QUANDO DOIS MENINOS SE ENCONTRAM - Oswaldo Romano




QUANDO DOIS MENINOS SE ENCONTRAM
Oswaldo Romano        
                             
            A felicidade ficou estampada no primeiro e uma desconfiança hesitante no segundo. Seus rostos entreolhavam-se tentando descobrir o porquê nascia e  firmava-se ter descoberto uma nova  amizade.

            Uma nova afinidade. Parecia já estar prevista há muito tempo, apenas aguardando aquele momento. Nada de dar as mãos, nada de apresentações, nada de muito prazer. Uma afeição imediata e verdadeira. Nem nomes perguntaram, eles apareceriam depois.

            Diferente dos adultos quando se encontram, mesmo já conhecidos, entra o:

            — Como vai? E ai, tudo bem?

            Na verdade mal ouvem a resposta. Só querem falar de si, e sempre no passado.

            Não foi o que aconteceu com as duas crianças. Só pensavam nos próximos passos.

            — Vamos correr?

            — Começavam a nova amizade correndo. Mal sabiam que essa corrida os acompanharia  o resto da vida. Enfiaram-se pelos corredores, ávidos, descobrindo o incerto, mas contentes com a nova situação.

            Mesmo com o forte sopro dos ventos no rosto, mal respiravam. Estavam felizes, olhavam-se, riam já imaginando aventuras e pedindo que aqueles momentos não acabassem. Tinham muito  que  falar. Ainda não conversaram.
            — Nunca te vi. Você é da escola?

            — Ainda não. Vim ontem do interior. Cravinhos.

            — É bonito lá? Tem muita gente?

            — Não. Aqui é que tem, né? Gente estranha, não dão bola...

            — Quando crescer o que você vai ser?

            — Já sei. Vou ser astronauta. A mãe já concordou. Meu pai vai pagar as despesas. No primeiro voo, prometi levar os dois pro espaço. Muito legal!

            — E você?

            — Eu, jogador. Futebol, vou ser um craque... Ainda é cedo, estou crescendo.

            — Tenho que ir. Eu vou pra casa. Meu nome é Joãozinho e o seu?

            — Marquinho.

            Assim, foi uma amizade de irmãos por alguns anos, quando foram separados pelo destino. As casas seriam demolidas, ali nasceria um grande prédio.
            O tempo envolveu anos, e do presente ao desconhecido futuro não perdoou. Cresceram, ficaram dois homens, montaram famílias, porém nunca mais se viram. Marquinho, agora Sr. Marcos, brevetado, regressou para Cravinhos onde pilota aviões que irrigam plantações com venenos.

            Hoje, voz corrente é que o mundo é pequeno. Por um desses deslocamentos funcionais, Joãozinho, agora Dr. João, alto funcionário da Secretaria da Agricultura, foi transferido para o interior, e gostou muito quando soube ser a cidade de Cravinhos, porque dela tinha uma simpatia adquirida quando conviveu com Marquinho.

            Moral da história: O homem que é feliz com o que conquistou na vida, é um sábio.
            

Nenhum comentário:

Postar um comentário