SITUAÇÃO INUSITADA -- PRIMEIRA SEMANA DE QUARENTENA - FERNANDO BRAGA




SITUAÇÃO INUSITADA
A primeira semana de quarentena

Fernando Braga




Chegando aos 85 anos, pela primeira vez na vida venho passar por esta situação diferente, virgem, inusitada!

 Uma quarentena, devido à Pandemia!

Estamos reclusos, embuçado em nossas casas, para tentarmos evitar a difusão dele, do Corona vírus, em nosso meio. Esta recessão, ultrapassará os 40 dias desta quarentena e poderá durar três ou quatro meses, dentro das melhores expectativas!

Está fazendo apenas uma semana que medidas governamentais foram expedidas, para permanecermos em nossos lares, evitando sairmos às ruas, privando-nos do convívio, contato direto com outras pessoas, com nossos próprios familiares mais íntimos, excluindo aglomerações, festas, reuniões, sem cumprimentos de mãos, abraços, beijos.  Estranho! Parece que estamos nos transportamos para a idade média, fugindo da peste bubônica, da peste negra, da varíola, febre tifoide e outras mais, epidemias da época.

Restaurantes foram fechados, shoppings, repartições governamentais ou não governamentais, clubes que frequentamos, parques, áreas de lazer, áreas comunitárias, piscinas de nosso próprio condomínio! Enfim, estamos realmente isolados!

Em nosso caso, apenas eu e minha querida esposa fazemos parte do grupo de risco. Ainda bem!

Todos, com raras exceções, a população está colaborando, seguindo as exigências que foram impostas.

Sentado na minha sala de estar, começo a meditar sobre esta situação, me vindo à mente o caso daquele paciente idoso, em estado muito grave, semicomatoso, em sororoca, que é o estado do paciente nas últimas, que apresenta respiração ruidosa, tosse com muito catarro, mostrando já, a falência pulmonar. Certamente, a maioria não passa daquela noite!

Foi quando a família desesperada e conformada, resolveu chamar o padre para lhe dar a extrema unção. O padre chegando às pressas, pediu para trazerem-lhe uma vela, para acendê-la e colocá-la nas mãos do enfermo, cruzadas sobre o peito. Enquanto aguardava começou a rezar e ungi-lo, encomendando sua alma para Deus. A vela, havia explicado e todos já sabiam, era para iluminar o caminho do desventurado para o além.

O padre já havia feito todas as rezas necessárias, mas a tal vela não chegava, não achavam uma sequer. Foi aquele desespero! Eis que surge na porta a experiente Mariazinha, empregada antiga, com um sabugo seco de milho, acesso na ponta e pergunta ao pároco:

- Isto serve?

Ele olhou, fez uma cara de inconformado, mas pegou o sabugo acesso e colocou-o entre as duas mãos do moribundo e iniciou sua última oração. Neste momento o enfermo, abriu um de seus olhos, ergueu um pouco a cabeça e disse:

— Morrendo e aprendendo! Nunca havia visto isto, em minha longa vida! Um sabugo!!? O padre, denodando a cabeça confirmou:

— Eu também não!

Todos, sem exceção, nunca viram uma quarentena como esta!

Prosseguindo, nesta semana, comportei-me muito bem. Não sai de casa, assisti a todos jornais de TV, falando sobre o vírus, agora denominado Covid-19 e da movimentada política de Brasília, com críticas pesadas ao nosso presidente que caiu na besteira, para não assustar a população, compará-la a uma gripezinha banal!

Temos assistido séries de filmes na TV, incluindo o “This is us” com mais de 30 capítulos.  O telefone não para, principalmente para Sylvia.

Tenho lido bastante, quase terminando o livro bem grosso sobre a Evolução das Espécies, de Charles Darwin, após terminar em pouco mais de um dia o livro Al Capone. Vou reler também a História dos Dez negrinhos, de Agatha Christie, cujo nome mudaram para: ” E não sobrou nenhum”, devido ao impacto racial.
 Tenho escutado muitas das minha msúsicas preferidas, entre outras, as de grandes filmes americanos bem antigos, como a Indian Love Song, com Nelson Eddy e Jeanette MacDonald, Mario Lanza cantando a magnífica With a song in my heart durante a qual, dançam os insuperáveis Fred Astaire e Cid Charisse e ainda Ray Charles cantando América the Beautiful.  Igualmente meus cantores nacionais preferidos, da velha guarda, o Silvio Caldas, Chico Alves, Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Carlos Galhardo, e aquele considerado como tendo a voz mais bela do Brasil, o Vicente Celestino (O ébrio).

Dispensamos, até o fim da recessão nossa estimada empregada Marlucci ou Mariushka, separada do russo, que a levou morar em Petropawlovisk, na Sibéria. Também, uma baiana na Sibéria!

A minha Sylvia, assumiu com extrema boa vontade a cozinha, onde já preparou alguns de meus pratos preferidos.

 Até agora, tudo bem com este idoso, na quarta e última fase da vida, há 15 anos aposentado, mas...

O mundo lá fora parou! O que está acontecendo na Itália e na Espanha é uma catástrofe Dantesca!

 Esta pandemia está começando a dizimar nações inteiras e destruindo um terço do capital disponível no planeta. Até a Alemanha já conta com a perda de um milhão de empregos! A miséria que estará surgindo neste negro horizonte é inédita! Nós, estamos bem, mas tenho pena dos velhos desamparados e sem família! Preocupa muito no Brasil a situação dos favelados e moradores de rua. Que desgraça!

Duas coisas que me assustam, uma falta de leitos nos hospitais e a perspectiva de 40 milhões de trabalhadores informais que ganham o pão de cada dia, para si e sua família, ficarem sem trabalhar. Diaristas, encanadores, motoristas de aplicativos, vendedores ambulantes, comissionados, feirantes, pipoqueiros, manicures, etc, etc, etc, sem ganho! Nestes casos os idosos deixam de ser o grupo de risco, mas sim, as crianças, adolescentes, famílias inteiras!

 Um verdadeiro “jamais vue”!

Fico triste ao ver como no Brasil, os esquerdistas ficam desperdiçando tempo com mesquinhas críticas ao presidente, ao invés de aumentarem as fileiras dos que têm em vista, o bem do pobre povo brasileiro. Causa-me asco ver o ”Lula e seus asseclas”, mais hipócritas e desavergonhados do que antes!!! 
           
Ainda vai morrer muita gente por aí!

Os nossos políticos não estão preparados para situações de crise. As ruas estão bem vazias e o número de casos ainda é bastante pequeno. O número de vagas de UTIs está aumentando. Infelizmente muitos se aproveitarão da situação, inclusive bandidos de todos os tipos, dispostos a aumentar a criminalidade.

Tudo isto, apenas nos 10 primeiros dias da quarentena. Vamos testemunhar o que virá por aí, em futuro próximo.

Em tempo: Acabei de ouvir alguém gritando de um apartamento ao lado: 

-Tirem minha mulher daqui, antes que eu cometa um desatino! Não aguento mais! Eu quero pegar o Corona vírus!!!

Figuras de Linguagem - nossa aliada





FIGURAS DE LINGUAGEM -  NOSSA ALIADA


Aproveitando a quarentena para tirar dúvidas sobre as Figuras de Linguagem

Aqui colocaremos vídeos animados que o professor Noslen gravou para o ENEM sobre Figuras de Linguagem, uma das mais importantes  ferramentas de escrita. Tudo bem fácil e claro. 
E, um vídeo com exercícios, que tal tentar?

Acompanhem:



















E ainda postamos dois videos que tratam do pleonasmo de maneira irônica e engraçada:




MINHA QUARENTENA DOMÉSTICA - Antonia Marchesin Gonçalves





MINHA QUARENTENA DOMÉSTICA
Antonia Marchesin Gonçalves



A vida sempre nos traz surpresas, nem sempre boas, por exemplo o caso desse surto corona, não gosto nem de dizer o nome.

Em todos os cinquenta anos de casada nunca convivi tanto com o meu marido, nem nas férias. A casa era o meu reduto, tudo resolvido por mim, empregados, alimentação, limpeza, filhos, escola, etc. À medida que foram casando até nos vermos sozinhos de novo, senti medo de sermos dois estranhos e que a convivência ficasse difícil. Mas não, por ele trabalhar e viajar muito, o meu reduto não estava sendo invadido.

Com essa crise atual, isolamento forçado, em que estamos obrigados, entendo que é para o bem de todos, entrei em pânico. Cheguei a pensar “agora, junta ou separa!”. 

Continuamos com a nossa rotina de acordar cedo, ele no começo não sabia onde ficar dentro de casa, ainda com a empregada zanzando pela pelas portas. Se optasse por ler o jornal na sala, ela tinha que limpar o cômodo. Se fosse para o escritório querendo trabalhar, lá vinha ela querendo limpar novamente. Ele chegou a dizer ”não tenho lugar nesta casa!”.  E eu tendo que gerenciar esse vaivém que começou a me estressar.

Resolvemos, como todos os vizinhos do prédio, dispensar a empregada por quinze dias, agora temos mais liberdade, estamos cooperando um com outro, falamos com os filhos pelo Skype, nunca assistimos tanto seriados, e apesar continuar trabalhando e tendo reuniões online, se isola no escritório e eu em outro canto.

Nas sobras do seu tempo me ajuda na cozinha, e até estamos fazendo umas comidinhas bem boas. Nem quero nem pensar no fim da quarentena. Estamos só no inicio, mas espero que o mundo e o nosso país superem rápido essa pandemia pelo bem da humanidade.  

EM VISITA AO FORMIGUEIRO - Ledice Pereira



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EM VISITA AO FORMIGUEIRO
Ledice Pereira



Naquele primeiro dia de férias que passaríamos na fazenda, ouvi mamãe gritando com alguém e fui ver do que se tratava. Encontrei-a muito brava, tentando acabar com um formigueiro que parecia estar se instalando no jardim, que ela tratava com tanto carinho quando ali estava. Quando vínhamos embora, ela recomendava à velha Helena que não deixasse de cuidar de suas plantas. Por isso estavam sempre tão bonitas.

Mas, naquele momento, estavam sendo devastadas. Enquanto gritava, mamãe jogava inseticida, passava um pano molhado cheio de sabão e as pobres formigas estavam em polvorosa. Umas tentavam escapar, subindo pelos caules, outras pareciam avisar as companheiras que chegavam para que voltassem. Por um momento, desejei com toda minha força tornar-me tão minúsculo que pudesse fazer uma excursão pelos caminhos do formigueiro.

Como que por encanto, aquele gênio apareceu e, sabendo do meu desejo, transformou-me num pequenino ser.

De repente, eu estava ali, na boca do formigueiro. As formigas passavam por mim como se eu não existisse. Iam e vinham, atarefadas. Algumas carregando pedaços de folhas maiores do que elas, em um vaivém sem fim. Fiquei ali plantado, olhando admirado para aquela colônia tão bem construída, cheia de caminhos tortuosos.

O que será que fariam com tantas folhas, eu pensava curioso. Elas eram tremendamente organizadas e depositavam as folhas num determinado local.

Fiz amizade com uma das formigas, menos disposta – digamos – a trabalhar que, me encontrando, resolveu perguntar quem eu era e o que fazia ali.

Contei-lhe da minha curiosidade e ela deve ter ido com a minha cara e achou que eu não apresentava nenhum perigo, pois prontamente explicou-me que elas não se alimentavam diretamente das folhas das plantas. O material cortado e carregado para dentro dos ninhos, seria utilizado como substrato para cultivo de um fungo específico, que serviria de alimento para toda colônia. Ficamos amigos. Ela devia ter algum cargo privilegiado e levou-me a conhecer todo o formigueiro. Como eu estava bem acompanhado fiquei tranquilo. Ninguém nos incomodou e eu pude ver aquele labirinto, cujos caminhos levavam a vários lugares. Fiquei sabendo, por exemplo, que em cada colônia de formigas há muitas rainhas que são responsáveis pela reprodução e que podem viver até 18 anos. A fecundação das formigas-rainhas ocorre durante o voo nupcial, e o macho morre logo após. Antes de colocar os ovos, as rainhas perdem suas asas.

Ela me contou que cada formiga possui uma função bem definida dentro da colônia: todas as tarefas são bem divididas entre todas elas. Em um formigueiro há as formigas que são responsáveis pela segurança, as que abrem os túneis do formigueiro e buscam alimentos e as responsáveis pelos cuidados com as larvas. O formigueiro é uma estrutura bem complexa, cheia de galerias e túneis subterrâneos que se estendem por vários metros.

Foi um passeio muito instrutivo, mas eu tinha que voltar porque minha mãe devia estar preocupada. Quando estava saindo vi um corre-corre. O formigueiro estava sendo atacado por uma substância de cheiro muito forte. Quase fui atingido também. Tentei gritar, mas minha voz saiu tão fraquinha, diferente da que tenho. Pude ver um enorme pé com botas, que quase me esmagaram e vozes distantes uma das quais parecia vir de minha mãe.

Tive muito medo. Gritei pelo gênio. Quando ele apareceu, pedi para voltar ao normal.

Mamãe estava toda paramentada, de botas e vassoura com um produto na mão e conversava com alguns homens que lhe explicavam como devia aplicá-lo.

Chamei mamãe de lado e pedi a ela que não fizesse nada antes de me ouvir.

Embora muito aborrecida, ela sentou-se ao meu lado. Falei a ela que tinha tido aula sobre como afastar formigas sem prejudicar o formigueiro.

─ Você pode usar talco ou cal espalhando perto das plantas, ou do formigueiro, ou borra do café usado que além de nutrir a terra também afasta as formigas.

─ Aprendi na escola que outra forma, um pouco mais complicada, é usar um material circular um pouco maior que a área que você  quer proteger, como baldes, sobras de cano de esgoto, entre outros. É só colocar no lugar, cortando o fundo e  a lateral para encaixar no entorno da planta ou árvore. Enterrar um pouco abaixo da terra o material circular aproximadamente 1 cm. Meu professor disse que essa barreira física é muito eficaz. Muito mais do que inseticida e esses produtos que você está usando.

Ela me olhou incrédula, me deu um beijo e disse:

─ Eu não sabia que você se interessava tanto por formigas, nem que estava aprendendo na escola. Fico orgulhosa de ver como você está crescendo e até me ensinando como devo proceder. Vou pensar seriamente no que me falou.

E foi falar com os homens, dispensando-os.

É lógico que não vou contar a ela sobre minha aventura. Até porque ela nem vai acreditar.

Pude ver aquela formiguinha tão pequena que me ensinou tanta coisa. Tive a impressão de que sorria para mim. Será que nessa altura eu estaria tendo visões?



Singela história de amor - Maria Verônica Azevedo




O Soldadinho de Chumbo | Histórias Infantis, Contos e Fábulas para ...

Inspirado no conto O Valente Soldadinho de Chumbo de Hans Christian Andersen.

       

Singela história de amor                  
Maria Verônica Azevedo


       
        Ontem foi aniversário de Emília. Logo que acordou, encontrou um pacote ao lado da sua cama. Ansiosa, abriu-o, arrancando o barbante e rasgando depressa o papel do embrulho. Intrigada, examinou a caixa colorida. Sacolejou para ver se adivinhava o que tinha dentro. Logo ouviu um protesto abafado em meio ao som de objetos se batendo.

        Embora curiosa, ficou apreensiva.

        Aguardou um instante, ainda na dúvida se deveria ou não abrir a caixa. Enfim, tomou coragem. 

        Ao tirar a tampa da caixa deu com uma coleção de bonequinhos de plástico quase todos iguaizinhos: pernas retas todas azuis, sem joelhos, quase todos com casacos amarelos apenas um com casaco vermelho. Tinham cabeças cobertas por uma cabeleira de plástico preto. Encontrou na caixa uma serie de chapéus pretos todos iguais exceto um de cor verde. Logo percebeu que dava para encaixar os chapéus perfeitamente nas cabeças. Decidiu colocar o chapéu verde no boneco de casaco vermelho. Ele seria o comandante.

        Em cima da mesa ao lado da cama estava a bonequinha Ana, que Emília tinha ganhado no ano anterior. Era a sua preferida. Nunca saía daquele lugar. Vestida de bailarina azul, ficava sempre na mesma posição na ponta dos pés com os dois braços levantados. Emília adorava brincar com ela sonhando que um dia ela mesma, Emília, seria uma grande bailarina.

        Mas naquele dia a menina não brincaria com a bonequinha, pois estava encantada com o novo presente. Pra Ana, esquecida sobre a mesa,  só restava a tristeza. Ela observava os garbosos bonequinhos novos que encantavam Emília, principalmente aquele de casaco vermelho. Logo inventou um nome para ele: seria Teófilo. Ficou prestando atenção na brincadeira, enquanto Emília toda animada se divertia com os novos bonequinhos. A menina imaginava que o bonequinho diferente era aquele que tinha protestado de dentro da caixa.

        Num dado momento ouviu a voz da mãe chamando para o jantar.

        Levantou correndo deixando os brinquedos para trás. Estabanada, não percebeu que o Teófilo caíra no chão ao lado da mesa. Ana logo se entristeceu. De onde estava, não conseguia mais ver seu querido Teófilo.

        Nisso entrou, no quarto, o gato malhado, que se esgueirou sorrateiramente pela fresta da porta deixada pela menina. 

        Curioso, logo notou a novidade. Num salto certeiro alcançou a mesa derrubando Ana no chão ao lado da mesinha.

        Aleluia! Finalmente Ana e Teófilo estavam juntos.




SOLDADINHO DE CHUMBO - HANS CHRISTIAN ANDERSEN

CONTRA O TEMPO - Oswaldo U. Lopes




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CONTRA O TEMPO
Oswaldo U. Lopes



20 horas 3 min

ÁGUIA 12 FALANDO – HELICÓPTERO DA POLÍCIA MILITAR – Aqui Águia um, dois. Major Heleno no comando. COPOM (Centro de Operações da Polícia Militar) estamos saindo de Araçoiaba com Dr. Jorge Antônio a bordo cuidado pelos paramédicos. Destino São Paulo, mas ventos laterais muito fortes na região de Jundiaí. Talvez precisemos de rumo alternativo

COPOM – Entendido Major. Nos avise de rumo alternativo.

PRONTO SOCORRO DO HC -  PSHC – Heleno aqui fala o Dr. Afonso. Não tem rumo alternativo. Você vai descer no PS, no pátio mesmo e não no heliporto. Entendido?

ÁGUIA 12 – Dr. Afonso quanto tempo? As condições de voo são muito ruins. Precisamos de alternativas, talvez o Santa Marcelina lá tem até heliporto.
PSHC – Heleno ele é nosso. Danem-se as condições...Ou você prefere Foxtrot – Oscar –Delta (FOD...)

ÁGUIA 12 – É verdade. Dr. Afonso já voou e tem até brevê para helicóptero. Agora me explica o que o Dr. Jorge Antônio estava fazendo em Araçoiaba na idade dele.

PSHC – Estava ajudando na montagem de uma unidade para controle do coronavirus. Talvez não devesse, mas estava, e você sabe que não é fácil segurar ele quando tem problema sério. Passa os paramédicos para saber as condições dele.

20 horas 8 min

ÁGUIA 12 – PARAMÉDICOS – Dr. Afonso, ele está semiconsciente, Glasgow 10, PA (pressão arterial) 80 x 60, Pulso 120, FR (frequência respiratória) 28. Discretos batimentos de asas do nariz. Fizemos uma transfusão de um frasco de O -.

PSHC – Ele é A+.

ÁGUIA 12 PARAM – Entendido Dr. Afonso, mas aqui não dá para fazer prova cruzada então vai de O – mesmo.

ÁGUIA 12 – Aqui Major Heleno. Tem um avião Gulf Matrícula Papa – Tango – Alpha – Alpha ´Charlie (PT AAC) voando muito próximo, pede à torre Marte para afastá-lo.

COPOM – Entendido Major Heleno. Será pedido.

PSHC – Não gostei dos batimentos de asa. Não deu para fazer uma TC (tomografia computadorizada) de tórax em Araçoiaba? Como estão as extremidades?

ÁGUIA 12 PARAM – Negativo Dr. Afonso, falta de aparelho. Ligeiramente azuladas. Temos a impressão de que dá para resolver sem entubar.

20 horas 15 min

ÁGUIA 12 – Aqui Major Heleno. Condições atmosféricas ruins à beça. Muitos ventos laterais. Precisamos rota alternativa

PSHC – Rota alternativa é o cacete. Já te expliquei que ele é nosso. Como você não entendeu da primeira vez vou repetir: Foxtrot – Oscar – Delta – Alpha – Sierra – Echo. Você pousa aqui,  ganha um abraço apertado de todo mundo e rezamos com você.

ÁGUIA 12 – Bem, lá vamos nós. Já baixei nesse pátio uma vez não é fácil. Ele esta limpo?

PSHC – Que nem bunda de nenê. Heleno você sabe que consegue, senão não comandaria essa aeronave. Tá fazendo doce?

ÁGUIA 12 – Você sabe que não sou disso, mas a coisa aqui em cima tá feia.

20 horas 23 min

ÁGUIA 12 – Conseguimos, Deus teve piedade. Agora precisamos voltar a Marte que deve ter mais coisa nessa noite louca.

PSHC – Deus te pague Heleno, já estamos com ele e avaliando. Nosso muito obrigado aos paramédicos também. Não sei o que faríamos sem gente como vocês.

ÁGUIA 12 – PARAM – Estamos juntos nessa luta Dr. Heleno. Dessa vez tocou a nós pessoal de saúde, ficar na linha de frente. Não vamos recuar, o custo vai ser alto como mostrou o Dr. Jorge Antônio, mas o juramento de Hipócrates vale para todos nós do corpo médico.


PRESOS DE MARÇO - Sergio Dalla Vecchia



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PRESOS DE MARÇO
Sergio Dalla Vecchia




Raça humana, tão frágil espiritualmente no universo, que um insignificante vírus causou o caos no mundo.

Instalou-se a pandemia!

Contraído por povos desprovidos de instrução, mas ricos em tradições de guerras e fome, que por necessidade aprenderam a comer de tudo. Proteínas de insetos, cobras, lagartos e tantos outros animais silvestres, que há milênios fazem parte da dieta desta civilização.

O corona vírus, morava em harmonia com seu hospedeiro, um animal silvestre.
Conviviam bem, um não incomodava ao outro, a natureza lhes proporcionava prazer naquele habitat.

Tudo ia bem até que chegou o homem, e numa abocanhada, arrasou com o lar perfeito do passivo corona.

Assim desabrigado, sem fonte de alimento, o infeliz instalou-se no pior animal que existe na natureza. Conquistador, cruel e sempre em guerra por poder. O homem!

As células do atual hospedeiro eram tóxicas. Nada ofereciam de nutritivo ao minúsculo ser. Não havia a candidez da selva.

Por necessidade, o corona começou a ingerir toxinas que lhe fizeram muito mal, e numa reação de defesa, injetou na corrente sanguínea do homem, seus dejetos.

Tal feito, causou uma reação alérgica violenta nas entranhas pulmonares, que o homem não conseguiu mais respirar normalmente.

Começou a morrer.

O feitiço virou contra o feiticeiro!

Impasse formado, o homem querendo sobreviver e o infeliz corona também.
Os dois lutando bravamente pela vida.

Enquanto isso, nós, os presos de março, confinados, apenas observamos a contenda.

Entretanto o calor da disputa produziu efeitos inesperados, aos quais o homem nunca levou a sério. Céu, mar e almas foram purificados, apenas porque o homem parou de atacar a natureza.

Águas tornaram-se transparentes, as estrelas mais brilhantes do que nunca e as almas purificadas pela união das famílias e o valor à vida.

Muitos tombarão, mártires do descaso dos governantes mundiais, que desperdiçaram milhões de dólares em armamentos bélicos em detrimento de investimentos no combate as epidemias.

A natureza saberá compensar qualquer que seja o resultado.

Tenho fé que os mártires dessa pandemia, não tenham sucumbido em vão, pois certamente haverá  uma nova mentalidade mundial sobre o conceito de vida.


Cotidiano Alterado? - Maria Verônica Azevedo


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Cotidiano Alterado?
Maria Verônica Azevedo


         Em tempos de Corona Vírus, todo cuidado é pouco. Meu marido e eu como idosos que somos, estamos ilhados em casa longe da família e principalmente dos netos. Tempos muito duros estes em que vivemos.  Deixamos nosso apartamento em São Paulo em busca de mais segurança em matéria de saúde. Estamos em nossa casa de férias no Vale do Paraíba.

         Tudo nos preocupa, principalmente o abastecimento da geladeira e do armário de mantimentos. Precisávamos ir ao supermercado. Assim, saímos os dois de carro rumo ao Pão de Açúcar.

         Estávamos tensos, pois não sabíamos o que encontraríamos por lá... talvez um monte de pessoas apressadas em pânico com medo de ficar sem ter o que comer.

         Minha filha, como profissional da área de saúde que é, havia me alertado que meu marido tem o pulmão vulnerável e deveria permanecer em isolamento em casa.

         Mas, ele não se convenceu. Fez questão de ir comigo.

         Conclui que precisava ser rápida na atividade. Com uma lista em mãos, o plano era eu entrar na loja e fazer as comprar a jato para ficar o menos tempo possível lá dentro enquanto meu marido ficaria fora da loja me esperando para colocar as compras no porta-malas.

         Levei uma cesta grande para agilizar, pois assim não teria que embalar os produtos.

         A minha aflição já estava instalada antes de sair de casa. Adrenalina a mil.

         Quando chegamos na frente da loja a primeira surpresa. Havia um funcionário desinfetando os carrinho com álcool gel. Esperei uns instantes impaciente preocupada com a pressa na minha cabeça.

         Peguei o carrinho, afobada, sem nem mesmo agradecer direito ao moço.

         Com a lista na mão corria empurrando o carrinho pelos corredores entre as gôndolas, pegando as mercadorias na maior afobação.

         Dei um encontrão com a pilha de laranjas que se espalharam pelo chão. Nem ao menos olhei para trás.  Segui em frente. Fui catando frutas a esmo sem nem pensar direito. O carrinho foi ficando cheio e confuso.

         Continuei pelos corredores em busca de algo para substituir o pão que eu não iria mais buscar na padaria de manhã. Sem a menor noção de onde estaria tal mercadoria, corria a esmo entre os corredores empurrando o carrinho. Então notei que alguém me seguia chamando em voz alterada:

         — Senhora, espere! Posso ajudar?

         Ao olhar para trás para atender o tal chamado, dei de encontro com uma pilha de latas de leite em pó. Era lata rolando pra todo lado. Dois outros clientes com seus carrinhos começaram a gritar por socorro.  

         Foi quando surgiram dois seguranças ao meu lado. Um me tirou o carrinho das mãos e o outro perguntou pela minha lista de compras. Assustada e muito nervosa tentei reagir, mas foi em vão.

         Fiquei ali plantada vendo o meu carrinho se distanciar empurrado pelo rapaz. Uma moça se aproximou com um banquinho e um copo de água. Esperou que eu me sentasse e me deu o copo. Com lágrimas contidas, bebi a água. Estava com vontade de chorar, mas fiquei firme.

         Foi aí que tive a ideia de olhar para fora e vi meu marido super nervoso lá na calçada.

         Pouco depois chegou o rapaz empurrando o carrinho com minhas compras. Passou tudo no caixa, enquanto meu marido esperava próximo a porta com o cartão de crédito em mãos para pagar.

         Quando sai ele queria saber porque eu estava tão nervosa só por causa de uma comprinha no supermercado!



A PANDEMIA - Ledice Pereira





A PANDEMIA
Ledice Pereira


Estava indo tudo dentro da conformidade. Íamos levando a vida na nossa rotina quando, de repente, surgiu a notícia de que um vírus estava matando pessoas na China. Um vírus proveniente do morcego. Nossa, do morcego?

Quão distante estamos da China e do morcego!

Mas a coisa era séria. Hospitais foram lá construídos, em apenas dez dias, para receber vítimas do pavoroso e longínquo vírus.

Vivemos num mundo globalizado. Pessoas viajam diariamente de um continente a outro. E o vírus viajou.

Chegou à Itália, com uma força incontida, infectando uma enorme quantidade de gente e dizimando, principalmente, idosos numa fúria descontrolada.

Fronteiras foram fechadas com intenção de conter o avanço a outros lugares da Europa, mas a pandemia era declarada.

A equipe da saúde bastante eficiente, diga-se de passagem, aqui em nosso país movimentou-se rapidamente, tentando entender o que vinha por aí, mas o desconhecimento do vírus levou-os a estudar, estudar e estudar, além de receber orientação de quem já vinha passando pelo problema.

Decidiram orientar o isolamento. Têm sido categóricos em determinar que fiquemos em casa. Única maneira de não nos contaminarmos.

Na noite em que foi decretada a pandemia, ainda participei do ensaio do nosso coral que por sinal foi ótimo. Estávamos animados com o novo arranjo trazido pelo maestro, preparando-nos para cantar no dia do lançamento do meu terceiro livro, quando aproveitaria para comemorar minhas bodas de ouro.

Ao voltar para casa e assistir ao Jornal da meia noite, a ficha caiu.

Naquela noite, custei a dormir. Comecei a pensar que devia cancelar o evento. Não poderia colocar amigos em risco. Manhã seguinte, estava decidida. Conversei com o marido e liguei para os filhos. Estávamos todos preocupados.

O desconvite foi feito imediatamente e acolhido por todos. E, desde aquela tarde de doze de março, não mais saí de casa.

E neste nono dia de confinamento vejo que estamos apenas no início de um vendaval, desconhecido, perigoso, de proporções devastadoras. Sentimo-nos pequenos, impotentes, despreparados, ameaçados, com medo.

Mas temos que ter esperanças, força, resignação, paciência e obediência.

Os dias para mim não estão tranquilos. Optei por manter as duas diaristas na casa delas. Aliás sou de opinião que todos deveriam tentar fazer o mesmo, sem evidentemente, deixá-las sem pagamento.

Por isso, há muito que se fazer em casa. Cuidado redobrado com a higiene, lavagem mais frequente de toalhas e roupa de cama, limpeza frequente de banheiros e cozinha, além do que já é de hábito se fazer, cozinhar, ajeitar, guardar etc.

As compras, tenho recebido do filho e da nora que também estão bastante atribulados. Estão trabalhando no sistema home-office, e são requisitados quase as vinte e quatro horas do dia. Sem contar que também dispensaram a ajudante, dividindo-se nos afazeres da casa e compras.

As compras de farmácia, encomendei online e recebi estoque para três meses.

Mas sempre falta alguma coisa, além dos produtos já faltantes como álcool gel, desinfetante lysoform e máscaras para uma emergência.

Novos tempos, novos hábitos.

Escolas fechadas, comércio e lazer idem. A ordem é FICAR EM CASA.

Difícil fazer muita gente aceitar que se trata de um momento crítico. Difícil muitos entenderem que a situação é gravíssima.

Ao redor do mundo, pessoas que inicialmente eram céticas, têm nos aconselhado a permanecer em isolamento diante de uma das maiores crises da história.

As imagens mostradas da Itália são de cortar o coração. Diante disso, tentei estabelecer uma rotina. A parte da manhã até o almoço é toda dedicada à casa.

À tarde, tento ler, estudar as partituras novas enviadas pelo maestro, ver a mensagens enviadas pelos amigos, efetuar pagamentos online, tomar providências quanto a um apartamento que desalugou, tendo conseguido finalizar a juntada e envio dos documentos para o contador que fará nosso imposto de renda.

À noite, além de ver as notícias do dia, tenho assistido a programas alternativos de TV, que sirvam para nos distrair um pouco.

Amanhã, domingo, estou me programando para ouvir música no Spotify. Confesso que estou precisando. Anteontem, sem querer, sintonizei uma apresentação da Orquestra Jazz Sinfônica com solo do Francis Hime e canto da Olívia Hime. Foi lindo!

Assim, nessa barafunda de situações, tenho passado meus dias nada monótonos. Com tempo ainda para falar pelo Skype com os netos da Bahia.

Felizmente, fecharam para turistas, a entrada em Barra Grande.

Esqueci de dizer que coloquei meu celular para despertar todos os dias, às 18,00h para rezar pela paz numa corrente de fé.

Quero ter esperança de que passar por essa provação nos torne mais fortes e nos dê uma nova dimensão do que significa viver no sentido mais amplo da palavra. Dando mais valor àquilo que realmente importa, a vida e os seres humanos. O resto? Bem, o resto é o resto.