saudades... O bar tinha um
clima agradável, melodioso.
Em poucos dias, eu produzia os
mesmos produtos. Com um assistente, assíduo da porta do bar, nos separando vendíamos
os perfumes. Ele quase sempre tocando campainhas, e oferecendo às empregadas. Meus
fregueses eram alunos e professores. Os rótulos mais vendidos: STUDENT,
TOUCH, RICH.
Mal
acreditava. Ate o diretor do colégio apreciava aquelas fragrâncias! E meu
vendedor ambulante, usando brincos, boina de pompom, chistoso na época,
facilitava o pagamento em até três vezes!
Qualquer homem arguto, militando
como vendedor ambulante pode ficar rico e chegar a dono de uma invejável estação de TV.
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