MÃOS
QUE FALAM
Oswaldo
Romano
Como é bom ser visitado pela pequena
neta. Fiquei emocionado e surpreso com o motivo da sua visita. Estava ansiosa
para dizer-me alguma coisa. Percebi, mas propositadamente esquivei-me, ou
melhor, fugia da sua iniciativa.
Fazia isso disfarçadamente, não deixava
ela perceber. Por bom tempo consegui desviá-la, sem magoá-la. Ao contrario,
todas às vezes lhe oferecia algo como, um docinho que estavam servindo, um
refrigerante, moedas para seu porquinho...
Ai veio a explosão:
— Para, Vôooo!!! Para!!!, Não vê que
quero falar? O senhor não deixa, como diz minha mãe: Não da espaço...
— Óhooo... Desculpe filha. Adoro ver
você falar. Senta aqui no meu colo. Você fala, depois eu falo.
— Então vô... Tá na bolsa da mamãe...
— Já sei. Um montão de dinheiro...
— Vôooo deixe eu falar! Agora o senhor
só escuta, tá?
— Na bolsa da mamãe tem um convite para
o senhor. Não fale vô... Já ia falar se era de casamento?... Escuta vô, é o seguinte: Eu vou apresentar no teatro
uma dança. Vou dançar fazendo muitos movimentos com as mãos... Ééé... Espere ai...
Mãee, mãaanhe. Como é mesmo o que vou fazer?
— A dança das mãos, filha.
— Então vô. A dança das mãos. O vô vai
assistir?
— Claro filha! A dança é maravilhosa!
As mãos dançam. Um lindo vestido branco, uma saia curta, rodada, a música de
fundo, a ponta dos pés juntinhos, linda como você é, vão aplaudi-la de pé.
— De pé... vô!
— É, pelo menos eu.
Esmere bem as mãos, trate-as com
delicado pó e certamente você vai abafar qualquer Eurípides que se aproxime.
— O Eurípedes é perigoso vô?
— Que nada! Gostava muito de mãos, mas
as da Eurídice. Morreu ha mais de mil anos antes do Brasil ser descoberto.
— Coitado!! ...Você vai mesmo, vô?
— Só se você me jogar uns beijinhos.
— Tá.
Mãaaanhee. O vô, vai!
Nenhum comentário:
Postar um comentário