AMOR DE MENTIRA - Antonia Marchesin Gonçalves

 



AMOR DE MENTIRA

Antonia Marchesin Gonçalves

 

             Rafael, CEO de uma grande empresa multinacional, sério e muito competente, sendo bem-conceituado, solicitou para a gerente do RH que selecionasse alguém, precisava de uma ajuda no comando. Feita a seleção, após quinze dias, foi apresentado para a Mariana, que, segundo o gerente, preenchia todos os requisitos para o cargo.

             Durante o primeiro mês, Rafael se surpreendeu com a competência e presteza dela, assumindo o seu lugar e com boa vontade fazia tudo que lhes solicitavam e logo alguns meses depois tomava a frente sozinha, assim menos trabalho para ele. A partir daí, a cumplicidade profissional era evidente, tudo decidido em parceria, as responsabilidades tinham tamanha afinidade e com isso melhoravam o conceito na empresa. Sai ganhando com a aquisição, pensava Rafael.

             Com isso, passavam muitas horas juntos, até ouvia muita reclamação da esposa de que ele estava casado com a empresa e não tinha tempo para a família, gerando brigas entre o casal. Ele não se deu conta de que não era só o trabalho que o fazia ficar até tarde na empresa e sim porque gostava da companhia de Mariana. Ela, por sua vez, já percebendo que o caminho estava indo para o sentimento pessoal, começou a jogar o seu charme, tinha consciência de que ele já estava em suas mãos.

             Jogou o laço bem laçado e começaram a se encontrar fora da empresa. Sabia ela mais uma coisa, era norma de empresa a proibição de relacionamentos entre funcionários, principalmente cargos de chefia. Com isso, Rafael, já apaixonado, entrou com o pedido de divórcio, confiando na reciprocidade de sentimento por parte de Mariana. Mal sabia ele que o interesse era se tornar a CEO da empresa no lugar dele e subir na carreira mais que ele, o achando sem ambição, um banana. Era assim que o considerava.

             Montou uma estratégia para que a Diretoria do Conselho Superior ficasse sabendo que ela sofria assédio dele e se sentia pressionada. Como ele confiava nela, foi deixando tudo sob o seu controle, ela usou isso para mostrar que tinha a total competência para o cargo. Certo dia, numa reunião de diretoria, o presidente, para a surpresa de Rafael, agradeceu pelos anos de dedicação dele pela empresa e ele estava dispensado, e Mariana assumiria o seu lugar. O mundo caiu sobre ele. Saiu da sala numa total confusão mental. Esperou se recuperar e foi à sala dela pedir uma explicação. Encontrou-a arrumando suas coisas para se transferir para a sala dele, nem esperou que ele tirasse suas coisas, o olhou com o olhar não de amor como sempre, mas sim um olhar de desprezo e falou: a fila anda, querido. 

Saiu batendo a porta. 

ROMA NÃO FOI FEITA EM UM DIA - Sergio Dalla Vecchia



           


   

ROMA NÃO FOI FEITA EM UM DIA

Sergio Dalla Vecchia

 

A cliente do engenheiro contratou-o para construir uma mansão em um condomínio badalado no interior de São Paulo.

O engenheiro, feliz pelo bom contrato, com entusiasmo deu início às obras. Plantas em mãos, cronograma a cumprir e mãos à obra!

Acontece que, no decorrer da construção, a cliente, do nada, mudava a concepção do projeto. Derruba aqui, acrescenta ali, eu quero assim, sou a dona e pronto! Não me importo com seus argumentos, dizia para o engenheiro. No entanto, todas essas alterações influenciaram no cronograma, fazendo com que ele não pudesse ser cumprido como o esperado.

Mesmo assim, o resignado profissional foi levando a convivência até o limite de sua ética. Até que certo dia, ao ser cobrado pelo atraso do cronograma pelas tantas modificações, perdeu a paciência e convicto, retrucou para a cliente:

— Senhora, até Roma não foi construída em um dia e o dono da obra era nada mais nada menos do que o imperador. E a senhora, quem pensa que é?

Virou as costas e saiu deixando um enganoso bom negócio para trás.

Virão outros melhores, pensou com seus botões.

 


CIO DA POESIA - Sergio Dalla Vecchia

 



 CIO DA POESIA

(Homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade)

 

Ao ar letras flutuam

Palavras as atraem

Versos se alinham

 

Rimas encandecem

Pipocam hormônios

Estrofes   florescem

 

Fecundada a poesia

Gestação com amor

Nasce um trovador!

 

 

Sergio Dalla Vecchia