A freira - Christiane Lopes





A FREIRA
Christiane Lopes

Estação da Sé, oito horas da manhã. Lá estava eu, sonolento e um tanto quanto rabugento – como diria minha mulher. Também, não sei pra que tanta gente no mundo! Abre e fecha a porta e, de repente, me vejo ao lado de uma bolsa preta. Uma moça pergunta:

- É Sua?

Eu respondo: - Óbvio que não! Tenho cara de quem usa bolsa?

No vai e vem a moça sai e a bolsa fica. Apertada entre eu e uma senhora. 

Sem ser notada por outros, o objeto viaja sempre rumo. Já estava para descer quando lembro da freira que havia sentado ao meu lado no início da viagem. Era dela, certamente a bolsa era da freira. Como sou dado a obrigações me senti responsável por aquela bolsa e sai do metrô com ela a tiracolo. Na praça mais próxima parei e resolvi, sem antes pedir permissão a Nosso Senhor, olhar o conteúdo da bolsa para poder devolvê-la a dona. Duvidei de minha memória: Seria mesmo da freira?! Camisinha, batom vermelho, cigarros,  chiclets?  E até mesmo uma calcinha vermelha!!! Encabulado, fechei o zíper e contive minha imaginação prodigiosa. Mas uma pergunta me perseguia: Uma freira?! Lembrei que ela usava uma outra bolsa, branca com o nome de sua comunidade: Santa Terezinha. Depois de alguns desencontros e muitas Santas Edwiges, Santas Ritas e Santas Claras; encontrei a feirinha e com um sorriso cínico entreguei-lhe a bolsa. Gentilmente ela agradeceu:

- Que bom! A dona da bolsa está se recuperando em nossa clínica para viciados e vai ficar muito feliz em receber suas coisinhas! Sabe como é, essas meninas já não possuem muitas coisas na vida! O senhor é um anjo!


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