CRONICA
Maria
Luiza de Camargo Malina
Como
um passarinho molhado pela chuva, todo franzino e recostado... la estava aquela
mulher de uns 50 anos mais ou menos, recostada a uma gorda e negra enfermeira,
sua acompanhante que, de vez em quando em silencio, lançava os olhos ternos
para sua paciente que tentava puxar uma prosa mostrando um esforçado sorriso.
com uma criança parda de chupeta na boca com seus 5 anos, que pouca importância
lhe dava remexendo cabeça um lado para o
outro.
Virava-se
para sua acompanhante que retirava receitas e mais receitas da bolsa e lhe
explicava algo, era um monologo, pois em seguida seu olhar vago a protegia de
qualquer responsabilidade.
Seus
traços estrangeiros denotavam que deveria ter sido uma bela moca, cabelos
esbranquiçados, longos ao ombro, penteados ao meio, as macas do rosto salientes
e algum problema renal, talvez, tornavam seus olhos mais puxados pelo inchaço,
o aspecto doentio refletia em toda sua falta de brilho na pele manchada e nos
lábios descorados.
A
roupa preta parecia que a recolhia a uma intimidade dos seus pensamentos mais
sombrios e longínquos, num olhar sem transparência, parado junto a um tempo que
não mais existia.
O
que teria acontecido com ela, teria uma família? Teria esquecido sua alma no
pais em que nasceu? Quis aproximar-me dela para conversar e com isto mudar, por
instantes, seus pensamentos, mas neste dado momento, o medico cita meu nome e devo entrar para a
consulta.
Com
o pensamento preso a esta mulher tão sofrida, entrei sorrindo e nem me lembrava
mais do meu problema – ah! Sim! Uma verruga no peito que deveria ser
cauterizada...
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